Útero 12
Estamos no município de Mendes, interior do Estado do Rio. À nossa frente o imponente Túnel 12. Estou de pé, com os braços cruzados, entre os trilhos que saem do orifício na montanha como se fossem estes uma língua, e eu olhando para ele, olhando para aquela boca. Boca, pelo fato de ele muito falar. Este túnel fala – com sua voz que é o silêncio da brisa quase imperceptível que sopra; com as vozes dos fantasmas daqueles que trabalharam em sua construção; com o grito da locomotiva que vem poluir e enfeitar o nosso pequeno bairro, Humberto Antunes. Mas às vezes penso nele não como uma boca, mas como uma vagina. Dali nasceu nossa cidade. Dali nasceu a nossa quota de projeto de Brasil.
Saibam: o Túnel 12 ostentou por muito tempo o posto de maior túnel ferroviário do mundo.
Fico pensando na época, logo após sua inauguração, quando Dom Pedro II o atravessou a pé, quase três quilômetros montanha a dentro, vindo do município de Engenheiro Paulo de Frontin em direção a Mendes.
Eu estive conversando com meus amigos sobre um plano meu, que é fazer do Túnel 12 um ponto turístico. Faríamos incursões a pé pelo seu interior – como fez Dom Pedro II. Os turistas usariam capacetes com lanternas. Eu, como guia, os levaria até o útero da minha terra, a matriz de quase toda alma que habita este lugarejo: a minha gênese escura e úmida – é úmido lá dentro.
Mas há um problema. E quanto aos trens? Pediríamos à empresa que hoje é proprietária de toda a rede ferroviária para dar um intervalo com os trens? Ou teríamos um turismo de aventura, fazendo do risco do atropelamento por uma locomotiva um ingrediente a mais para animar os turistas? Como um monte de espermatozóides entrando em uma vagina sem camisinha.
O Túnel 12 é o meu elo místico com o que eu poderia chamar de amor.