O Consultor, click.
O Consultor, click.
Esse é um texto sério. Se está aqui camuflado na seção “contos” é por motivos de força maior, que o leitor ou leitora irão entender, no decorrer do mesmo. Existem vários Consultores, do naipe aqui apresentado, atuando simultaneamente nas mais diversas regiões do globo. São extremamente discretos e eficazes, possuem permissão para atuar magicamente, caso seja necessário, não visam absolutamente nada para si e eis aí o porque da permissão que lhes é concedida, permissão essa que significa conhecerem o uso e a aplicação de certas leis, por assim dizer cósmicas, onde nós, no nosso desconhecimento, chamamos de mágicas. Mesmo assim o Consultor, por outro lado, necessita da ajuda de simples mortais, às vezes em tarefas como esta, e, segundo soube, ele passa anos avaliando a capacidade de servir do eventual escolhido.
Esse relato, sendo esta é a sua real definição, um relato, refere-se a passagem do presidente norte americano George W. Bush na Cidade de São Paulo, no ano de 2007. O Quarto Poder encarregou-se de desfiar sua ladainha sobre o porque do notório chefe de estado em terras brasileiras.
O Consultor pediu-me que agora revelasse o fato: o presidente Bush veio encontrar-se com ele. Primeiro, porque ele é brasileiro e, por desígnio estabelecido, só atua no seu pais de origem. Outro dado de suma importância para a compreensão desse texto: o Consultor só trata com primeiro escalão, visto ser também parte de um esquema hierárquico altamente evoluído e regido por noções extremamente objetivas. Na visão da hierarquia a qual pertence o Consultor, a energia tem de ser sempre muito bem focada. Não há tempo para desperdiçar, sobretudo nesta etapa evolutiva do planeta. Segundo, em virtude do sistema Exilon. Esse sistema, concebido e desenvolvido em parceria pelos paises do famigerado Primeiro Mundo, deu seus primeiros passos no final da década de 50 e hoje, apesar de sofisticadíssimo, tem suas limitações em paises menos desenvolvidos. Isso porque o Exilon é um sistema de monitoramento mundial, insuflando-se em todas mídias e ou meios de comunicação: telefonia fixa e celular, internet, radio, televisão, palavra escrita, etc...e através de decodificadores, malhas de satélite e receptadores o Exilon pretende ser “o olho que tudo vê”. Desconhecido do grande publico, omitido pela grande mídia, ele de fato não só existe como atua, sendo seu único porem que, no Brasil, ainda existem brechas. E para Bush isso é vital. Para o Consultor não.
Segue trecho da conversa telefônica entre os dois, separados por 3 quadras de distancia, na Chácara Santo Antonio, bairro da zona sul de São Paulo.
- Sim, senhor presidente, mas acho que estamos nesse tema há bastante tempo, não? O senhor ainda não se convenceu?
Bush suspirou. Disse que achava difícil recuar agora, que ano que vem seria pior...
- Minha família corre algum perigo?
- Sua família, senhor presidente? O mundo corre perigo! Senhor presidente, estamos há muito tempo nessa ligação e pelo visto não chegaremos a lugar nenhum, mais uma vez, o que é uma pena. Não, engano seu. Nós não exigimos, nós sugerimos o bom senso. O senhor bem o sabe. E para o bem de todos. Qual citação? Ah o senhor vai usá-la, ótimo, sim, quer dizer não, não é do Primeiro Ministro canadense, é de um autor...Aqui vai: “Diante das perspectivas terríveis que se abrem à humanidade, percebemos melhor ainda que a paz é o único combate que vale a pena ser levado. Não se trata mais de uma oração, mas de uma ordem que deve erguer-se dos povos até os governos, a ordem de escolher definitivamente entre o inferno e a razão” .Albert Camus, em editorial do jornal “Combat”, de 8 de agosto de 1945. Sim, ele já faleceu.
Depois de um breve silêncio W. Bush volta à carga, e o Consultor retruca com a mesma modulação:
- Retire suas tropas de lá, o quanto antes. Veja, realmente eu tenho que desligar, sei que já falamos disso antes e compreendo que a carga de informação sobre si é tão grande que certas coisas escapam. Então vamos enumerar, para facilitar sua assimilação:
1. Retire dois terços de suas tropes de lá, imediatamente.
2. O contingente que por lá permancer tem de ser dividido para duas tarefas básicas: reconstruir o que vocês destruíram e manter a paz.
3. Os 2 terços saídos de lá o senhor envia para a África. Nem a do norte, nem a do sul, a do meio. Depois, por favor, mande eles trocarem de roupa, Bermudas e tenis. Não, não sei qual a marca, os mais confortáveis, decerto. Ah, e para os caras que ficarem guardando o acampamento e o galpão….Pra que galpão? Para voces guardarem as armas lá, ora, faça-me o favor, eu sei que voces não vão jogá-las fora…
Nesse trecho o Consultor saiu da linguagem das mesuras. O tempo urgia. Havia outra ligação a ser atendida, de outro presidente, na opinião do Consultor mais importante que o presente interlocutor.
…atenção – retoma ele – para os caras que ficarem de guarda no galpão, sandálias, tsk, tsk…para todo mundo ficar confortável, homem! O conforto gera uma vibração de bem estar, cada ser é um receptáculo energético emissor, imagine várias energias vibrando bem estar? Não imagina? Ok, vamos concluir. Para o resto da rapaziada, nada de mochilas de 60 quilos cheias de granadas, e sim alimentos, medicamentos, brinquedos... e a indumentária da rapaziada, isso é vital: Bermudas e camisetas brancas, roupa branca fala por si, sim os tennis que voce escolher, ok, tropas, voce adora esse termo, não? Posso continuar? Entao, seguindo os princípios sugeridos, vão andar de vilarejo em vilarejo, distribuido o conteúdo das mochilas, não, não, o nome do jogo é: eu te ouvi, agora você me ouve. Quero médicos nessas tropas, e muitos, das mais diversas áreas, assim como nutricionistas, terapeutas, inclusive holisticos, engenheiros civis e engenheiros de sub-solo, agrônomos…deu para entender? Uma ótima noite para o senhor também, senhor presidente, realmente agora preciso atender outra ligação. Adeus.
Com um olhar, o Consultor pediu-me que trouxesse um copo de água. Antes que eu voltasse ele já exclamava ao telefone:
- Boa noite, Vossa Excelência, presidente Luis Ignacio Lula da Silva, imenso prazer em ouvi-lo. Sim excelência, fico muito agradecido pelo fato do senhor estar me ligando, bem sei os problemas que tens e sua boa vontade em resolve-los. De fato, deve ser dificilimo. Vossa excelência bem sabe que sou apenas um mensageiro, e sei que ao longo de nossa convivência já tratamos de vários assuntos, mas este, reitero, é de suma importância: bandeira vermelha não dá! Questão de clima, se me faço entender. E de identidade. Bandeira, desta e nesta patria, excelência, é verde e amarela, ontem, hoje e sempre. E além de Ordem e Progresso, tem que constar a palavra Amor. Não, a idéia não é minha Vossa Excelência, antes fosse. Foi um desejo ardente do Marechal Rondon, que tentou com afinco que essa palavra estivesse estampada em nossa bandeira. Palavra tem poder, Vossa Excelência….não sei porque não incluíram, dizem que foi culpa de um alfaiate, mas não posso afirmar…O senhor promete pensar no assunto? Muito obrigado por sua disposição em me atender. Uma boa noite para o senhor também.
O Consultor tomou a água, disse que se sentia cansado e iria repousar.
Pediu-me que desligasse o gravador antes de sair. E quando desliguei, fez click.