Por Acaso é no Brasil?...

Depois de quase três meses, dona Maria foi enfim, consultado por um clínico geral no posto de saúde perto de sua casa, de um problema nas juntas do seu joelho que a estava incomodando a muito tempo. A consulta não tardara cinco minutos e o médico sob o vício dos outros, sem olhar direito nos olhos, sem tomar o pulso, sem ouvir o coração ou qualquer outro zelo que todo médico profissional e humano deve ter, foi logo prescrevendo a medicação. Porém aquela sofrida senhora, relutou:

_ Mas doutor, o senhor sequer me examinou e já prescreveu a medicação!

_ Ora, senhora, não venha ensinar-me o ofício, pelo que a senhora disse, o seu caso não é aqui, engraçado senhor, a gente paga impostos, vota em tanta gente, cumpre as leis, trabalha de sol-a-sol, ganha um salário miserável e quando a gente adoece, o que a gente recebe como cidadão é esse belo trato.

Vencido o médico emudeceu e foi embora. Aquela senhora saiu do posto de saúde pra casa, muito chateada e sem um diagnóstico preciso.

Novamente, o seu marido, com o encaminhamento do médico, pacientemente foi marcar uma consulta no posto e após quatro meses aquela senhora foi recebida por outro médico, que embora sofresse dos mesmos vícios do anterior, pelo menos a ouvia antes de prescrever algo. E dessa forma, encaminhou dona Maria a um ortopedista.

Após dois meses e meio depois de gramar na fila a espera de uma ficha, o senhor Raimundo conseguiu vaga numa terça-feira para o médico do SUS.

No dia marcado ás duas da tarde, dona Maria e seu Raimundo eram o quinto da fila de consulta, quando o médico chegou, ás 16:08h para ser mais exato. Atendia os pacientes numa velocidade de impressionar o melhor corredor de fórmula um que dona Maria, antes mesmo de ser atendida, já almejava até ir embora quando chegou a sua vez. Imaginando como seria atendida, ela foi surpreendida com uma atenção razoável, pois outra vez o médico a ouviu. E ela felizmente, pode expor o seu problema.O médico solicitou exames, radiografias do joelho e prescreveu medicações paliativas às dores, nada muito além dos famoso cinco minutos.

Com tudo, ela saíra mais contente e o seu Raimundo mais aliviado.

Os exames foram novas odisséias, mas após um mês ela os efetivou e por fim, bateu as radiografias, tomografias no mês seguinte.

Um ano e dois meses certos, dona Maria voltou ao senhor doutor, cujo nome, nos meus escritos devem ser ignorados, pois que ele, como os outros desta linha nem é digno de ser lembrado como médico civilizado.

Depois de uma espera de cinqüenta minutos, o médico, enfim atende o primeiro paciente e após trinta minutos atende dona Maria, que era a última naquele dia.

Já sem lembrar direito do caso, indiretamente avisou a sua recepcionista que tinha operação no hospital geral, talvez dando a entender que o seu tempo era curtíssimo.

Dona Maria, brasileira, humilde ouviu o apelo do médico, entrou e assentou-se com a ajuda de duas muletas, na cadeira diante do doutor, que após verificar a ficha da paciente disse:

- Mostre-me os seus exames.

E ela calada o entregou 3 envelopes, um com os exames de sangue, urina, fezes; outro com a tomografia e outro com a radiografia dos joelhos.

Num instante de silêncio, o médico examinando os exames de rotina olhou o seu relógio, examinando a tomografia, pôs os óculos e ao pegar a radiografia foi sórdido demais.

- Dona Maria, a senhora vai morrer, se não morrer vai ficar de cadeira de rodas para sempre.

Em susto dona Maria, quase não retorna empasmedecida, não sabia o que dizer, a boca tremia, os olhos sangravam e o médico, como se não bastasse tal grosseria, tocou-lhe sem saber, ainda mais na ferida, dizendo:

- A senhora tem filhos?

Em cor, em dor aqueles segundos tomaram corpo na voz áspera daquela senhora que respondeu sentida:

- Porquê o senhor quer saber? E ele, frio retrucou:

- Responda senhora.

-Não, não tenho!...

- Não tem agora, mas quando a gente opera, fica o hospital cheio de gente murmurando.

Nessa confusão de emoções entra a recepcionista e o senhor Raimundo meio sem entender, quando dona Maria em prantos e gritos vence o silêncio constitucional e diz:

- Se o senhor quer saber, eu não tenho filho. O meu único filho morreu.

O médico, mais do que depressa, consulta o relógio e vai embora, e a recepcionista é quem presta os primeiros socorros com água e palavras de calma.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 26/03/2008
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