A INUSITADA VISITA DE JESUS
Em Itapicuruna, uma pequena cidade circundada por verdes colinas, aconteceu certamente o fato religioso mais extraordinário no mundo nos últimos tempos.
Tudo aconteceu em poucas horas. Primeiro, começou com o aparecimento de um anjo - o anjo Gabriel nas suas principais igrejas, uma católica e outra evangélica. E simultâneamente. Por se tratar de um domingo de Páscoa, ambos os templos estavam lotados.
Aquele ente espiritual chegou se indentificando e cumprimentando a todos. Sua aclamação em ambas igrejas, foi idêntica: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!" Uma expressão por demais conhecida. Mas, de qualquer forma, não haveria dúvida de que se tratava realmente daquele mensageiro divino. Todavia, ainda assim, o povo ficou perturbado e com muito medo. Então o anjo disse: "Não tema pessoal, porque lhe trago uma boa nova: foi do agrado do Eterno mandar-lhe o seu Filho de novo à terra para uma visita exclusiva a vocês desta região, antes do seu definitivo regresso que acontecerá em vindouro tempo".
- Jesus Cristo nos visitará?! - perguntaram extasiados todos.
- Sim; - confirmou o anjo - O próprio Jesus, o Cristo, o agora Consolador. Hoje mesmo, daqui a pouco, todos aqui hão de vê-Lo e até um de vocês será por Ele convidado para também visitar o seu Reino.
Foi uma alegria (não podia ser diferente) grande e geral. Particularmente a do sacerdote e a do pastor. O primeiro, feliz e orgulhoso, se dirigiu para uma imagem de Cristo, dizendo: "Obrigado, Senhor! Eu sabia que tu estavas a olhar o meu trabalho. Esta casa está preparada para te receber!!" E o pastor, por sua vez, lá na sua igreja, olhando para o alto, falou algo semelhante. No entanto, o mensageiro de Deus explicou: "O Consolador não entrará em nenhuma casa, nem mesmo na cidade. Mas ficará lá no cume da colina mais alta à espera de todos. Comunico ainda que a sua permanência será breve; portanto, não se atrasem". Dito isso desapareceu.
Os testemunhas desta maravilha ficaram por alguns instantes como que paralisados. Depois, porém, sairam todas a correr para a colina. Ao passar por outras pessoas na rua iam anunciando a grande novidade e convidando as pessoas que estavam dentro de casa para participarem desse fenomenal evento.
A cidade esvaziou-se de gente. Um cego que vivia a mendigar por suas ruas, ao ouvir a notícia, pretendia também ir à colina. Infelizmente, acabou sendo atropelado por um motoqueiro que seguiu sem lhe prestar socorro. Estava, igualmente, indo para a colina. E o coitado do cego ficou ali estendido no meio da rua.
O padre e o pastor, coincidentemente, foram os últimos a sairem para o local da aparição de Jesus. O sacerdote teve a idéia de carregar sobre os ombros uma imensa e pesada cruz de madeira que havia no interior da igreja. Imaginava: "Com este gesto irei impressionar o Filho de Deus e ganhar a sua preferência para visitar a Morada Celestial". O pastor, foi mais simples, mas pensou com o mesmo propósito: "Levarei apenas a minha Bíblia e lá vou apresentar para Jesus o rebanho que já consegui para Ele. Não tenho dúvida que serei o escolhido para visitar o seu Reino".
E lá se foram eles. Ao passar pelo cego atropelado, que gemia muito de dor, o pastor lamentou bastante, dizendo: " Não posso me atrasar. Mas na volta lhe socorreremos". O padre, que vinha mais atrás arrastando o cruzeiro, disse também, mais ou menos, a mesma coisa. E continuou a sua árdua caminhada. Felizmente um carroceiro que passava pela cidade vindo da zona rural, ao ver o homem acidentado, procurou socorrê-lo. Acomodou-o sobre a carroça e tocou para o posto de saúde da cidade. Entretanto, ali chegando, encontrou fechado. Pensou tratar-se de uma greve, todavia, logo observou que tudo o mais na cidade estava fechado e não havendo sequer uma pessoa na rua. Estranhou: "Que coisa esquisita! A cidade está deserta... o que terá acontecido?" Foi quando o acidentado tentou lhe informar: "Todos foram para a colina ver Jesus aparecer lá". O carroceiro supôs - é claro - que o cego estava delirando. No entanto, ao olhar em direção à colina mais alta, viu sobre ela a multidão de gente. Perguntou-lhe, então:
- Que história é esta de que Jesus vai aparecer ali?
- Um anjo surgiu anunciando isso. Todas as pessoas que estavam nas igrejas viram e ouviram. É verdade!
O carroceiro balançou a cabeça negativamente, dizendo:
- E o matuto sou eu... que absurdo! Nos dias atuais o povo ainda cai nessa! - e prosseguiu - Só me resta ir lá buscar, nem que seja amarrado, alguém do posto. Mas não deixarei você aqui sozinho me esperando. Terá que permanecer comigo, na carroça.
E assim seguiram. Entrementes, na colina Jesus já estava a abençoar o povo. E depois iniciou com o esclarecimento de que a pregação que se faz no mundo sobre o Reino dos Céus, está completamente equivocada. E que esta era uma das razões daquela sua presença. Afirmou: "Isso tem que mudar. O Reino de Deus não é esse lugar monótono, semelhente a um grande convento ou a um local de retiro que se prega por aqui. É bem melhor e diferente. Por isso levarei um de vocês para tomar conhecimento disso". E sorrindo, perguntou: "Quem gostaria aqui de conhecer o Paraíso de Deus, levante as mãos!" Todos levantaram. Então Ele fez a afirmação de que lamentava, pois só poderia levar apenas um. Em seguida, quis saber quem esse único privilegiado, o povo sugeria. Não houve unanimidade. Os católicos, preferiram o padre; os evangélicos, o pastor. Nesse ínterim, ouviu-se a voz de mais alguém: "Cadê um médico?" Era o carroceiro que acabava de chegar. O povo pediu o seu silêncio, entretanto ele não se calou. Continuou a gritar em busca de um médico ou enfermeiro. Tentaram fazer-lhe entender que estava interrompendo a fala da nossa maior autoridade na terra e no céu. Nada adiantou. Pelo contrário: nervoso, ele desabafou: "Que Jesus, que nada! Isso aí não passa de um charlatão aproveitando a ignorância de vocês. Enquanto isso, tem ali um filho de Deus agonizando, necessitando de uma emergência!"
- Mas logo socorreremos esse infeliz - disse o padre. - Agora não podemos perder esta abençoada e extraordinária oportunidade!
- Me admira - disse o carroceiro - que o senhor sendo padre não sabe que quando Jesus retornar à terra, todo o olho verá e não apenas o do povo de uma cidadezinha como esta! Sou da roça, não ando em igrejas, mas sei disso.
Imediatamente o pastor resolveu explicar pelo padre:
- Jesus não está retornando ainda em definitivo. Se você lesse a Bíblia, saberia que aqui pode estar ocorrendo a profecia de João 16:7. Estamos sendo os privilegiados dessa graça. Deus achou mérito em nosso meio. - E passou, com alegria a aclamar à cidade, dizendo: - E tu Itapicuruna, não és de modo algum uma cidadezinha qualquer, pois foste olhada com bons olhos pelo Divino, e escolhida para ser visitada por seu Filho Amado!
Outras pessoas procuraram do mesmo modo esclarecer ao carroceiro, mas ele continuva descrente e insatisfeito com a atitude delas. Disse: "Ainda que fosse mesmo Deus que estivesse aqui, não é justo deixar lá um irmão agonizando!" Então o povo começou a gritar contra ele. Aí Jesus exigiu silêncio. Se dirigiu, em seguida, ao carroceiro e estando bem próximo dele, sorriu e estendeu-lhe a mão num gesto amistoso. O homem da carroça, a princípio, hesitou; mas logo apertou a mão de Jesus. "Agora me dá um abraço!" pediu o Filho de Deus. O carroceiro mais uma vez atendeu só que ainda meio chateado. Depois ficou mudo, só voltando a falar quando Jesus perguntou-lhe:
- Onde está o homem que foi atropelado?
- Lá embaixo, senhor, na minha carroça. Mas é necessário que o senhor mande um enfermeiro, pelo menos, que vá atender ao pobre coitado!
- Não precisa - disse o Salvador, - eu também sou enfermeiro. Vamos lá que eu vou tratar dele agora!
- Mas senhor, - explicou angustiado o carroceiro - aqui não temos material e o estado dele é sério!
- Vamos e deixe o resto comigo - tranqüilizou Jesus colocando um braço sobre os ombros do homem, fazendo-o andar.
Desceram a colina acompanhado da massa. O carroceiro demonstrava ainda desconfiança. Ao chegar à carroça, Jesus impôs suas mãos sobre o pobre machucado, dizendo: "Fique são, agora!" E para a admiração de todos, isso aconteceu. Rapidamente, ele se levantou e Jesus perguntou-lhe:
- Ainda está sentindo alguma dor?
- Não senhor; não estou sentindo mais nada... como foi isso possível? O senhor é que é Jesus?
O Filho de Deus sorriu e indagou-lhe:
- Gostaria de me ver, filho?
- Mas, Senhor, sou cego!
- Sim, eu sei - disse Jesus. - Mas gostaria de me ver?
- Oh, Senhor, gostaria de ver tudo. Mas vê-Lo, ainda que fosse por um instante, já bastaria!
- Então me veja agora e para sempre - falou Jesus tocando nos olhos do cego.
Naquele momento, o homem recobrou a visão. O povo ao presenciar estes prodígios aplaudiu a Jesus e se pôs a louvar a Deus. E o carroceiro caiu de joelhos aos seus pés chorando e pedindo perdão.
- Levante-se! - pediu o Consolador - Você não cometeu nenhum pecado. Quanto a não ter me reconhecido, isso não foi nada. Até já fui ignorado dentro da minha própria família. Mas é bom que você, Severino, seja assim desconfiado porque alguns já estão a aparecer dizendo que sou eu.
- O senhor falou Severino, o meu nome... como sabe? - exclamou o carroceiro.
- Severino, eu já lhe conheço a muito tempo! Como desconhecer um homem que está sempre disposto a ajudar alguém? Pensa que não lhe vejo também quando vem à cidade e encontra-se com este e outros mendigos, e sempre lhes dar alguma coisa? Pensa que não vi quando você perdoou aquele seu vizinho que, por inveja, queimou toda a sua roça e depois que você salvou de afogamento a filha dele na cacimba, ele arrependido resolveu lhe confessar o ato e suplicar o perdão?
- Senhor, verdadeiramente tu és o Filho de Deus! - exclamou ele emocionado. E continuando, confessou - Mas eu sou pecador: gosto de uma cachacinha nos finais de semana e isso o Senhor, com certeza, deve ver também.
- Cachacinha? Você está bebendo e é muito, Severino! - disse-lhe Jesus - E isso não é bom. Contudo aqui ninguém é perfeito e sei que você é humano.
O pastor mostrando a Bíblia ao Severino, disse:
- Beberrões, meu irmão, aqui diz que não entrarão no Reino dos Céus!
Jesus retomando a palavra, explicou:
- Realmente as Escrituras afirmam isso. Mas eu disse também que os ricos não entrariam no Reino dos Céus. Será que isso se aplica a todos? Quero lembrar ao pastor que Deus pode fazer o que lhe apraz. Procure examinar, discernir as mensagens sempre pela ótica do amor, se quiser entender a palavra de Deus. Porque senão você acabará admitindo que o Diabo também entrará nos Reino dos Céus, já que as Escrituras dizem quem crê será salvo. E o Diabo também segundo estas mesmas Escrituras acredita em Deus. E acredita muito, mesmo!
E finalmente olhando para todos, falou o Senhor Jesus:
- Bem, queridos, está chegando o momento da minha partida. Tenho que deixá-los, agora. Mas fica com todos a minha paz!
- Por que tanta pressa, Senhor? - quis saber o padre.
- Você pensa que lá no Reino ficamos parados, de braços cruzados? - disse sorrindo Jesus - Não nos cansamos, é verdade. Todavia trabalhamos muito mais do que aqui. Por que Deus iria lá tirar-nos esse prazer? Por isso que tenho dito: o Reino dos Céus é bem diferente e melhor do que aqui se imagina.
O pastor, então, resolveu perguntar-lhe:
- E afinal quem o Senhor escolheu aqui para conhecer este Paraíso?
Antes que Jesus respondesse, o padre completou:
- A opinião do povo, que o Senhor pediu, ficou dividida entre a minha e a pessoa do pastor. Mas, nós católicos, aqui somos maioria!
Por fim Jesus, respondeu-lhes:
- Pensei que todos já soubessem quem era o meu escolhido. Não é aquele que provou aqui ser verdadeiramente um servo de Deus?
- Serei eu, Senhor? - indagou o pastor, quase convencido.
Imediatamente foi criticado pelo padre:
- Servo de Deus, você?! Apontar para os exemplos de Cristo é fácil, pastor; difícil é imitá-Lo!
- Ainda bem que você reconhece isso; - disse o pastor - agora imitá-Lo, padre, não significa ficar carregando um símbolo!
O Senhor Jesus resolveu intervir:
Parem, por favor! - pediu - Nenhum de vocês conhece a minha igreja!
- E qual é ela, senhor? - perguntaram os dois.
- A Igreja do Amor - e apontando para Severino, concluiu - Aí está um servo de Deus que conhece a minha Igreja.
- Senhor, perdoe-me - atalhou o padre - mas, pelo que aqui ficamos sabendo, este carroceiro nunca entrou em uma igreja e o chamou, diante de todos, de charlatão!
- E você, vigário, não estará chamando-me de estúpido?
- Não Senhor; Deus me livre! - desculpou-se o sacerdote se benzendo. Mas queixou-se - Por que o Senhor não dá importância também ao meu esforço?...
- Às nossas obras! - consertou o pastor. Mas o padre, lamentando, continuou:
- Abstenho-me dos prazeres da vida, faço tantos sacrifícios, tudo para atingir à santidade...
Jesus, interrompendo, fez uma afirmação que os deixou ainda mais perplexos:
- Em verdade, eu lhes digo. A santidade nunca poderá ser alcançada se buscado for por um desejo. Porque torna-se santo apenas aquele que é puro e para si nada ambiciona, ou seja: nega-se totalmente a si mesmo em favor do outro. A santidade não depende, portanto, de um interesse, de empenho, de sacrifício, mas de um coração puro, humilde e generoso.
- Quer dizer que nada vale ficarmos salvaguardando a nossa alma dentro de um monastério? - inquiriu uma religiosa ali presente.
- Isso é uma grande estupidez, filha - respondeu o Mestre dos mestres. E perguntou: - Alguma vez aconselhei a um discípulo meu a fazer isso?
O Consolador dirigiu de novo o seu olhar para Severino, e perguntou-lhe:
- Está pronto, filhinho, para ir conhecer o nosso Reino?
- Amado Senhor, eu não quero morrer agora - falou desanimado -, tenho ainda quatro filhos para criar!
- Mas quem foi que disse, Severino, que para visitar agora o Paraíso Celestial, você precisará morrer?
- Ah, sendo assim, eu topo. Mas tem que ser já, Senhor?
- Qual o problema?
- E quanto ao meu jumentinho?
- Não se preocupe. A prefeitura da cidade ficará encarregada, na sua ausência, de tomar conta dele - e olhando para o chefe mandatário daquele município que ali se achava também, perguntou-lhe: - Não é, Seu prefeito?
- Claro! - respondeu ele - O Animal e a carroça serão muito bem cuidados, pode ter certeza.
- Acredito - disse Jesus. Em seguida chamou os dois líderes religiosos para quem dirigiu as últimas palavras:
- Antes de partir, gostaria de dar, a cada um de vocês, um conselho. Primeiro começo pelo Pregador evangélico: não se esqueça de pregar o principal: o amor. E com o seu exemplo próprio. Mostre a solidariedade, o altruísmo, o perdão até aos inimigos. Esta é a única doutrina que agrada ao Pai. Procure, na sua Bíblia, refletir sobre aqueles versículos que você mais despreza: Mateus 25: 34-40. Agora falo ao Católico: deixe de fazer da sua pregação um simples teatro. Seja real! Procure nas suas ações, tomar como modêlo as atitudes dos apóstolos. Aja! Por último, digo aos dois: Ajam concretamente,sejam meus seguidores não só no falar, mas também no viver, no agir. E tornem assim exemplos de amor para os seus rebanhos. Deus também gosta de qualidade e não de quantidade!
Finalmente abençoou a todos e segurando a mão de Severino, os dois elevaram-se ao céu até desaparecerem sob os olhares atônitos de toda aquela população.