Dramas existenciais

Encolhe a barriga, estufa o peito. Ajeita as alças do vestido nos ombros. Não usa salto plataforma porque engorda. Não usa salto fino porque não tem equilíbrio. Se olha no espelho de frente. Agora de lado. Faz cara de choro, e chora. Bagunça o cabelo penteado em sinal de protesto e desespero. Tenta se recompor, escolhe outro conjunto. Uma outra cor talvez lhe caia melhor. Branco? Não, engorda (ou melhor, ressalta o abdômen, como disse a mãe). Preto, é isso. Mas não é muito ousado? Sim, é. O preto é para outro tipo de mulher, mais segura de si. Escolhe o cor de abacate e veste. Está bom assim! Engraçado, foi a primeira escolha. Refaz a maquiagem para combinar com o conjunto, escolhe a bolsa certa e sai. Vai direto para o escritório. É mulher de negócios e importante.

Sua mania de tentar emagrecer encolhendo a barriga está lhe desviando a postura e gerando enorme dor nas costas. O médico já disse: pare ou vai ficar com sérios problemas! Mas seu maior problema é como ela se vê: feia, gorda, desconchambrada. “Tenho que nascer de novo para ser feliz” pensa sempre. Chega em casa exausta. Enfia a chave na fechadura, abre a porta e entra.

Enquanto isso Carlo a olha pela frestinha da porta do seu apartamento. Ele a ama. Ela não sabe disso. Ele a acha linda. Mas ela não sabe.

A janta de Ana é arroz integral com vagem cozida. Poucas calorias. Terminado o jantar, vai para a sala e devora uma caixa de chocolates aos soluços.