Dorme Rita

Um conto inacabado

Ricardo juntou as mãos e tirou dos olhos o olhar remelento, então seus olhos desabarabam, sem brilho, na pia e toda sua coragem desceu ralo abaixo em um glup glup nostalgico. Sem forças forças suficientes para voltar-se ao espelho, retornou para a poltrona onde já estava a a mais de um ano.

A sala escura e os moveis frios o abraçaram como aprenderem a a fazer todo o amanhecer e já não era possivel distingui-lo da mobilha, os mesmos olhos de sempre, posados na mesma foto criaram sua propria vida dentro do cubiculo morto da sala de estar.

A enorme foto de uma mulher com olhos redondos que lembram buricas coloridas espalhando luzes como estrelas na madrugada, um rosto oval cortado por um nariz bonito e uma boca tirada de anuncio de batons exóticos, tudo isso era o rosto de Rita, senhora absoluta daquela sala.

Sobre amesa duas taças de vinho pela metade, ambas ligadas por um tenue fio de teia de asranha, frascos de um comprimidpo para dormir, um revolver e muitas fotosd em preto e branco e em dezenas de outras cores que a escuridão da sala já não revela a lucidez. dentre todos os objetos, no entanto, os unicos que parecem ainda fazer parte da realidade são a velha maquina de escrever e uma garrafa de wisk pela metade e os unicos sinais de que aindam moram alguns sentimenstos são o ranger quase demente da poltrona que gane de quando em quando e as folhas amassadas que foram o chão.

Todas as manhãs, desde a morte de Rita, Ricardo se olha no espelho e seus olhos desabam na pia e descem ralo abaixo. Já pensou inumeras vezes em quebras o espelho para salvar seus olhos, mas de certa forma não quer salva-los. Tem medo de que seus olhos ganhem vida propria como os olhos das fotos espalhadas pelas paredes. Olhos que o espiam o dia todo, a noite inteira, torturando-o com o silencio. Fotos de Rita se espalham pela sala, caras, bocas, nariz e cochas de uma mulher que não morreu totalmente. Olhos que estão pela sala e enfrentam a intensa escuridõa do desejo de Ricardo.

As folhas que estão amassadas no chão são as ultimas gotas de uma sanidade que lentamente vai deixando de pingar. Ricardo é alguem que ainda tenta sorrir pelos cantos dos olhos, mas cada folha amassada sera uma peça que ira faltar no quebra cabeças de seu riso. Seu silencio já é a muito tempo quase musical, tem tons leves de um desespero contido a força de muito pranto. Ricardo, seu silencio, e seu desespero são coisas tão solidas quando aquela poltrona, aquela mesa e todas as paredes que lhe enjaulam o desejo.

Ele estica os olhos e suas retinas então abraçam a maquina de escrever, a engrenagem da memoria falha, mas ele tenta buscar no amago do tempo sua vida e o papel daquela maquina em sua existencia. As imagens confundem-se e rodopiam como passos de um bailarino desesperado sobre o teclado da maquina, seu matraquear se espalha pela penumbra e antes que atinja lhe os ouvidos já são gemidos agonizantes e Ricardo novamente vê parado ao lado da poltrona a sombra sem nome que o visita sempre, as vezes um homem, outras vezes uma mulher, mas ele prefere acreditar que seja o proprio demonio.

“Pensando naquela vadia?” Pergunta-lhe a sombra numa voz que ele não consegue distunguir o timbre do sexo.

Ricardo tem impetos de reagir como sempre faz, gritar, tentar esmurrar a sombra, varrer e busca inutilmente o revolver e por fim no apice do desespero engolir os comprimidos e abraçar sorrindo seu desejo de morte. No entanto, hoje ele não tem forças, seus labios estão secos e sua garaganta de tantos brados a pureza da Rita a beatitude que ele acredita emanar dela. Ele tem os olhos cansados de tanto que chorou e de tanto que já olhou para a amesma foto, mas ele ainda deseja ve-la sobre todos os angulos ao mesmo tempo. Seus musculos já estão exaustos, mas ele ainda corre madrugada a dentro tentando abraçar uma mulher que na verdade está apenas nele e na penumbra a seu redor, penumbra que já faz parte de sua alma, apesar de toda a solidez que tem.

Nesta manhã tudo está como sempre esteve nas outras tantas manhas, mas falta-lhe algo, falta-lhe a força, a disposição, a coragem que escorre pouco apouco a toda manhã de seus olhos e escorre abaixo no ralo da pia. E não importa o que a sombra do demonio lhe diga, ele não ouvira, não vera e não tera mãos para tocar em nada.

Como em todas as manhas desde a morte de Rita, o sol nasce lá fora, mas dentro da casa Ricardo e seus medos não tomam conhecimento de seu calor ou luz, e o sol por sua vez não encontra forças para rasgar a prepotencia das cortinas escuras que abraçam a sala, os quartos e todos os outros aposentos.

Na casa, alem de Ricardo, vivem sua irmã Debora e a amiga Dulce, mas elas tem seu proprio mundo dentro daquele mundo pantanoso da casa, nelas ainda vem-se vestigios de uma sanidade que embora vesga tenta ver a luz que não consegue atravessar as paredes.

Para Ricardo o telefone não toca, as cartas nunca mais vieram e msmo que viessem ele não teria coragem suficiente para rasgar o envelope e o tinir do telefone seria apenas um grito distante ao qual se perde a persepção com um mover de cabeça. O tempo parou e o retrato maior na parede é apenas uma porta na qual Rita está encostada no batente, sem nunca entrar totalmente e sem nunca fugir por inteira.

Enquanto Ricardo está sentado ali como esteve nos ultimos meses mastigando as reminicencias que mastigou nos ultimos tempos, lá fora a manha aborta prematuramente um novo dia. Um dia de finados. O tempo parece estar vestindo uma mascara hedionda roubada de algum personagem mitico de Nelson Rodrigues e talver por isso as pessoas caminhem tristes pelas trilhas e coredores estreitos entre os tumulos no pequeno e frio cemiterio.

Dentro da casa Ricardo se veste como se vestiu na noite do velorio de Rita, todo de preto, e agora quase um ano depois o pretume de seu traje parece se confundir com o pavor que sente do mundo lá fora e com apenumbra que o faz uma estatua de pedra sentado em um tono de mesma solidez. Do mesmo preto que ele se veste estão vestidas tambem Debora e Dulce, que caminham lentas até a sepultura esquecida de Rita, enquanto Ricardo se desdobra para içar-se do sofa e caminhar até a maquina de escrever, as duas dobram os joelhos para rezarem e depositarem flores ao pé do tumulo. E como que se ligados por um relampejo de cumplicidade ao redor da mesma saudade que sentem de Rita, os tres balbuciam a mesma palavra ao mesmo tempo, as duas com os labios semi abertos e ele com os dedos lentos sobre o teclado da maquina.

Debora e Dulce, de certo modo, possuem almas gemeas, como se seus corações fossem apenas um, compartilham de tantas coisas que as vezes se confundem dizenso ao mesmo tempo as mesmas palavars. Elas tambem estão vestidas da mesma maneira desde a noite do velorio e não sabem quanto tempo realmente se passou, na casa onde moram com Ricardo não existem calendarios e nem relogios e au unica coisa que impera o tempo todo é a noite, que já parece estar querendo roubar delas a razão como já fez com Ricardo.

O que elas sentem não conseguem explicar, mas unidas compreendem-se perfeitamente, ambas estão palidas como estatuas de cera e suas mãos postas como as patas de um louva deus parecem desmentir um pequeno vestigio de furia que ainda viceja no fundo de seus olhares.

É o primeiro dia de finados depois da morte de Rita, elas não se lembarm quando foi que ela entrou em suas vidas, mas se lembarm dela perfeitamente assim como as mães se lembram dos sorrisos infantis de suas crias mesmo quando esses já são adultos ingratos, e o sorriso dela era como uma metafora esculpida em um poema abstrato, quase inpossivel a compreensão, mas ele está marcado a ferro e fogo dentro de suas lembranças.

Existem outras imagens alem do sorriso, coisas como um andar genuino e cheio de um gingado somente dela, olhos cor de mel e outros detalhhes que insistem em se perderem nos borrõs das cores frias do tempo, mas Rita apesar de tudo parece olaha-las intacta da sepultura. Seus joelhos doem, a falta de habito de se porem de joelhos as castiga, mas as palavras murmuradas por bocas coencidentes parecem estrangular um gemido que deveria ser de dor.

Ricardo tem os dedos sobre o teclado da maquina e escreve como quem já tem o corpo moido pela travessia de um deserto por dias e dias, sem agua ou sombra, sua agonoa é visivel mesmo abraçada pela solidez da penumbra e poderia até mesmo ser manipulada se a vida de repente se tornasse um palco de marionetes.

Ele mal se lembra de si mesmo, a não ser apenas que lhe falta uma parte, que lhe foi tirada parte sem a qual seu inteiro se anula. Há momentos em que frragmentos de seu passado lhe chovem a frente dos olhos, mas logo vem a calmaria da insanidade. Ele não tem certeza de como ela se foi, sabe apenas que um dia ela estava e nou outro já não mais estava com ele. Agora vê o demonio deslizar pela sala, mas não é somente ele que o vem visitar, nos ultimos dias ele tem aimpreção de ver Rita deslizando nua pela penumbra e sempre com o dedo indicador colado ao labio em pedido de silencio. O que ele ainda lhe poderia dizer? Compos tantos versos para ela. Cantou-lhe tanto amor, sua obra roubou-lhe todas as palavras e as entrgou de bandeija para Rita. E com sua morte todas as palavras o abandonaram, indo para longe, indo para alem do horizonte, para alem de seu tato, para alem de sua capacidade de amar e de escrever versos para este amor.

Um poema para ele era como o ar, a rima como uma quada d’agua, e seu verso como uma ilha cercada de ondas mansas por todos os lados e de repente tudo se transformou em uma Atlantida sem antiteses e nem metaforas, submergindo emum oceano de dor. Ricardo não se reconhece no espelho, as maças do rosto salientes, os olhos roubados, olhos de quem perde os olhos todas as manhas na pia do banheiro, e uma baba de quase trezentos dias.

Em relampejo desesperado ele, as vezes, se lança sobre a maquina e poem -se a surrar-lhe o teclado, na esperança de produzir um unico verso, mas nada lhe brota da alma, sua exencianão lhe vaza dos poros, não existem mais influencias capazes de o inspirar. Pelas estantes mergulham na solidão Verlaine, Rimbaud e tantos outros que ele tentou beber os versos na esperança de ejacular alguma coisa menos amarga que a existencia.

A Rita quando viva substitui todos os poetas mortos, cada canto de sua alma foi preenchido por uma nova gota de paz, seu aceno de chegada ou de adeus transformou-se em um abraço cheio de verdade e fogo e seu olhar tornou-se intacto como o tempo, nenhum cataclisma lhe seria capaz de roubar a calma, mas de repente tudo se foi como em uma tempesta de de verão.Rita morreu..

Odair J Alves
Enviado por Odair J Alves em 18/03/2008
Reeditado em 18/03/2008
Código do texto: T906097
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.