os dois filhos do rei
Existia um rei muito próspero há muito tempo em algum lugar da Ásia, que estando já muito velho e ciente que sua hora não tardava, chegando-se a seus dois filhos disse-lhes: meus queridos filhos, seu pai já esta velho e eu preciso saber qual de vocês dois subirá o trono após mim, eu lhes proponho o seguinte: vocês deverão trazer para mim dois presentes, dentro de um mês, o que trazer o presente que mais me agradar, esse terá o meu trono por herança.
No dia seguinte todos na cidade comentavam o assunto, o que o rei fizera a seus filhos era algo realmente diferente. No palácio os dois filhos faziam os preparativos para a viagem que fariam, sozinhos, em busca do melhor presente.
Cada um tomando do seu jumento partiram. Um, rumo ao ocidente, e outro para o oriente.
Passados alguns dias o filho que se dirigira para o ocidente caminhava para uma cidade, onde ele julgara conseguir alguma coisa diferente, e nunca visto em sua cidade, para servir de presente para o rei, e então o surpreender. O mancebo já muito exausto porque caminhara por horas sem parar, debaixo do sol escaldante, resolveu então parar um pouco para descansar e entrou ele numa gruta que havia à beira do caminho afim de fazer um lanche protegido da ação do sol.
O jovem nunca tinha estado naquele lugar antes, e não sabia ele que ali na gruta morava um ancião solitário, que raramente saia durante o dia, não demorou, o jovem ouviu conversas vindas do fundo da gruta, e não resistindo a curiosidade, se atreveu a ir espiar o que seria, ou melhor, quem seria. Adentrando cada vez mais, aqueles sons iam ficando mais fortes, até que ele se deparou com uma enorme sala, e ali assentado num banquinho estava um velhinho tagarelando com seu gato de estimação, o rapaz não pode acreditar no que estava vendo, porque quando ele reparou melhor, ele viu que o gato estava trajado com algo como uma fina roupa de mordomo e conforme o velhinho ditava as ordens, o gato o obedecia, ora trazia água no copo, varria o chão. O bicho fazia de tudo, e ainda, se mantinha praticamente o tempo todo de pé.
O príncipe enlouqueceu diante de tais cenas, e não restou duvidas de que aquele seria o presente perfeito. Um animal, aparentemente um simples animal, mais que diante de qualquer ordem obedecia perfeitamente.
Batendo um sininho que havia na porta de entrada da “casa”, o ancião logo o veio atender. O rapaz sem muito papo foi direto ao assunto, queria a todo custo o bichano, e por ele pagaria o preço que o velho propusesse. A principio disse que o animal não estava à venda, mais de tanto insistir, o jovem acabou comprando o bicho por um saco de moedas de pratas.
Não restava duvidas que com aquele presente, o trono estaria em suas mãos. O príncipe retornou para sua cidade com dez dias de antecedência, aguardando apenas o fim do prazo proposto pelo pai.
Enquanto isso, o filho do rei que se dirigira para o oriente não encontrara nada de tão interessante que pudesse causar tanta impressão ao rei. Restando poucos dias para o fim do prazo estipulado ele resolve retornar à cidade. Frustrado e sem esperança a única coisa que lhe resta é esperar. Chegando na cidade, passando por ruas movimentadas ele ouve o povo comentando sobre o presente que o outro príncipe obteve, e sobre toda a capacidade do gato inteligente. O príncipe então, muito astuto, encheu-se de esperança e caminhando e observando algumas lojas de sua cidade, achou o presente ideal. Só restando assim esperar o dia do julgamento.
O dia chegou, o pátio do palácio estava entupido de tanta gente, que estavam ali para assistirem o julgamento.
Os dois príncipes, dirigindo-se para o centro do pátio, fizeram a amostra de seus presentes, um mostrou apenas uma pequena caixinha, o outro com muita elegância, apresentou-lhes o seu magnífico bichano trajado de mordomo. A platéia estava meio confusa, mas foi só até começar a apresentação do gato mordomo, e o povo começou a se entusiasmarem. Aquilo era maravilhoso. Quando a platéia começou a aplaudir, o outro príncipe abaixou a caixinha no chão e abriu-a, quando ele abriu, saiu de dentro dela um pequeno ratinho, e o fino gato deixando imediatamente sua pose, disparou atrás do rato, correndo de um lado para o outro, assumindo novamente a forma de gato, e a platéia quase morria de tanto dar gargalhadas diante daquilo.
O rei achara muito bom o gato mordomo, mas ele achou muito mais inteligente e surpreendente o presente do filho que trouxera, um pequenino ratinho, dando-o o seu trono, sabendo que esse era o filho apto a governar o povo, porque teve astúcia, fazendo de algo tão insignificante, “uma arma poderosa”.