Um caso de sorte

João era um homem baixinho, careca, gordo e um pouco suado demais para o gosto de qualquer mulher. Contava 53 anos de idade, dos quais 32 foram dedicados ao seu pequeno mercado.

Não ganhava muito dinheiro , mas dava para pagar a meia-dúzia de empregados, sustentar a si e a sua esposa, Maria.

Maria era uma mulher de 48 anos de idade, dos quais 28 foram totalmente dedicados ao marido.

Eles não tinham filhos, pois Maria nunca conseguiu engravidar.

Alhiás, coisa que, não raro João jogava na sua cara.

Dos poucos empregados que João possuía, nenhum queria passar perto do chefe.

João era um homem rabugento, que descontava qualquer problema em cima da pobre da mulher, e dos empregados.

Colecionava casos com prostitutas. Daquelas bem baratas, que eram as únicas pelas quais podia pagar.

Vivia alegando falta de dinheiro para Maria, mas para este tipo de entretenimento nunca faltava.

Todos sabiam. Até Maria.

Porém, ela era uma mulher humilde demais e com sua auto-estima praticamente destruida, para pensar em separação.

Dona de casa, dependia financeiramente do marido e sonhava com o dia em que o marido não acordasse de manhã, para se ver livre do traste!

Mas isto não acontecia. Vaso ruim não quebra, pensava ela.

João tinha uma mania. Sempre jogava os mesmos números na Mega-Sena.

Porém estes teimavam em sair diferentes dos que havia apostado.

Até que um dia sua sorte mudou.

Saiu da lotérica sem fazer alarde e foi correndo para a Caixa receber seu prêmio.

No caminho foi pensando: “Vou abandonar Maria sem nada, vou largar o mercado e aqueles incompetentes de merda, vou fugir e aproveitar a vida sozinho!!!”

Não poderia estar mais feliz!

Quando entrou na Caixa, nem imaginou que sua sorte mudaria em questão de segundos...

Se dirigiu para falar com o Gerente, com o bilhete bem guardado no fundo da carteira.

Nada conseguiu falar, pois um assalto estava acontecendo e ele não havia se dado conta. Quando viu estava no meio de um tiroteio, sendo que uma das balas acertou em cheio no seu peito.

Outros dois também foram baleados, mas apenas João teve morte instantânea.

Apesar de tudo que João fizera de errado, Maria chorou a sua morte, chorou no seu enterro, chorou deitada na sua cama.

No mercado foi decretado luto, e ficou fechado por dois dias.

No terceiro dia da sua morte, Maria começou a arrumar as suas coisas.

Não podia deixar de sentir um certo alívio, pois enfim estava livre do traste e de tudo de ruim que ele representava. Mas também havia um ar de preocupação, afinal o que faria com o mercadinho? Como se manteria??

Entre as roupas e documentos que arrumava, estava a carteira de João, que os policiais haviam lhe entregue no dia da notícia do falecimento.

Maria abriu e vasculhou para ver se havia algum dinheiro.

Havia pouca coisa, mas no fundo da carteira, avistou um bilhete.

Quando viu que era um bilhete da Mega-Sena correu para o telefone e ligou para a lotérica para saber os números que saíram no último sorteio.

Quase desmaiou, quando soube que possuía um bilhete que valia 48 milhões de reais!!!

Começou a gargalhar, mas gargalhou tanto que a cidade, que era muito pequena podia ouvir.

Pensou consigo mesma: “Seu traste, esta é a única coisa boa que você me deixou, mesmo que você não tenha planejado isso!!!”

Naquele dia ela gargalhou como há muito não fazia!

Poucas semanas depois, o mercado foi fechado e os empregados muito bem indenizados por Maria.

Quanto a ela??

Depois disso ninguém mais a viu.

Apenas os funcionários de um transatlântico, cuja rota era um cruzeiro pelas ilhas gregas....