Os Trouxas
Era uma época na qual os unicórnios passeavam entre as árvores encantadas e os pássaros repousavam em suas canções narrando a magia do ar. Dos vales e montanhas encantados, o poder das palavras fazia as flores brotarem, o ouro brilhar do nada....Era o poder da palavra adequada construindo a criação, ou seja, o poder da magia estava por toda à parte. Todos eram verdadeiros mágicos.Cada um podia criar sua própria realidade e, segundo afirmação dos cientistas atuais, essa prática pode ser possível através da física quântica.
Um século em que tudo isso fluía naturalmente e o uso das energias da natureza era o elemento que atendia qualquer desejo. Todos os humanos eram poderosos magos que podiam andar sobre as águas, dar saltos de dez metros, percorrer longas distâncias em pouco tempo e até tele-transportar-se aos mais longínquos lugares. Todo mundo sabia que o mundo era assim, um lugar onde a felicidade e o bem estar comum reinavam entre todos.
Tudo transcorria normalmente, até o dia que receberam um grupo de exilados, seres expulsos de outro planeta, afim de que experimentassem a plenitude e a generosidade que ali se vivia. A intenção era oportunizar aos expatriados que se autodenominavam “excluídos e marginalizados” o aprendizado da caridade e do amor, isto é, que o amor tudo pode mudar.
A recepção calorosa daquele povo hospitaleiro impressionou os visitantes, que logo perceberam a ingenuidade daquele povo feliz, fazendo aflorar ainda mais todo o mal que vinha impregnado no corpo e na alma de cada um daqueles refugiados. Imediatamente brotou o desejo de possuir o poder tão cobiçado no planeta natal e razão do exílio involuntário que estavam sendo submetidos.
Enquanto tentavam se adaptar e assimilar alguns costumes dos habitantes locais, arquitetavam planos para conquistar o planeta. Não havia consenso quanto ao plano que deveria seguido, mas havia unanimidade em relação ao método de aplicação, ou seja, deveria ser introduzido de forma subliminar, lenta e gradual. O plano precisava ser implementado sem demora, mesmo que ainda não houvesse consenso. Alguns dias se passaram e, após muita discussão e estudo, ficou definido que seria elaborado um manual com as regras a serem seguidas e assim uniformizar os métodos para conquistar o poder. Este manual posteriormente passou a ser chamado de “Manual dos Trouxas”. Suponho que venha daí o termo trouxa utilizado nos livros de Harry Poter para referir-se àqueles que não tem poderes mágicos. No entanto, como a palavra trouxa parecia muito pejorativa o nome foi substituído, ficando impresso e intitulado como; “Os sete passos para destruir a magia interior”.
O Manual tornou-se uma preciosa ferramenta para os forasteiros conquistarem o poder, uma vez que estes conheciam todas as artimanhas das trevas, além do conhecimento de causa, afinal, já haviam sido expulsos por terem impedido o progresso no planeta natal, conquistar o poder tornou-se uma obsessão, o único desejo. Por essa razão, trataram de por em prática as sete regrinhas rapidamente, para que se tornassem em pouco tempo, os “senhores dos habitantes locais”, desperdiçando a oportunidade de reformarem-se.
As regras do manual, “Os sete passos para destruir a magia interior”, foram implantadas lentamente na mente daquele povo feliz, da seguinte forma: Primeiro precisavam convencer as pessoas que elas não tinham poderes mágicos, aquilo que chamavam de mágica era apenas uma benevolência divina por serem pobres criaturas incapazes. Em seguida, trataram de mostrar as vantagens e as glórias de serem pobres vítimas diante das situações, além do conforto que isso traria para suas vidas. O terceiro passo, seria difundir e embaralhar os sistemas de crenças e suas conseqüências, proliferando o maior número possível de seitas e religiões. Após, trataram de tornar os novos conhecimentos assustadores e imprescindíveis, mas inacessíveis à maioria. O quinto passo consistia em mostrar o perigo da magia, tornando os magos assustadores e mais poderosos. A sexta regra, seria ensiná-los a utilizar a mentira e mostrá-la como algo necessário e bom para a convivência pacífica. E por último, jamais permitir que olhassem para dentro de si, mas para isso, seria fundamental criar inúmeras necessidades que os mantivessem voltados para o externo.
Dessa forma, as regras do manual de geração em geração iam sendo incorporados à cultura do planeta. Assim, o verdadeiro conhecimento e o poder da magia interna iam sendo esquecidos pelo povo inocente concentrando-se cada vez mais nas mãos de poucos, obviamente pelos que detinham o poder. Portanto, aqueles primeiros habitantes que tudo podiam, foram esquecendo da própria magia, tornando-se dependentes da magia de alguns magos poderosos.
Para situar o caro leitor no tempo, é preciso informar que isto tudo ocorreu muito antes dos registros documentarem a desobediência da companheira de Adão. Desobediência que custou caro a todos nós, pois o Senhor impôs ao homem o castigo do trabalho que permanece até hoje. Mas o admirável nesse primeiro casal é que, apesar de terem tido apenas dois filhos homens, e que por sinal foram mal educados, pois Caim matou Abel, eles se multiplicaram, dando origem a toda a humanidade, somando-se hoje em bilhões.
Isso tudo para mostrar que a humanidade foi evoluindo e os acontecimentos foram sendo registrados, conforme a conveniência dos detentores do poder mágico ou da percepção dos “trouxas”. Essa era a regra; conveniência para os conhecedores da magia e submissão para os demais. Os que se rebelavam eram minorias e que acabavam nas fogueiras ou então eram condenados a viverem isolados. Eram considerados como uma espécie de sapo, limitados a viverem em determinado pântano. Como se fossem grupos de sapos retirados de uma lagoa, separados e depois colocados em um caldeirão de água fria. Mas, com o passar das horas, o caldeirão era levado às chamas e, sem que percebessem a água aquecendo, os sapos iam sendo lentamente fervidos até a morte, sem sequer perceberem. Deve vir daí à expressão sapo fervido, pois até hoje o sapo – o verdadeiro anfíbio - não percebe o aquecimento na água e morre fervido.
A própria história se encarrega de registrar as atrocidades, avanços e benefícios que estes poderosos magos nos deixaram. Eles se apresentaram em forma de lideres mundiais, principalmente nas áreas da política, religião e ciência, aliás, uma prática ainda muito atual, todos com o mesmo objetivo inicial, ou seja, impedir que o cidadão comum descubra os próprios poderes, e que o manual antitrouxas chegue às mãos da população.
Obviamente que esta rivalidade entre os dois grupos vem aumentando cada vez mais e as bandeiras de luta estão mudando conforme a conveniência. Variam entre intolerância religiosa, posse de fatores de produção, democracia, autoritarismo e liberdade, passando por vaidades pessoais, ganância, posições políticas, entre outras tantas. Assim sendo, a humanidade foi avançando a cada dia e a dificuldade de identificar os integrantes de cada grupo foi ficando mais difícil, uma vez que as estratégias de espionagem e contra-espionagem chegaram a altos níveis de sofisticação. Prova que até hoje, freqüentemente nos decepcionamos com personalidades que considerávamos verdadeiros lideres capazes de resgatar esse poder para toda a humanidade, envolvidos com interesses do outro lado.
Assim, essa pequena história que estou lhes contando, fica cada dia mais distante na memória coletiva e a humanidade vai deixando de utilizar um poder que é e sempre foi seu. Infelizmente a única forma de identificar as lideranças verdadeiramente comprometidas com a evolução da humanidade é saber ler seu coração. Tarefa impossível para a grande maioria da população, devido à falta de autoconhecimento. No entanto, uma nova técnica acaba de ser apresentada por um famoso Guru malaio; A técnica, segundo o guru, não é nova e não impede que a pessoa espalhe seu veneno na alma humana, pois permite a identificação somente após cessarem todas as atividades físicas, ou seja, consiste em observar a evolução do ser, após a separação física.
Estas observações foram realizadas durante trinta anos, demonstrando que ao ser invadido por uma luz transformadora capaz de mostrar a verdadeira essência, qualquer líder negativo explode em milhares de repolhos fedorentos e se espalha pelo que denominamos trevas, criando inúmeros ambientes propícios à degradação humana, enquanto que esse mesmo fenômeno nos líderes positivos resulta na liberação de imensas quantidades de rosas e flores das mais variadas espécies, tornando o ambiente muito agradável e propício para construção de centro de estudo, aparelhamento e outras estruturas necessárias ao aprimoramento e desenvolvimento humano. Trata-se de algo incompreensível à forma humana, mas perfeitamente compreensível e capaz de fazer qualquer espírito feliz.
Apesar do grande número de baixas nos dois lados, esta guerra dos detentores da magia versos os trouxas ainda deve continuar, pois os trouxas, geração após geração, apegam-se cada vez mais na bandeira da esperança como principal arma de combate, embora quase sempre essa esperança seja estrategicamente fornecida pelo inimigo.