Mini Conto de Amor II
Pela grande janela da sala, ela confortavelmente contemplava a dança de suas plantas embaladas pelo vento. Em suas mãos bem cuidadas segurava displicentemente uma caneca, onde sorvia pequenos goles de chá de jasmim. A luz do final da tarde dava um colorido especial que adentrava a sua casa, - e ela sentia-se alimentada com aquela energia.
O cheiro limpo do seu corpo, e de seu jardim, já por ela regado, faziam-na sentir a força da terra molhada imbuir-se em seu espírito e refletir-se em seu belo e expressivo rosto de mulher.
Ela era assim.
Conectada - mesmo sem perceber.
Para ela, "essa" eram as coisas do mundo.
Não cabia mais em sua cabeça, em sua essência, a felicidade sem sentir-se verdadeiramente viva e presente.
Ela contemplava no sentido etimológico mesmo da palavra, as pequenas grandes coisas belas da vida.
Trazia dentro de si a inquietude de menina, e a serenidade de seus anos vividos, com seus erros e acertos.
A moralidade, ou coisa que o valha, já não tinham a menor importância.
Estava em paz - sabia o que queria, como fazer era mero detalhe, ou apenas questão de administração.
Foi desperta de seu estado contemplativo, com o barulho do carro que parara na casa da frente. Aquele movimento era familiar a ela.
Levantou-se, abriu a porta da sala, caminhou pelo jardim, e ficou olhando até que ele a visse.
Ele virou-se, e percebeu que ali não cabia apenas o boa noite costumeiro - ele sentiu e assentiu - cúmplice.
Ela sorriu, estendeu suas mãos a ele, e disse:
- Quero te amar, não só pela janela e por minhas lembranças. A vida nos separou, e ironicamente nos aproximou, existe hoje, apenas uma rua a atravessar, e eu quero que você a atravesse.
O encantamento do amor, o magnetizou, o sorriso se fez presente, e ele foi para o outro lado da rua, para o lado certo da vida - sem em mais nada pensar. Ali só havia o sentir.
Fizeram o amor, de toda uma história que fora interrompida.
Pela primeira vez, ali estavam, o jovem e belo casal de cabelos brancos se tornando enfim um só - a olhar juntos na paz do depois, a lua crescente refletida pela janela.