A Procura

Sentado em sua casa, ele olhava a parede branca um tanto mofada, pensava no passado. Ele já fora aceito pela sociedade, teve muitos amigos. Mais agora, não passava de um fracassado sem dinheiro, perdera tudo, amigos família, nada restara. A esposa fugiu com outro e levou juntos os filhos, seus pais já eram falecidos e o único irmão já não via a anos. Com quarenta anos não conseguia mais trabalho. No auge de seu desespero, atenta contra a própria vida. Com o 38 apontado para a cabeça atira, e nada, a morte não chega.

- Nem balas, nessa porcaria de revolver tem – esbraveja o homem – mais que inferno!!!

O homem pensa então em enforcamento, mais não encontra nada forte o suficiente.

- Não, com essa corda fina não posso tentar, posso ficar paraplégico e as coisas ficariam ainda piores – continua esbravejando – que droga, nem pra me matar eu presto.

Já no auge do desespero, o homem evoca Deus.

- Você não entende, seu velho maluco, eu não sirvo mais para nada... eu nem tenho mais nada... olha para mim... quero morrer, preciso me libertar... minha vida é uma merda, foi você... pensando bem foi você que me jogou nesse mar de merda – dizia aos berros em meio ao choro – seja digno, me dê pelo menos isso, a morte. Seu idiota desgraçado, nem agora você me escuta, anda logo manda um raio na minha cabeça. Que foi? Não fui a igreja o suficiente? Esquece, vou ter que fazer isso sozinho.

Ele veste o casaco e sai em direção à rua, procura uma loja de armas e com o único dinheiro de seu bolso, compra uma única bala.

Sentado em uma praça, lembra de sua vida, sempre foi um homem bom, ajudava todos a sua volta, porque isso aconteceu... Por que?. Essa pergunta o perseguia.

Um homem já de idade senta ao seu lado.

- Belo dia de sol. Não é verdade amigo? – diz o velho.

- É, nem havia reparado – respondeu o homem indiferente.

- A primavera é mesmo a melhor estação do ano, olhe a praça, está cheia de flores, as crianças estão brincando – insistiu o velho – Você deve adorar trazer seus filhos aqui.

- Nunca trouxe meus filhos aqui – respondeu o homem.

- Essa época também é boa para namorar, olha quantos casais, fazendo piquenique na grama. Você deve vir sempre aqui com a sua esposa.

- Não, nunca gostei de sair de casa.

- O que o senhor faz então?

- Eu sempre trabalhei muito, de Domingo a Domingo, as vezes saia com meus amigos para tomar uma cerveja, sempre achei bom economizar e me preparar para os tempos difíceis.

- E com sua esposa. O senhor não sai?

- Para que? Mulher nasceu para ficar em casa, ela nunca ligou, ficou sempre cuidando das crianças.

- E seus filhos.

- Sempre ficaram com a mãe, para ser sincero nunca gostei muito de crianças.

- Mais quando o senhor ficar velho. Quem cuidara de vocês?

- Quando ficar velho e sozinho, darei cabo da minha vida se preciso. Não preciso de ninguém, nem de amigos e muito menos de família. As pessoas são muito ingratas, por mais que você seja bom, elas não reconhecem nada nunca. E no fim, somos todos seres sozinhos. Não sei por que estou te falando todas essas coisas. O senhor é bem intrometido. Sabia?

- Ninguém vive sozinho – continuou o velho ignorando a grosseria – Agora que estou velho, percebo, grande parte dos fatos da minha vida foram culpa minha. Nunca cultivei os verdadeiros amigos, ajudava as pessoas apenas para parecer bom e ser aceito. Minha esposa e filhos, nunca dediquei tempo a eles, estava sempre trabalhando. E olhe para mim hoje, aposentado com dinheiro contado, sozinho, meus filhos não me visitam, minha esposa morreu com quarenta anos, talvez por se sentir sozinha. Sabe, eu demorei para entender, o que realmente é importante na minha vida. Você é jovem, talvez possa entender antes de mim.

- Agora é tarde, já perdi tudo – respondeu o homem.

- Nunca é tarde, vá atras de seus sonhos, não desista da vida com tanta facilidade.

- Facilidade!!! Acha que esta sendo fácil passar por tudo isso. Eu não preciso de ninguém, nunca precisei, e não vou ser estorvo para ninguém. Minha vida já acabou a vários anos. Não passo de um morto vivo, prefiro ser só morto – terminou o homem ríspido preparando-se para levantar.

- Peço desculpas. Estive te observando. Sei o que planeja fazer e pensei em impedir.

- Cala a boca, se velho – respondeu o homem olhando para trás enquanto atravessava a rua, ficou espantado ao perceber que o velho havia sumido, olhou novamente para ver se via.

Nesse momento um caminhão veio em alta velocidade, e passo por cima do homem, as pessoas olharam aquilo com horror, pouco restara do corpo daquele homem. O velho reapareceu, como que vindo do espaço, olhou triste aquele espírito de aura retorcida que acabara de deixar o corpo e disse:

- Você encontra tudo aquilo que procura, você procurou a morte, encontrou a morte. Adeus, meu amigo.

Sabrina Ferreira
Enviado por Sabrina Ferreira em 23/02/2008
Reeditado em 20/02/2009
Código do texto: T872351
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