ÀS MARGENS DO TOCANTINS

Haverá alguém no Tocantins que ignore o fantástico recanto “Murmúrio das Pedras”? Duvido muito. Ali assiste Tocantino Cardoso, ou melhor, Constâncio Neves Cardoso.

Trata-se, é verdade, de um autêntico fenômeno. Lembrou-me agora a matéria apresentada por um dos canais televisivos mais importantes do País – GBV- onde Karl Nagas tece o seguinte comentário: “Tocantino é uma destas poucas velas em meio a tanta escuridão ética”. Sob seus protestos, ouso dizer que Francisco de Assis, onde estiver, não deve se cansar dos elogios ao discípulo moderno. A meu juízo, Tocantino está para além de seu guru. São várias as razões, a principal consiste numa politização deveras crítica.

Estivemos juntos no último feriado. Trocamos opiniões sobre temas em evidência, passando por essa angústia-esperança que a chamada “globalização” provoca sobretudo no Ocidente, pela situação atual do Tocantins, pela crise no Iraque como também comentando trabalhos como o de Carl Sagan – “O Mundo Assombrado Pelos Demônios” e até as idéias de Karol Woityla contidas em “Cruzando O Limiar Da Esperança”.

Em dado momento, ao falarmos sobre política, provocado pelo jornalista Pinheiro, Tocantino expressou algo bastante apropriado para o momento: “Nossos esquemas convencionais de motivação política (ancorou-se é certo em Harol Lasswell) parecem distantes da múltipla realidade da vida quando descobrimos a base privada dos atos públicos”. Após rápida pausa, enfitando-nos alguns minutos, prosseguiu: “Que motivação verdadeira leva as pessoas a escolherem a atividade política? Algumas estão aí às claras. Outras exigem, talvez a maioria, um esforço crítico dos diabos a fim de serem percebidas. Ora, um homem público jamais deve enveredar pela politicalharia. Não pode permitir que genuínos ideais de realizações sejam maculados por consciências medíocres, tacanhas, rasteiras no mais alto grau, cuja tônica não é outra coisa senão a satisfação de seus mais reles e condenáveis interesses. Os pactozinhos, esses malditos carguinhos de ocasião devem ser combatidos sem trégua.

Infeliz o homem que abraça a carreira política e não toma cuidado com o puxa-saquismo, com intelectualóides. É mister que salvaguardemos o lado superior da política” e concluiu: “Olhem, mesmo as boas intenções de nada valem caso o indivíduo se encontre em profundos deslizes ético-morais”.

Entre um gole e outro de licor de Jenipapo, a coisa avançou noite afora, chegamos, inclusive, a contar piadas. Por volta das três e meia da manhã é que resolvemos voltar para Palmas. O fotógrafo Xavier era o mais impressionado. Tirou fotos do lugar, da biblioteca de Tocantino e parecia inconformado com o fato de Tocantino ser tão avesso à celebridade. Um dia, tentei consolar, voltaremos lá, mesmo em fotografias.