UM SONHO
Mariana é uma menina simples, humilde, tão meiga, tão cheia de vida e com grande esperança. Aos nove anos de vida ela deveria estar na escola. Mas a casa em que ela vive é tão longe... Muito longe, fica entre meios á montanha no interior de Minas Gerais. Num vilarejo chamado Felicidade. Filha de camponês, ela tem dois irmãos: João e Paulo em homenagem ao pai que se chama João Paulo e o nome de sua mãe é Ana. O seu nome é mariana em homenagem á mãe e a avó que se chamava Maria. Como toda família pobre seus pais saem de madrugada para a lida garantindo assim o pão nosso de cada dia, pelo menos para não morrer de fome. Deixando assim seus irmãos por sua conta. Pensa mariana: - que coisa meu deus! Eu uma menina ainda tendo que ser babá de meus irmãozinhos quase de minha idade. Mas ela aceita, afinal no coração dessa menina não há revolta, não há choro, apenas um sonho á consome e invade o seu pensamento, e que lhe dá forças para viver. Queria ir pra escola, aprender á ler e a escrever e ser professora. Mas esse seu grande e valioso sonho seria esquecido, colocado dentro do baú. E assim passaram alguns anos, três para serem mais exatos. Agora mariana tem doze anos, sua vivinha medíocre continua sem nenhuma novidade, mas a esperança e o seu sonho não estavam extintos, estavam armazenados no camarote do seu coração. No dia que mariana completou doze anos de idade seus pais como sempre madrugou para trabalhar, eram bóias frias. Chegaram e deram- lhe um abraço tão forte dizendo:- filha, tudo o que podemos lhe oferecer é esse abraço e o nosso amor. Em seguida foram embora. Os seus olhinhos ficaram marejados de lágrimas e não conseguia pronunciar nem uma palavra, sequer uma frase em que ela diria; - pai, mãe amo vocês de todo o meu coração. O principal nessa vida é o mor e eu já tenho! Esse abraço é o meu maior presente. Mariana com certeza nunca mais esquecerá esse momento mágico. Durante á ausência dos pais, ela se dedicava a o máximo as tarefas cotidianas e aos cuidados dos irmãos. Cantarolava o dia inteiro para tentar esquecer que mal tinham o que comer. Passaram-se mais uns anos e mariana fez quinze anos. A festa que desejara também foi para o baú junto com o seu antigo sonho. O bolo só nas vitrines das padarias. Foi nessa época que algo terrível aconteceu: mariana esperava a hora rotineira da chegada dos pais que não aconteceu. Quem apareceu foi um senhor de idade que veio dar a triste notícia, o senhor Joaquim; - sinto muito crianças, mas os seus pais estavam no caminhão de cortadores de cana que despencou do penhasco. O mundo desabou! Dúvidas á questionam:- o que vou fazer? Onde vamos morar?E com quem? A casa em que viviam era emprestada aos pais por trabalharem no canavial do senhor Tomás. Com certeza ele vai pedir a casa e foi o que aconteceu. As três crianças foram separadas e Mariana foi pra casa de tia Rosa irmã de sua mãe, na região metropolitana de Belo horizonte em um aglomerado de casas chamado Morro alto, onde tem gente que não acaba mais. De início tudo era novidade. Os dias foram se passando e se tornaram tristes com muita dificuldade, muita pobreza para toda á família e ainda mais uma boca para alimentar. Tinha que fazer alguma coisa pensava Mariana! Tinha que ajudar nas despesas da casa. Mas o que? Eis a questão. Serviço pesado ela não aquentaria. Apesar dos seus quinze anos parecia que ela tinha dez de tão miúda que era. E a idéia de que precisava produzir não lhe saía da cabeça. A oportunidade chegou uns dias depois ao descobrir que seus primos vendiam bala nos sinais de trânsito. Resolveu ir com eles e acabou embarcando nessa. Saía cedo e só chegava ao anoitecer para não incomodar muito a tia e os seus primos. Sua tia parecia que vivia nas nuvens, para ela tudo estava bom. Apesar da pobreza viviam em harmonia. Todo domingo a família se reuniam sagradamente na cozinha sentados, esperançosos numa mesa de madeira rústica improvisada, para saborearem a comida simples e caseira de D. Rosa, mas feita com muito amor. Mariana também se juntava, mas o seu olhar estava triste, nessa hora pensa em seus pais e nos seus irmãos que nunca mais os viram. Isso á matava aos poucos e juntamente todas as suas esperanças e sonhos. Mariana agora fez dezoito anos e ainda é pequena, franzina como sempre vendia balas saindo de madrugada. É véspera de natal, sentia–se feliz. Um singelo sorriso aflorava em sua face desfeita. Ao descer o morro avistou a cidade grande. Estavam tão bonitos, com pinheiros, luzes iluminando as casas, comércios. Fechou os olhos e sorriu. Por instantes o se u velho sonho veio á tona de estudar e ser professora. O pôr do sol deu lugar a noite. Falta pouco para o natal. Essa data lembra guloseimas. Hum! Suspirou Mariana. Com seu vestido surrado de bolinha branca e seu chinelo gasto andou por horas. E a hora tão mágica aconteceu. Meia noite em ponto. As pessoas aparentavam felicidade. Um fino restaurante chamou-lhe a atenção. Os seus olhos contemplavam aquelas cenas, onde pessoas bem vestidas dançavam alegremente ao som de cantigas natalinas e se abraçavam e a mesa era farta. E lá fora nem imaginavam que havia alguém com fome, com sede e com frio. O que a entristecia era que tudo parecia irreal. Parecia apresentação de uma peça de teatro... Em que ela estava fora, apenas assistindo, mas sem aplaudir. Sua cabeça não entendia porque uns tem tanto e outros nada e o seu coração sentia muita dor não por sentir fome, sede e frio, mas pela falta de calor humano. Ainda de olhos fechados um cheiro de delícias alcançava suas narinas e enganava o seu estômago, saciou sua sede das goteiras que descia do céu e quanto ao frio abraçou um vira lata que ali estava que com certeza sentia como ela. Abandonados pela sorte. Mariana perdeu a noção do tempo que nem percebeu o dia chegar. Deitou-se no chão frio de ardósia á esperar por um novo dia, um dia melhor e mais justo e que surja com o sol, lindo, majestoso que agora clareia o rosto de Mariana iluminando- o, que a essa altura perdeu a cor, estava pálido e gelado. E sua esperança acabou de vez, pois o seu coração não bate mais, parou dentro de um corpo duro, sem vida atirada naquele chão maldito de ardósia
, A omissão, o preconceito, a desigualdade, o egoísmo e principalmente a falta de amor mais uma vez trancou um sonho dentro do baú e jogou a chave fora. Há! O sonho de Mariana...