A menina e o jardineiro
A mãe e a amiga conversavam. Sentada em um cantinho, ouvia desfiarem os assuntos de sempre. Na cidadezinha do interior, eram comuns as longas visitas. Deslizou para a peça contígua e foi abrindo os olhos às novidades que apareciam a sua frente. Passou pela sala de jantar, pela cozinha e chegou à porta do pátio. Lá fora, o sol queimava, atenuado apenas pelas árvores imponentes. Espichou o olhar e deu com um homem, que lhe sorriu.
- Vem cá.
Perscrutou o rapaz moreno, roupa de trabalhador, que dava uns passos em sua direção. Sentiu um arrepio de medo, não o conhecia, o que desejaria?
- O que tu estás fazendo aqui? - arriscou, na dúvida se entrava ou levava adiante a conversa inesperada.
- Sou o jardineiro, estou podando as árvores. E tu?
- Eu estou com a minha mãe.
Ela observou o ambiente ao redor, havia plantas por todo o lado. O rapaz chegou-se mais.
- Quero te mostrar o quintal. É muito bonito.
Apontou para os fundos:
- Lá atrás, tem uma gruta. Tu conheces?
Não, ela não conhecia. Conhecia apenas a gruta que se encontrava num recanto do pátio, no colégio. Gostava de ficar sentada diante da santa, na hora do recreio. Às vezes, até se esquecia de brincar. As colegas chamavam: "Não queres jogar?" E ela...
O jardineiro continuava a sua frente. Insistiu:
- E então, vens?
Estava naquele impasse quando ouviu, muito perto, a voz da mãe: "Cristina!" E a mãe falou mais alto o seu nome, quase gritando.
Foi então que deu meia-volta, sem mesmo dizer tchau ao rapaz.
- Fica aqui - disse a mãe, parecendo nervosa.
Ela sentou-se num canto do sofá e, por mais um bom tempo, ouviu as conversas das duas. Quando saíram, a mãe disse-lhe que era perigoso falar com estranhos. Não perguntou por quê.