Que lugar é esse?
Os olhos do menino cintilavam de emoção. Na sua idade (10 anos, se tanto), tinha já uma avidez pelo conhecimento, e tudo que passava a sua frente era registrado e decodificado. Se não conseguisse essa proeza, tentava desvendar-lhe o mistério. Procurava ler a respeito (mesmo com a idade ainda tenra, já tinha interesse pela leitura) ou perguntava aos adultos que o rodeavam. Sua família, proveniente do interior, tinha no número de filhos o diferencial. Seus pais tinham uma dezena de filhos, numa diversidade de idades, interesses e conhecimentos. E o menino procurava o seu lugar, adquirindo o conhecimento que lhe caísse nas mãos ou lhe penetrasse os ouvidos ou olhos.
Os passeios habituais da família restringiam-se, aos domingos, ao banho de mar na praia de Boa Viagem (no posto 6) e ao aeroporto do Ibura, para ver pousos e decolagens de aviões. Remodelado, o aeroporto recebeu outro nome: Aeroporto Internacional dos Guararapes. Ajardinado, com 3 áreas de acesso público para acompanhar o movimento dos aviões, era um dos passeios preferidos das famílias e dos namorados, que preferiam o mirante do segundo andar, com seu caramanchão.
Tudo era novo aos olhos do menino: os aviões Convair da Pan Air, os Super Constelation da Real Aerovias, todos enchiam de beleza seus olhos perscrutantes. Mas uma coisa logo o intrigou: Onde ficava o smoking? Ficou procurando na memória alguma referência, mas só lhe vinha aquele traje que seus irmãos mais velhos usavam, alugados na Alfaiataria e Tinturaria Papaléo, para as festas de formatura, que na época exigiam traje de gala. Mas era uma roupa. Não era um lugar.
Sua curiosidade se aguçou mais: onde ficava esse tal de smoking?
Não se conteve e fez a pergunta ao irmão mais velho que naquele dia o acompanhava no passeio.
— Onde fica o smoking?
O irmão, surpreso com a pergunta, não soube responder. Mas não ficou na resposta negativa, ávido que era também por mais conhecimento. E lhe devolveu uma pergunta, para pescar uma pista que o conduzisse à resposta tão ansiosamente esperada.
— Ora, por que você está fazendo esta pergunta? Não sei onde fica esse smoking.
E ele não fez por esperar. Levando o irmão pelo jardim térreo do aeroporto, aproximou-se o quanto pôde da pista de manobras dos aviões. E ali estava a origem de tão intrigante pergunta.
Junto à pista de acesso, bem visível, estava uma placa de advertência:
É PROIBIDO FUMAR
NO SMOKING.