ECO E NARCISO
ECO E NARCISO
Ele sempre me observava com uma intensidade que eu não sabia como lidar. Seu olhar parecia penetrar minha alma, e, por mais que tentasse me desviar, sabia que ele estava ali, tentando entender o que eu estava escondendo. Eu costumava me afastar quando sentia que ele estava me "sondando", como se procurasse algo que eu ainda não queria mostrar. Era difícil explicar, mas havia algo nele que fazia com que eu me sentisse vulnerável, como se não houvesse espaço para me proteger.
Às vezes, quando ele falava, suas palavras pareciam buscar mais do que eu estava disposta a dar. Ele se preocupava com meu silêncio, como se houvesse algo errado por eu não me abrir o suficiente. Mas eu não queria me expor. Não era por falta de carinho, mas por algo mais profundo que eu mesma ainda não entendia completamente.
Eu sabia que ele notava. Ele sempre me perguntava se eu estava bem, como se minha resposta fosse algo que ele esperava ouvir. E eu, muitas vezes, sentia que tinha que proteger minha verdade, por mais simples que fosse. Não é que eu não confiasse nele, mas era como se eu estivesse protegendo uma parte de mim que, ainda não estava pronta para ser revelada.
Havia momentos em que eu me questionava se ele estava realmente investindo em mim ou se simplesmente se envolvia nessa busca incessante de me entender. Eu podia sentir que ele estava tentando me entender, mas era um esforço constante. Como se estivesse tentando fazer com que eu me abrisse, sem forçar, mas também sem desistir.
Quando ele me disse que me olhava como se estivesse tentando desvendar um mistério, eu sabia o que ele queria dizer. Eu via o desejo dele de me conhecer por completo. Mas a verdade era que, quanto mais ele tentava se aproximar, mais eu me afastava. Não era algo pessoal, mas uma necessidade de manter uma distância que, de algum modo, me dava segurança. Ele sabia disso, mas não entendia o motivo.
Eu tentava lhe mostrar, nos pequenos gestos, que estava disposta a estar ali, com ele. Que eu me importava. Mas a questão sempre foi: eu estava pronta para me entregar completamente? Eu sabia que ele queria mais. Ele queria minha confiança, queria que eu fosse mais aberta, que falasse mais sobre mim. Mas havia um medo profundo em mim, algo que me fazia hesitar toda vez que começava a falar sobre algo que poderia me expor.
Às vezes, ele me dizia que eu o fazia sentir que ele estava tentando resolver um quebra-cabeça, e que isso o frustrava. Eu não sabia como explicar, mas para mim, tudo parecia mais complicado do que ele conseguia ver. Ele queria respostas, enquanto eu queria mais tempo. Talvez eu precisasse de mais tempo para entender a mim mesma antes de tentar explicar tudo a ele.
Eu me perguntava, se ele sabia o que queria. Se ele estava disposto a esperar ou se se frustraria. Não queria que ele se sentisse perdido nesse jogo de descobertas, mas, ao mesmo tempo, eu não sabia como ser mais clara sem me sentir exposta demais.
E então, no silêncio das noites em que ele me observava de longe, eu me perguntava: até onde eu poderia ir? Até onde eu poderia me entregar? O que seria suficiente para que ele entendesse que, por mais que eu estivesse ali, ainda havia uma parte de mim que não estava pronta para ser compartilhada?
Ele parecia gostar de me observar, de perceber os pequenos detalhes, como se cada olhar meu fosse uma pista que ele queria seguir. Mas será que ele estava disposto a esperar o tempo que eu precisava para mostrar o que, por dentro, eu estava tentando esconder?
Ele estava ali, como sempre, com aquele olhar que parecia sondar cada canto de mim, tentando descobrir o que eu ainda não tinha revelado. Às vezes, eu sentia que ele queria muito mais do que eu podia oferecer. Queria que eu me abrisse de uma maneira que ainda não conseguia. Mas eu estava tentando. Eu estava tentando de um jeito meu, de uma forma que não fosse forçada.
Eu o observei enquanto ele falava sobre o quanto me achava enigmática, como se fosse um quebra-cabeça que ele queria desvendar. Aquilo me fazia sorrir, mas também me dava um desconforto interno. Não por ele, mas porque eu sabia que, por mais que tentasse me mostrar, ainda havia camadas que eu não podia, ou não queria, deixar expostas.
“Eu me sinto bem com você,” eu disse de repente, de maneira suave, sem querer parecer vulnerável demais. Mas a verdade era que as palavras saíram quase que involuntárias. “Você me faz completa.”
Ele ficou em silêncio por um momento, e eu pude ver o alívio em seus olhos, como se aquelas palavras fossem a resposta para algo que ele não sabia se ainda existia dentro de mim. Ele não disse nada imediatamente, e isso me fez sentir, de alguma forma, um pouco mais tranquila. Era como se ele entendesse que, mesmo com as lacunas, com o mistério que ainda me cercava, eu estava ali, de alguma forma inteira com ele.
Eu queria acreditar que isso era o suficiente, mas uma parte de mim sabia que ele queria mais. Queria mais de mim, mais daquilo que eu ainda não estava pronta para mostrar. Eu sabia que ele sentia que havia mais por trás dos meus olhos, por trás das minhas palavras. Mas eu estava começando a perceber que, talvez, o tempo fosse realmente o que eu precisava para conseguir me entregar mais completamente.
Eu não sabia o que viria depois. Mas sabia que, naquele momento, eu estava sendo o mais sincera que podia. E, por mais que isso fosse difícil, havia algo nele que me fazia acreditar que ele respeitaria meu tempo. Eu não precisava que ele me entendesse completamente agora, apenas que soubesse que, de alguma forma, ele já havia conquistado uma parte de mim.
Mas havia algo mais que eu precisava lidar. Uma parte de mim que ainda se fechava quando eu sentia que ele estava indo rápido demais. Não era medo dele. Era medo de me perder em algo que ainda não compreendia completamente. Eu queria que ele soubesse disso, mas ao mesmo tempo, eu não sabia como dizer.
Eu ainda não tinha todas as respostas. E, de certa forma, ele parecia aceitar isso. Mas eu me perguntava por quanto tempo ele conseguiria esperar. Até onde ele iria antes de querer mais?
O que deveria ser uma conversa leve, como todas as outras, acabou por deixar um resíduo de desconforto entre nós. Às vezes, são as pequenas palavras ditas no momento errado, sem intenção, que deixam marcas sem que ninguém perceba de imediato. Eu não tinha ideia do impacto que uma simples frase poderia causar, e, até hoje, fico pensando se ele realmente se lembra de algo que foi dito naquela noite.
Eu estava falando sobre algo simples, uma lembrança que não tinha grande importância para mim, mas que, de repente, ele respondeu com um tom um pouco mais seco do que o normal. A reação dele foi o que me pegou de surpresa, e por algum motivo, senti que ele estava me avaliando de uma maneira que não gostei. Talvez tenha sido o cansaço, ou talvez ele estivesse tentando ser mais direto, mas aquilo me atingiu de forma sutil e, por mais que eu tentasse, não conseguia afastar a sensação de que as coisas mudaram.
Naquela noite, ele disse algo sobre minhas escolhas, algo que não se encaixava bem. Eu não queria me apegar àquilo, mas a maneira como ele disse, com uma leve crítica, parecia algo que ele não havia pensado direito. Não era sobre mim, nem sobre o que eu havia dito. Era como se, naquele momento, ele estivesse me olhando sob uma lente diferente, e aquilo me desconcertou de tal forma que um silêncio denso se formou entre nós. Não foi uma briga, nem uma discussão. Foi uma frase, um tom de voz, algo que parecia pequeno, mas que, de alguma forma, me fez sentir desconfortável e exposta.
Eu tentei ignorar. Tentei seguir em frente, mas não consegui. Algo ficou ali, pairando no ar, e ele não percebeu. E eu não sabia como dizer a ele que aquela palavra — e a maneira como ele a disse — havia causado uma fratura, uma rachadura imperceptível, mas real. Ele, provavelmente, não se lembrava de nada, mas eu não conseguia tirar aquilo da minha cabeça. Cada vez que eu olhava para ele, era como se aquela frase estivesse ainda ecoando entre nós.
O pior era que eu não sabia como voltar a ser quem éramos antes, como se nada tivesse acontecido. Havia algo entre nós agora, algo que não se desfez facilmente. Eu o observava, mas não conseguia mais ser a mesma. O que ele não sabia, o que talvez ninguém soubesse, é que às vezes as palavras não precisam ser grandes para deixar uma cicatriz.
Com o tempo, comecei a me afastar. Não fisicamente, mas emocionalmente. Comecei a criar uma distância entre nós, não porque quisesse, mas porque não conseguia mais olhar para ele sem pensar no que ele havia dito. Não me sentia mais à vontade. E, por mais que ele tentasse me entender, por mais que ele estivesse ali, aquela rachadura ainda permanecia, e eu não sabia como preenchê-la.
Eu me perguntei se ele ainda percebia, ou se ele estava tão focado em encontrar as camadas mais profundas de mim, que não havia percebido o que estava bem na superfície. Eu queria que ele soubesse, mas não queria ser aquela mulher que trazia à tona as pequenas frustrações. Por outro lado, também não queria continuar assim, sem dizer nada, sem ser honesta sobre como me sentia.
Eu sabia que algo estava diferente, mesmo antes de ele sair. A maneira como ele me olhou, como me deixou na portaria, fez meu estômago revirar. Não foi um olhar de despedida suave, como costumava ser. Ele parecia apressado, como se houvesse algo em seu caminho que ele precisasse resolver — algo além de nós. Mas, mesmo assim, eu não disse nada. Apenas o observei ir embora, tentando não me deixar consumir pelo desconforto.
Fiquei ali, observando ele desaparecer na esquina. Não era só a partida dele, mas a maneira como ele havia me deixado. Algo estava estranho, mas eu não sabia exatamente o quê. Eu queria mais dele, mais daquele toque que costumava ser constante, mais daquele sorriso que sempre me acalmava. Mas ele estava distante, e isso não era só físico. Era uma distância que estava se formando entre nós, mais profunda do que a simples separação de alguns metros.
O impulso veio sem aviso. Peguei o telefone e liguei, querendo saber o que estava acontecendo. Eu não podia deixar as coisas assim, não sem pelo menos tentar entender. Ele atendeu logo, mas sua voz estava diferente. Havia algo de fechado nela, algo que me fez sentir que ele estava se segurando, mas sem saber por quê.
Ele aceitou a ligação, e em poucos minutos, ele estava de volta. Subiu para o apartamento, mas algo nele havia mudado. Quando ele entrou, parecia como se estivesse tentando se proteger de algo — ou de mim. Seus gestos estavam mais calculados, sua expressão mais rígida. Não era o homem que eu conhecia. Ele estava ali, mas ao mesmo tempo, distante. Como se já tivesse decidido, antes mesmo de me ver, que não podia mais se entregar completamente.
Eu tentei começar uma conversa, mas ele não parecia interessado em seguir o ritmo normal de nossas interações. A conversa parecia forçada, com ele dando respostas curtas, como se estivesse se distanciando sem palavras. Ele não estava me olhando da mesma maneira. A suavidade do olhar dele, que sempre me fez sentir segura, estava substituída por uma espécie de bloqueio que eu não sabia como interpretar. Cada palavra que ele dizia parecia ser pensada demais, como se ele estivesse segurando algo que não podia me mostrar.
Eu sentia isso, e sabia que ele sentia também. O desconforto estava no ar, e, por mais que tentássemos não tocar no assunto, ele estava presente, entre nós. Eu queria perguntar o que estava acontecendo, queria entender o porquê daquela mudança. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em mim que me dizia para não fazer isso. Não queria forçar uma explicação, não queria ser a mulher que pedia respostas sem estar preparada para elas.
Então, ficamos ali, no silêncio crescente, e eu percebi que, por mais que ele estivesse ao meu lado fisicamente, uma distância insustentável estava se criando entre nós. Ele estava ali, mas não estava realmente ali. E eu? Eu estava tentando descobrir como manter a calma enquanto tudo ao meu redor começava a se desfazer em um cenário que eu não conseguia mais controlar.
Minutos depois, eu estava na cama, sozinha, com os pensamentos invadindo minha mente, como uma correnteza que não podia controlar. Aquele desconforto ainda pairava no ar, e eu não conseguia afastá-lo. Quando ele foi embora, algo dentro de mim se partiu, mas eu não sabia explicar o que era. Ele se despediu com um sorriso, mas aquele sorriso não tinha o calor de antes, nem a promessa de algo mais. Foi como se ele tivesse deixado uma parte de mim ali, naqueles segundos, e fosse embora levando um pedaço de tudo o que estávamos construindo.
Eu tentei me convencer de que estava tudo bem, que talvez ele tivesse apenas um dia ruim ou que havia algo em sua cabeça que ele ainda não estava pronto para compartilhar. Mas, enquanto eu ficava ali na cama, sem conseguir dormir, o silêncio dentro de mim se tornava cada vez mais insuportável. A sensação de estar desconectada, de que algo tinha se quebrado sem que eu tivesse percebido, se arrastava pelos meus pensamentos.
Acordei no dia seguinte e, em algum lugar dentro de mim, eu já sabia que as coisas não seriam mais as mesmas. Tentei dar espaço, tentar ignorar o que havia acontecido, como sempre fiz, mas não dava mais para esconder a distância que estava surgindo entre nós. As mensagens, que antes fluíam com facilidade e naturalidade, agora pareciam estranhas e forçadas. Eu tentava digitar algo, mas as palavras não saíam como antes. Era como se o simples ato de escrever fosse uma tarefa difícil demais. E, então, eu parei de responder.
Eu sabia que ele esperava algo de mim, alguma reação, alguma explicação, mas eu não tinha nada para dizer. Ele já havia ido embora fisicamente, e agora parecia que ele estava se afastando também de maneira emocional. Eu sentia que, se respondesse, ele perceberia que eu estava tentando preencher um vazio que não sabíamos mais como resolver. Então, me afastei, me escondi atrás do silêncio. Eu sabia que ele poderia ficar chateado, ou talvez até confuso, mas eu não estava pronta para falar. Não sabia o que dizer. Não sabia o que ele queria de mim, ou o que eu queria dele.
Eu me afastei porque, no fundo, talvez fosse mais fácil assim. Ficar distante, deixar o silêncio preencher os espaços entre nós. Porque, se eu tentasse me aproximar, talvez houvesse mais perguntas, mais incertezas, mais quebra de coisas que já estavam começando a desmoronar. Talvez, se eu ficasse quieta, ele encontrasse um caminho de volta, ou talvez a distância fosse o que precisava acontecer para que as coisas se resolvessem por si mesmas.
Então, as mensagens continuaram chegando, mas eu não as respondi. O vazio que se formou entre nós agora era maior, e eu não sabia como romper aquele silêncio que eu mesma havia criado.
As horas passaram, e o silêncio foi preenchido apenas pela constante vibração do meu celular. Mensagens não lidas, uma após a outra. Eu vi todas, mas não toquei em nenhuma delas. Cada uma era como uma linha jogada em um mar de incertezas, uma tentativa de alcançar algo que eu não sabia se eu ainda queria agarrar.
Eu sentia o peso de cada palavra, mesmo sem lê-las. Ele estava tentando, eu sabia. Mas o que eu sentia não podia ser respondido com um simples "estou bem" ou "estou pensando em você". Eu não estava bem. Eu não sabia mais o que estava acontecendo. Ele estava indo fundo em um lugar que eu não sabia se ainda podia ou queria acompanhar.
Então, veio a última mensagem, a que parou tudo por um momento:
"Oi, você é muito especial e importante para mim. Quero te ver, essa distância está me consumindo. Fala comigo."
Eu li as palavras mais de uma vez, mas nenhuma delas parecia me alcançar da maneira que ele provavelmente esperava. Eu sabia que ele estava se abrindo, e aquilo me fazia querer retribuir, me dar a chance de falar, de esclarecer tudo o que estava acontecendo. Mas algo me segurava, uma mistura de medo e um orgulho silencioso, que agora estava tomando conta de mim.
"Essa distância está me consumindo", ele disse. Mas, naquele momento, a distância que ele mencionava não era só física. Era mais do que isso. Era uma distância emocional, algo que eu estava criando por medo de me entregar demais, por medo de me mostrar vulnerável. Ele queria que eu falasse, queria que eu explicasse o que estava acontecendo, mas eu não sabia nem como começar. Não sabia se ainda tinha as palavras certas para dizer.
Eu queria responder, queria devolver o que ele estava me oferecendo — mas a verdade era que eu me sentia perdida em mim mesma. Eu havia me afastado não só dele, mas de mim mesma, e agora ele estava tentando me puxar de volta. Eu sabia que as palavras dele eram sinceras, mas não sabia se eu estava pronta para lidar com a carga emocional que aquilo traria.
O celular estava na minha frente, sua mensagem piscando na tela. Eu respirei fundo e deixei os dedos flutuarem sobre o teclado, sem saber se eu deveria escrever ou apenas deixar o silêncio continuar me protegendo.
Eu olhei para a tela do celular, as palavras dele brilhando ali, e o peso do silêncio se arrastou pelo meu peito. Eu deveria responder, não deveria? Mas, ao mesmo tempo, eu me sentia completamente imersa em uma confusão de sentimentos. Ele estava tentando, eu sabia, mas eu… eu estava tão distante, tão perdida no meu próprio labirinto emocional.
Eu me senti egoísta, insensível. Como eu pude me esconder atrás desse silêncio? Ele sempre foi transparente comigo, sempre foi claro sobre o que sentia, mas eu… Eu sempre fui inconstante, sempre criei muros onde ele só queria derrubar barreiras. Em todos os meus relacionamentos anteriores, eu sempre me afastei no momento em que algo real parecia acontecer. Eu me sabotava, não por querer, mas por medo. Medo de me entregar, medo de me machucar.
E agora, eu estava fazendo isso com ele. Ele só estava tentando me mostrar o quanto sou importante, mas eu… Eu me afastei. Me protegi. E, no fundo, sei que ele estava esperando mais de mim. Ele estava se entregando, e eu, tão acostumada a me proteger, me mantive distante.
Me lembrei do que dissemos dias atrás, quando falamos sobre blindar a nossa relação. Eu não podia negar que ele havia me dado algo tão raro, algo que eu queria preservar. Ele queria isso, eu também queria. Mas, de alguma forma, minha mente estava criando uma distância que eu não sabia como explicar. Eu desejava estar com ele, sentia essa vontade de me aproximar, de sentir o toque dele novamente. Mas, por algum motivo, a ideia de abrir o coração, de deixar que ele visse tudo o que eu realmente sentia, me paralisava.
O que eu estava fazendo? Ele era tudo o que eu precisava, tudo o que eu queria, e eu estava me afastando. Eu sentia a falta dele em cada canto do meu ser, mas, ao mesmo tempo, me vi fugindo daquilo que me faria feliz. Eu o via em minha mente, sorrindo, e era como se todo o meu corpo desejasse estar com ele, mas a minha mente… ela estava em guerra.
Eu precisava responder, precisava abrir meu coração e dizer o que realmente sentia. Mas eu estava com medo. Medo de me mostrar vulnerável, medo de ser algo que eu não sabia se poderia ser. Eu queria a paz, queria estar com ele, mas algo dentro de mim ainda estava fechado.
Eu olhei para a mensagem dele de novo. "Oi, você é muito especial e importante para mim. Quero te ver, essa distância está me consumindo. Fala comigo."
Eu li e reli, e percebi que as palavras dele estavam me chamando para algo mais profundo. Eu queria falar, queria dizer que sentia o mesmo, que estava tão disposta a construir aquilo com ele. Mas a dúvida ainda me dominava.
Eu me sentia tão egoísta agora. Ele estava sendo honesto, aberto, e eu? Eu estava me escondendo atrás de desculpas que nem eu mesma acreditava mais. Eu estava me afastando dele, mesmo sabendo que ele só queria me fazer sentir segura.
Eu não conseguia parar de olhar para a tela do celular. As palavras dele estavam ali, como uma verdade nua e crua, e elas não saíam da minha cabeça. “Oi, você é muito especial e importante para mim. Quero te ver, essa distância está me consumindo. Fala comigo.” Eu sabia que ele estava falando sério. Mas eu… Eu? Eu estava fazendo exatamente o oposto. Estava me afastando, estava me escondendo em um orgulho insensato que parecia maior do que minha vontade de estar com ele.
É engraçado como a gente constrói defesas, como cria essas barreiras que, no fim, são só medo. Eu sei que isso é coisa minha, algo que aprendi a fazer, a me proteger. Mas, por que ele? Por que eu estava tratando ele assim? Ele não merecia meu silêncio, minha distância. Eu estava jogando fora algo que era tão bom, tão verdadeiro. Ele estava se entregando, mostrando seus sentimentos, seu carinho, e eu estava... me afastando. E por quê? Por medo de me machucar? Medo de me entregar a algo que poderia ser muito maior que eu?
Me lembrei dos momentos que passamos juntos, de como ele me olhava, de como seu toque me fazia sentir protegida, segura. Quando ele estava perto, parecia que o mundo todo desaparecia. O jeito como ele sorria para mim, como me fazia rir até nos momentos mais tensos. Ele era tão carinhoso, tão dedicado. Eu me sentia cuidada de uma maneira que nunca pensei ser possível, como se ele estivesse sempre atento às minhas necessidades, aos meus desejos, sem pressa, sem cobranças.
Mas era engraçado, porque eu não estava correspondendo da mesma maneira. Ele me dava o melhor de si, e eu me afastei. De repente, parecia que eu estava me tornando tudo o que ele nunca precisaria: distante, egoísta, insensível. Eu me senti uma fraude. Ele merecia mais do que isso. Ele merecia alguém que estivesse ali, ao lado dele, que soubesse que a vulnerabilidade não era fraqueza, mas força. Mas eu estava apenas me protegendo, me escondendo em uma casca que, no fundo, eu sabia que não me fazia bem.
Eu pensei em tudo o que ele havia feito por mim. Ele não só estava disposto a me dar o carinho, a atenção que eu tanto precisava, mas também estava ali para mim de maneiras que eu nunca soube como pedir. Ele sabia dos meus medos, sabia que eu tinha um passado que me fazia hesitar em confiar, mas ainda assim ele estava lá, oferecendo sua confiança, sua presença. Ele me tocava com uma delicadeza que nunca experimentei, como se quisesse que eu me sentisse segura o tempo inteiro.
Eu me lembrava de como ele se preocupava comigo, de como me perguntava se eu estava bem, se eu precisava de algo. Ele nunca se cansava de fazer isso, nunca se sentia incomodado com a minha complexidade, com meus silêncios. Ele era tão paciente, tão compreensivo, e eu, no entanto, estava me distanciando dele. Ele também precisava de mim. Não só como companheira, mas como alguém em quem ele pudesse confiar, alguém que o entendesse, que o apoiasse, que o ajudasse a lidar com seus próprios problemas. Ele também tinha suas fraquezas, mas, ao invés de me aproximar, eu estava o deixando para trás.
Eu estava sendo tão orgulhosa, tão fechada. Ele precisava de mim tanto quanto eu precisava dele, e eu sabia disso. Mas eu estava me permitindo deixar o orgulho dominar, me deixando levar por um medo irracional de me entregar completamente. Isso não fazia sentido. Se ele pudesse ser tão vulnerável, tão aberto comigo, por que eu não poderia ser com ele?
Eu pensava nos nossos momentos mais simples, aqueles em que ele estava ali, ao meu lado, sem dizer uma palavra, mas ainda assim me fazendo sentir completa. Ele não precisava de grandes gestos; bastava sua presença. Ele me fazia sentir que o que estava entre nós tinha um significado real, e, apesar de minhas inseguranças, eu sabia que ele merecia minha confiança, meu carinho.
Mas, ao invés disso, eu estava me afastando. Eu estava deixando o medo e o orgulho tomarem o controle. Eu estava criando uma distância que não precisava existir, uma distância que me fazia sentir vazia. O que eu estava fazendo? Estava jogando fora tudo o que ele me dava, tudo o que ele era.
Agora, olhando para a tela, percebi que eu não podia mais continuar assim. Ele merecia mais do que meus jogos, mais do que o silêncio. Ele merecia alguém que o tratasse com a mesma dedicação, com o mesmo carinho que ele sempre teve por mim. Eu sabia que precisava mudar, precisava quebrar as barreiras que eu mesma construí. Mas como fazer isso? Como deixar o medo de lado e finalmente me entregar ao que ele estava oferecendo?
E, ao pensar nisso, uma parte de mim finalmente se permitiu sentir. Eu sentia falta dele. Eu queria estar com ele. Eu queria que ele soubesse o quanto ele era importante para mim, o quanto ele tinha me feito me sentir inteira. Talvez fosse hora de parar de ser tão orgulhosa, tão insensível, e começar a ser a pessoa que ele merecia.
Eu não sei o que aconteceu comigo. Eu estava ali, olhando a tela do celular, os dedos inquietos, prontos para responder. Ele havia me mandado uma última mensagem: "oieee. Posso te ligar?" Eu vi as palavras brilhando na tela, mas, ao invés de tocar a resposta, eu fiquei ali. Me senti presa em algo que não sabia exatamente o que era, mas que me impedia de agir.
Eu queria responder. Queria sentir o calor da voz dele, aquela conexão que sempre me fazia sentir algo que eu não sabia explicar. Mas, no fundo, havia algo em mim que me dizia para não ceder. Ele me tinha em suas mãos, e eu não queria ser mais uma que se entregava fácil. O orgulho era maior que o desejo. E era ele quem precisava de mim, não o contrário.
Eu fechei os olhos, respirei fundo e decidi não tocar na tela. Não queria ceder ao impulso, não queria me mostrar vulnerável, mesmo que cada parte de mim gritasse para dar o primeiro passo e quebrar o silêncio. Mas eu sabia, mesmo que de maneira amarga, que se eu respondesse, eu estava dando a ele tudo o que ele queria — e isso, para mim, não era o suficiente. Não ainda.
A mensagem ficou ali, na tela, me desafiando, mas eu me mantive firme, na minha posição, como sempre fiz. E, enquanto a vontade de estar com ele queimava por dentro, eu decidi não responder. Eu me sentia uma idiota, mas ao mesmo tempo, havia uma parte de mim que dizia que, talvez, ele me procurasse mais tarde, mais uma vez. Talvez, mais do que nunca, ele entendesse que eu precisava de algo mais do que simples palavras.
E assim, ali, na solidão do meu silêncio, eu fechei o celular e deixei a mensagem ir embora, como todas as outras que ele me enviara. Eu mantive o controle. Eu mantive o orgulho.
Ele sabia onde me encontrar, se quisesse.
Fernando Brasil.