O Dom-Parte 1

Diana procurava aflita os papéis perdidos naquele seu mundo de fantasias. Chutou com raiva os pares de tênis desencontrados espalhados pelo chão. Nas últimas doze horas vinha escrevendo mergulhada nas profundezas de mais um surto criativo; sentada na beira de sua cadeira de balanço datilografava avidamente, na Olivetti Lettera 82 Portátil apoiada sobre a banqueta de madeira, as palavras dançavam em seu coração, e dominavam sua mente. Escrever era seu dom. Por mais que nada daquilo tivesse algum sentido, ela sabia o quanto sua alma e os anjos protetores ficavam felizes quando o surto se acalmava, a tempestade secava, e ela lia e relia as suas palavras cruas, insanas, puras como lírios no meio de um matagal. Seus textos ocupavam muitos cadernos. Escrevia desde menina. Com dez anos construiu seus primeiros poeminhas e correu pra contar a novidade a sua Tia Sofia, uma senhora amorosa, parecida com Diana, passava mais tempo nas nuvens do que na Terra. Escrever era uma tradição de família. E, compartilhando suas poesias infantis, Diana ganhava bolo de chocolate e muitas palavras lindas escritas por sua tia avó, que lia para ela ora feito declamadora, ora como contadora de estórias. Uma leitura quase teatral. O brilho nos olhos atentos de Diana revelava todo encanto que sentia naqueles momentos mágicos.

Diana sorriu diante das lembranças de sua tia, mas rapidamente voltou a procurar as folhas perdidas. Desamassou algumas bolas de papel jogadas no cantinho entre a cadeira e a janela do seu quarto. Nada. Irritada foi tomada por palavras dançantes...

"Diana é a deusa da caça, e eu caço versos perdidos, espalhados pelo silêncio da casa"

*Si*

Obs: este conto foi escrito em 2015 por ocasião da minha "iniciação" junto a um grupo de escritores lusófonos, que infelizmente se desfez logo depois.

Simone Ferreira
Enviado por Simone Ferreira em 02/04/2025
Reeditado em 02/04/2025
Código do texto: T8300076
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