Jardins da Babilônia

Jardins da Babilônia

Cardoso I

A sala do tribunal estava tomada por um silêncio denso, quase palpável. O réu sentado diante dos jurados exalava uma calma que beirava a provocação. Amélia ajeitou os papéis à sua frente, sentindo o peso dos olhos dele sobre si. Desde o primeiro dia, algo nela sabia que aquele caso seria diferente.

— Senhoras e senhores do júri — começou, a voz firme —, o que temos aqui não é um assassino, mas um homem injustamente acusado.

Ela lançou um olhar para ele, que sorriu de canto, como se saboreasse cada palavra sua. Ele se chamava Davi Montenegro, e seu nome estava atrelado ao brutal assassinato de um empresário influente da cidade. As provas eram circunstanciais, frágeis demais para condená-lo. Mas a narrativa da promotoria era poderosa: um homem perigoso, de charme venenoso, capaz de seduzir e enganar qualquer um.

Amélia deveria ser imune. Mas não era.

Nas longas noites de estudo do caso, os encontros entre os dois se tornaram algo mais. O tom das conversas mudou. Os olhares demoravam-se mais do que o necessário. Uma noite, quando ela estava prestes a sair do escritório, ele segurou sua mão.

— Você acredita em mim, doutora? — A voz dele era um convite.

Ela acreditava. Ou queria acreditar.

A cada audiência, Amélia desmontava as acusações, uma a uma. Encontrou falhas na investigação, testemunhas duvidosas, um álibi esquecido. No dia da absolvição, Davi virou-se para ela e sussurrou:

— Você me salvou. Como posso te retribuir?

O julgamento terminara, mas o jogo entre eles apenas começava.

A noite era quente, e o vinho tingia seus lábios de carmim. Estavam sozinhos, longe do peso da ética, da moralidade que os separava.

— Sabe, Amélia… — Davi deslizou os dedos pelo braço dela. — Você é brilhante. Mas sempre soube que se apaixonaria por mim.

Ela sorriu, bebendo um gole do vinho.

— Arrogante.

— Realista.

Os olhos dele eram um abismo, e ela mergulhou sem hesitar. Quando seus lábios se encontraram, não havia mais tribunal, não havia mais regras. Havia apenas desejo, intenso e proibido. E naquela noite, ela se perdeu nos jardins da Babilônia.

Na manhã seguinte, enquanto a cidade despertava, Amélia observou Davi dormir ao seu lado. A mente lhe dizia que havia cruzado um limite. O coração, no entanto, insistia que não havia escolha.

Ele estava livre. Ela estava entregue.

E nada mais importava.

Ivonoel cardoso
Enviado por Ivonoel cardoso em 25/03/2025
Código do texto: T8293682
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