UM BANDIDO NO OUTRO MUNDO
A lama fétida descia vagarosamente pela ladeira de um barro escuro e pegajoso. Naquele lugar repugnante e deserto, num dia cinzento e de um ar frio, Sóstenes se viu deitado no chão e sem forças para levantar-se, tal o estado de sonolência em que se achava e sem entender o porquê de ali estar. Apenas lembrava-se vagamente da noite anterior, ocasião em que bebia demasiadamente com pessoas as quais não conseguia lembrar os nomes.
A lama fedorenta já aumentava o volume e praticamente envolvia todo o seu corpo. Sóstenes fazia todo o esforço para pelo menos mover um de seus membros, mas era impossível, sentia-se grudado ao barro e tendo a sensação de que em pouco tempo estaria coberto e asfixiado.
Na noite anterior Sóstenes bebia com alguns elementos de uma facção criminosa, local onde freqüentemente planejava roubos e assassinatos. Ostentava vida nababesca apesar de morar em um local de invasões e repleto de bandidos, porém era respeitado e temido por todos os moradores dali. Ao sair dali foi emboscado por cerca de dez elementos contrários às suas atividades ilícitas, ocasião em que houve um tiroteio e ele foi mortalmente atingido. Seu corpo tombou em uma ladeira e seus seguranças nada puderam fazer a não ser se protegerem e tentar salvarem suas vidas. Chovia nesse momento e a água descia pela ladeira misturada ao barro, ensopando o corpo do bandido Sóstenes, que ainda permanecia com vida, mesmo tendo sido atingido por várias balas. O local da cena encontrava-se com pouca iluminação, Sóstenes ficou sem entender aquela situação, fazia um imenso esforço para levantar-se mas era em vão. Sentia as forças lhe fugirem e viu que seria difícil escapar dali com vida. Em alguns minutos tudo escureceu e o temido bandido teve seu fim trágico.
- Levanta-te! - Uma voz despertou Sóstenes de sua profunda sonolência e o fez levantar-se imediatamente, mesmo não compreendendo ainda tal situação. Um sujeito mal encarado e usando uma capa escura e um chapéu lhe ordenou que o seguisse.
- Estamos precisando de você aqui. Lá onde estava não teria mais serventia. Você agora é dos nossos.
Aos poucos Sóstenes entendeu que o mundo em que vivera não mais lhe pertencia e que agora viveria em outra esfera da vida.