O medo é um estado de poesia - 9 - A festa no céu

Vovó Tuta resolveu contar mais uma história pra gente dormir.

– Vó, por favor, não conta nenhuma história assustadora dessa vez. Tá?

– Tá bom, querida.

– Hmmmm! Vamos ver... Quando era criança, minha mãe Olga, a bisavó de vocês, costumava contar essa história.

Todas as aves estavam alvoroçadas e alegres, prepa-rando-se para o grande acontecimento: uma festa no céu. A bicharada que não voava ficou triste; alguns com inveja por não poder ir.

Nossa! Festa no céu! Era um grande acontecimento, com seus salões brilhantes e dourados, tapetes macios de nuvem e luz prateada de estrelas.

O sapo não se conformou. Dizia a todo mundo que iria à festa no céu, mesmo sem asas. Os bichos de penas davam risadas, não acreditavam.

Na última hora, quando as aves se preparavam para partir, o malandro do sapo-boi meteu-se dentro da viola do urubu e viajou de carona, sem que ninguém suspeitasse de nada. Quando as aves viram o sapo na festa, ficaram admiradas e se perguntavam como ele havia conseguido.

O sapo só queria saber de comer, beber e de dançar. Fez isso até o fim da festa. Quando viu uma brecha, entrou de novo na viola do urubu. Vendo todas as aves irem embora, o urubu

não fez por menos. Agarrou sua viola e tocou para casa, vrru-vrru-vrru... vrru-vrru-vrruuuu...

Mas, como o sapo tinha comido demais, ficou muito pesado. O urubu, cansado com o peso, no meio do caminho de volta, desconfiou e, olhando dentro da viola, descobriu seu passageiro clandestino:

— Compadre sapo! Você não me escapa! Vou jogá-lo daqui de cima, para que você aprenda, de uma vez por todas, a não ser atrevido.

De nada adiantou implorar, protestar ou chorar. O sapo despencou numa "queda livre" e veio gritando:

— Sai pedra, senão eu te racho! Sai pedra, senão eu te racho! Croac! Croac! Croac! Vou pro beleléu, se eu escapar desta, nunca mais festa no céu!

Quando ele chegou ao chão, se esborrachou na pedra e partiu-se em milhares de pedaços. O urubu chegou logo em seguida e ainda fez gozação:

– Ué, compadre! Já chegou? Veio rápido, hein?!

Não obteve resposta.

Os bichos que não voavam tiveram dó dele. Juntaram e costuraram todos os seus pedaços. E é por isso que o sapo-boi até hoje tem o corpo achatado e todo remendado.

– Essa história não é boa, crianças? Ela também faz parte do folclore brasileiro.

– Engraçada, né, vovó?

O sapo espertalhão

Quis ir à festa no céu

Mas não sabia voar

Caiu e foi pro beleléu

Sandra Ferrari Radich ll
Enviado por Sandra Ferrari Radich ll em 15/03/2025
Reeditado em 15/03/2025
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