O medo é um estado de poesia - 8 - De ponta cabeça
De ponta cabeça
Nessa noite horripilante, nem história boa como essa da princesa, nos fazia dormir. Mas também, a noite não estava nada boa. Havia goteiras pela casa toda. E minha mãe, coitada, colocava panelas espalhadas por todo canto, para que não ficasse tudo inundado. Uma pequena goteira caía justo em mi-nha cabeça, não me deixando dormir. Inquieta, eu me virava de um lado para o outro. Vovó disse que eu ia ficar com o estôma-go embrulhado.
– O que é estômago embrulhado, vovó Tuta?
Juca imediatamente explicou:
– Ela vai pegar papel e embrulhar o seu estômago!
– É isso mesmo, vovó? - perguntei assustada.
Juca continuou a zombar.
– E vai fazer um laço de fita bem grande, bem bonito e dar de presente para a velha Pisadeira. – e começou a dar muita ri-sada.
– Não, minha querida, é só uma maneira de dizer que vo-cê vai ficar enjoada. – Explicou-me vovó.
Meu irmão é muito chato. Quando não entendo alguma coisa, pergunto, senão fico boiando e imagino um monte de coisas erradas.
– Até parece que você sabe tudo, né, Juca? O famoso “Eu sei!”. Seu chato!
Continuei a remexer na cama até parar de ponta cabeça. E assim, fiquei perdida em meus pensamentos, vendo os bichi-nhos no telhado. É muito divertido ver os bichinhos se escon-
derem nos vãos das telhas. Gosto dessa palavra: vã, vão, vãs, vãos...
Pensamento em vão
No espaço vão
Voa livre o coração
A dar asas à imaginação