O grande dia
O dia finalmente chegou. Augusto Cesar, médico, casado, pai de 3 meninas criadas e formadas, finalmente podia se olhar no espelho e encarar o peso de toda a sua vida. Sabia o quanto havia batalhado para chegar até aqui e sabia também que hoje seria mais um passo importante para a sua caminhada. Foi por isso que, ao acordar, preparou um café da manhã leve, com frutas e suco. Barbeou-se e vestiu seu tradicional terno cinza. Sua esposa o olhava sorridente do canto da porta.
- Tá bonito...
- Você acha?
- Sim - respondeu ela se aproximando - lindo e grisalho, meu coroa!
- Nós dois, né?
- Tá nervoso?
- Que nada! Tiro de letra.
- Eu sei.
Se beijaram. Augusto sabia que cada momento ao lado de Helena era uma queda e edificação de nova cidade, por isso a amava. Terminou de arrumar-se e esperou por seu sobrinho, Júlio, para irem juntos. Quando seu sobrinho finalmente chegou, embarcaram e seguiram rumo ao Hospital Memorial, onde Augusto seria recepcionado. No caminho, aproveitou para rever todos os protocolos de hoje. Viu se não havia esquecido de nada.
- Tudo certo aí, tio? - disse Júlio.
- Claro!
- Finalmente, hein!
- Chegou o dia!
- Vai que é sua!
Chegaram. Na recepção, dona Joyce o abraçou efusivamente. Seguiram caminhando por um longo corredor onde viram alguns colegas de trabalho de longa data, todos com sorriso no rosto. Até que finalmente pararam diante de uma porta onde estava o doutor Virgílio, um dos mais antigos médicos do hospital.
- Olha o Júlio, - disse ele - tá sumido.
- Estudando muito, doutor - respondeu o rapaz
- Júlio - disse o tio - pode esperar que agora é aqui.
- Às ordens, patrão.
E entraram. Augusto e Virgílio se encararam quase não acreditando naquele momento, conheciam-se há mais de vinte anos e mesmo esses anos não os havia preparado para esse rito de passagem.
- Está pronto? - perguntou Virgílio
- Quando quiser.
E enquanto Virgílio punha a luva e o gel, Augusto abaixava as calças para fazer o exame de próstata.