Quando a lágrima sorri... BVIW

 

Ao olhar aquele chinelo Havaianas número 45/46, ao alcance de sua mão, Eliza emocionada, conteve-se... Em pleno sábado, tórrido, de Carnaval, estava em uma loja para comprar uma sandália com tiras douradas. Já havia escolhido, quando resolveu observar mais uma vez alguns pares; depois de percorrer com os olhos mais alguns, avistou a saudosa Havaiana branca, sentiu, fragmentos da memória a envolverem num redemoinho de imagens, aromas e sons...

 

Logo em seguida, a simpática vendedora lhe perguntou.

 — Deseja ver mais algum calçado?

Eliza demorou para responder, como se estivesse em transe, em outro mundo.

— Não, muito obrigada, querida.

 

O número 45/46 não se encontrava com facilidade e já era um hábito, quando o visse comprar para um de seus filhos, o Adriano, com 42 anos de idade. Por isso, ao ver a sandália, tantas lembranças voltaram, como se pudesse sentir a maciez e fragilidade dos pezinhos dele quando nasceu e em sequência acompanhar seu crescimento, suas conquistas e determinação de continuar sua vida e de sua família, em Portugal. 

 

As memórias de amor desenham nos sussurros dos passos ausentes, a saudade-tecelã, qual tessitura da lágrima que sorri...

 

. Conto – Tema: Fragmentos da memória