Reflexão alada

Ele olhava as luzes da cidade. Do alto daquele prédio, no beiral, podia ouvir as conversas, os pensamentos e sentir o coração de cada pessoa. E Marselha não era uma cidade com poucas pessoas.

Eu finalmente entendi. Entendi o porquê de eu ser tão poderoso aqui, mas minha contraparte ser tão fraca. Pelo menos agora ele começa a despertar e entender os significados.

O outro ouvia-o e também olhava para as pessoas lá embaixo. Uma brisa fria do mar soprava e ele enfiava as mãos no bolso do sobretudo. Não que sentisse frio, era um costume. Respondeu ao irmão.

Somos o equivalente a deuses...

Não pôde deixar de sorrir e esse sorriso calou o irmão. Ele balançou a cabeça.

Talvez. Deus é uma palavra de sentido poderosa e abstrata. O arquétipo deus é diferente pra nós e pra eles. Meus poderes foram adquiridos depois de muita compreensão e luta. Lembra que todos desconfiaram de que eu seria seduzido? De fato, poderia ter sido. Mas as reflexões e o entendimento não me permitiu ser corrompido. Agora eu entendi, que ele despertou e vêm buscando se fortalecer. Também entendi que a concepção de poder pra mim e pra ele é bem diferente. Ele quer conhecimento. Nada de respostas para as perguntas. Entendendo tudo, as respostas serão inúteis e as perguntas vazias.

O outro em silêncio refletiu as palavras. Expandiu suas asas de penas brancas. Asas que foram invocadas.

Creio ter entendido. Mas diferente de nós o caminho dele é árduo e incerto. Não há garantias de que ele terá êxito na jornada.

Teve que concordar com o irmão. Invocou suas asas. Asas membranosas que lembravam asas de morcego.

Não é essa questão, meu irmão. Ele não pensa no êxito ou na falha. Ele entendeu que o conhecimento virá no percurso. E isso lhe dá uma grande vantagem.

Ele abriu suas asas e alçou voou e ganhou a noite fria. Seu irmão ponderou suas palavras e depois impulsionou-se para o alto e voou atrás do irmão.

Ele realmente mudou, pensou.

Wesley Curumim