O palco estava armado as luzes estavam piscando e o DJ parecia um tanto ansioso. Não era aquele tipo de ansiedade de quem terá que realizar uma tarefa que não sabe fazer… era pura expectava. Havia silêncio e um murmurinho ou outro das pessoas que estavam ali pela primeira vez.
– E ela…! – Desse alguém de repente, sussurrando, mas quase todos puderam escutar. – ELA chegou!
“COM VOCÊS: VORIAN!!”
As cortinas se abriram e ela entrou vestindo um macacão de couro. Seus cabelos enormes, lisos e pretos estavam amarrados para cima. A maquiagem era algo que lembrava a “Siouxsie and the Banshees”, mas seus traços eram extremamente finos, seu corpo era magro com exceção dos seios e bunda.
– Um homem que estava sentado numa mesa com a namorada, questionou… – Tem certeza de que ela NÃO É MESMO uma mulher?!
– Ela parece ser… tudo que ela quiser ser. – Respondeu a mulher.
Vorian fazia os contorcionismos mais esquisitos possíveis. As pessoas Faziam “ooh!!”, “Meu Deus”, “Como não quebra nenhum osso?” e ao som da música “One Way or Another” da banda “Blondie” ela dava seu show.
No meio do show ela arrancava quase toda a roupa… mostrando um maiô extremamente decotado, do tipo Elvira que não ficaria bom na maioria das mulheres e também Drag Queens que quisessem usar. Quando ela ficava assim, quase nua, ela se aproximava das mesas… descia do palco e ia pra cima das pessoas. Provocando a todos, principalmente os homens casados (ela tinha um certo “poder” de encontrá-los ou aqueles tipinhos que fingiam que não queria estar ali e que não estavam amando assistir aquilo tudo.
As pessoas iam enfiando notas de cem em seu decote e ela se inclinava até elas, bem perto da boca, sem dobrar a perna nem um pouco. Parecia a deusa Nefertiti encarnada, sua cabeça era fina e grande e seus olhos eram de um mel diferente. Podia fazer com todos ali o que bem entendesse…
Afinal, o show acabou. Outras entraram, mulheres ou não. Perto do final uma banda de samba começou a tocar, afastando as pessoas, muito mais do que atraindo.
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Três horas tinham se passado. Vorian estava sentada com a TV ligada num documentário que falava sobre os tais “Deus Astronautas”. Ela amava aquilo. Deu um riso sarcástico e fez um “Pff…!! Deuses…Imagina…!!”, se divertia vendo aquelas teorias de que um dia alienígenas fariam contato direto com a Terra. Ou que tinham se dado o trabalho de construir pirâmides.
– Estão tão longe de estarem prontos. – Respondeu sozinha ao homem da televisão; enquanto bebia uma garrafa de vinho numa taça. – Se levantou e foi até o banheiro. Parou em frente ao espelho sorrindo. Levou as duas mãos atrás das orelhas, como se ali houvesse uma espécie de botão que descolava seu rosto e toda a roupa humana em seu corpo. Puxou o rosto falso para trás como um casaco de pele. A pele humana também caiu como uma toalha no chão.
– “AGORA, com vocês… a verdadeira Vorian”. – Disse num tom zombeteiro.
Ela era verde, meio escamosa. Seus seios e bunda enormes eram verdadeiros. Seus olhos eram mesmo castanho e beirando ao amarelo, parecidos com os nossos olhos. Mas ao mesmo tempo lembrava mais os olhos de um gato. Eram lindos e seriam hipnotizantes pra nós. A questão é que Vorian realmente tinha o poder de invadir a cabeça dos humanos e fazê-los obedecê-la se bem entendesse. Mas ela era um ser infiltrado, de uma espécie extraterrestre interessada em amar e ajudar. Impediam guerras nucleares desde os anos 50… se infiltravam em diplomacias. Ou simplesmente davam aos humanos a alegria da arte… como ela o fazia.
– Me sinto tão sozinha… Eu não queria mais fazer isso. – Imediatamente por telepatia um dos seus líderes falou com ela: “Estamos mais perto do que longe. Tenha paciência Vorian…”.
– Tá, tá…
– Você está pegando o jeitinho deles de falar. Hehehe…
– Às vezes conheço alguns e penso: faria mal namorar com esse cara? Fazer ele feliz até os últimos dias dele na Terra? Eles vivem tão pouco…
– Você não pode. Precisa continuar mudando de aparência e de cidade. Não podem desconfiar de você e de sua longevidade. E além do mais, não temos total certeza sobre a interação entre nós e humanos… a gravidez pode ser um verdadeiro desastre. Ou pode ser um milagre. Ainda não sabemos. Mas… Consideraremos suas necessidades e voltaremos a nos falar. Descanse em paz, minha irmã.
– Descanse em paz, meu irmão.
Vorian ligou o chuveiro no mais quente possível. Sua raça sentia muito frio e tomavam – se pudessem – banhos extremamente quentes ou saíam na rua em dias considerados pelos humanos “impossíveis” de fica na rua. A água ia caindo sobre seu corpo verdade.
– Um ser humano agora, possivelmente estaria chorando de solidão. Minha raça não chora… Ah, que DROGA isso. Os seres humanos são tão maravilhosos… tão sentimentais… e espontâneos… É impossível não amá-los. Talvez eu esteja aqui há tempo demais e esteja desejando me tornar um deles.
– Eles tem… crenças… amores… música por todos os lados… danças… fazem muita bobagem também, como a bomba que nos fez chegar até aqui. Mas… são seres bem específicos os que seriam capazes de apertar um botão vermelho, programado pra destruir uma cidade, ou um país.
Vorian se deitou na cama, se espreguiçando. Ligou o aquecedor no mais quente possível. Abriu o seu livro humano predileto: Frankenstein, de Mary Shelley. Depois, já com muito sono, quis ler Emily Dickinson e depois de ler alguns poemas, apagou as luzes e voltou a pensar no amor… Não no amor do seu planeta. No amor humano. O desejo que ela tinha de ter um humano em sua casa, em sua cama…
O que poderia dar errado?