O mascate
Meu dinheiro era pouco para começar a vida de mascate, mas logo surgiu um amigo que me ofereceu cinco mil cruzeiros emprestados para começar meu negócio. Assim, no outro dia, comprei umas quinquilharias e viajei para Ceres - Goiás. Em Ceres, hospedei-me numa pensão de uma senhora da região de Picos e assim me senti mais à vontade na presença desta e de outros conterrâneos que já estavam lá há mais tempo. Preparei minha modesta banca que consistia apenas em dois cavaletes e quatro tábuas. O ponto, relativamente estratégico ficava entre o restaurante e uma farmácia e defronte à estação rodoviária. Ali expus minhas mercadorias.
A experiência foi favorável, pouco tempo depois, estava de volta a São Paulo para repor o estoque. Mas nem tudo são flores. Um dia encosta um cidadão em minha banca e pergunta se tenho relógio.
- Aí cabra, você tem relógio bom?
- Tenho sim, Senhor. Tenho três marcas, o senhor pode escolher.
- Quanto custa este. Perguntou sacudindo uma das peças.
- Um mil e oitocentos cruzeiros.
- Vai vender pra quem? Essa porcaria desse preço!
- Pra quem quiser comprar. Respondi.
- Você vai aprender a respeitar autoridade, cabra! Deu às costas e saiu. Voltou em seguida, ainda à paisana, numa viatura da polícia, com um sargento e um soldado. O sargento perguntou ao então militar à paisana.
- O rapaz é esse? Apontou pra mim.
- É, é ele mesmo.
- Você está preso por desacato à autoridade.
Enquanto isso, passava um filho do dono do hotel e foi correndo avisar ao pai.
- O mascate está sendo preso.
- O sargento tal está na viatura. Perguntou o pai do rapaz..
- Está!
- Vá lá e diga a ele pra vir aqui, antes de prender o mascate. O sargento atendeu ao chamado do hoteleiro e os dois conversaram dentro do hotel por algum tempo. O Sargento voltou. “Seu padrinho é forte, mas se você der bobeira, eu te pego na virada.”
SILVA, Francisco de Assis; LIMA,Adalbert et al. O Brasil nosso de cada dia.