O Gato Que Queria Ser Gente

Em uma casa antiga no coração de um vilarejo, vivia um gato chamado Tobias. Ele era diferente dos outros gatos. Enquanto seus amigos corriam atrás de ratos ou se esparramavam ao sol, Tobias passava horas observando os humanos. Ele ficava fascinado com o jeito que eles conversavam, riam, e até com o modo peculiar como usavam as patas — ou mãos, como diziam — para fazer coisas incríveis, como escrever, cozinhar ou pintar.

Tobias tinha um desejo secreto: ele queria ser gente.

Certa noite, durante a lua cheia, Tobias ouviu falar de uma velha coruja chamada Madruga, que morava na floresta e era conhecida por realizar desejos. Sem pensar duas vezes, Tobias partiu. Ao encontrá-la, contou seu sonho de ser humano.

A coruja o observou com seus grandes olhos dourados e disse:

— Transformar-se em gente tem um preço, Tobias. Você deixará para trás a liberdade de ser gato.

Tobias pensou por um momento, mas sua curiosidade era maior que o aviso.

— Estou pronto, Madruga!

A coruja bateu as asas três vezes e murmurou palavras em um idioma que Tobias não entendia. De repente, ele sentiu seu corpo se alongar, suas patas se transformarem em mãos e seus bigodes desaparecerem. Ele era humano!

No começo, Tobias estava eufórico. Ele andava pela vila, experimentava roupas, escrevia com canetas e provava todos os tipos de comida. Mas, logo, percebeu que ser gente não era tão simples. Os humanos tinham preocupações que ele nunca imaginara. Precisavam trabalhar, pagar contas e, muitas vezes, pareciam esquecer de sorrir.

Certa tarde, enquanto estava sentado em um banco da praça, viu um gato dormindo embaixo de uma árvore. Sentiu saudade do calor do sol em sua barriga, de escalar árvores sem propósito e até do prazer de ronronar ao lado de uma lareira.

Tobias decidiu voltar à floresta. Ao encontrar Madruga, pediu para ser transformado novamente em gato. A coruja riu suavemente.

— Não é preciso magia para voltar a ser quem você é. Basta ouvir seu coração.

Naquele instante, Tobias acordou em sua cama felpuda. Ele era um gato outra vez. Olhou pela janela e viu os humanos passando. Agora, ele sabia que ser gato era um privilégio, e, mesmo admirando os humanos, percebeu que a verdadeira felicidade estava em aceitar quem ele era.

Tobias se espreguiçou, deu um salto ágil até o parapeito da janela e, com um ronronar profundo, voltou a observar o mundo, desta vez, com gratidão.

David S Assis
Enviado por David S Assis em 01/01/2025
Código do texto: T8231857
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