A última carta
São só nesses momentos,
Em que somos condenados e a vida chega,
Abruptamente ao fim é que refletimos.
Como último pedido,
Deixei o cigarro e o uísque.
Escolhi a caneta e o papel.
Escrevo.
Não um pedido de desculpas,
Mas uma análise da minha vida.
Se estou sozinho agora é
Exclusivamente minha culpa
Apenas eu e somente eu.
Amei pouco quem tanto me amou.
Não foi uma nem duas
Foram várias.
E há todas amei pouco
Insuficiente insuportável
Amor
"Pouco amor não é amor"
Foi a lembrança desse livro do Nelson Rodrigues,
Que agora me assombra
Me fez cair tardiamente na real.
Subo ao pátibulo conformado
Amei pouco a quem me deu muito
E tolo fui condenado
Agora só me resta o esquecimento.
Ah não, nem isso mereço.
Daqui há uma hora meu corpo estará balançando
Pendurado assistido pela multidão
E a eternidade não me deixará esquecer
Que amei pouco
E agora não há lágrimas derramadas por mim
Nem as minhas...
Nem as minhas...
Nem...