Antigo conto de Natal
Ele nasceu numa manjedoura, entre os animais de um estábulo humilde, porque seus pais, refugiados, a mãe parturiente, não conseguiram hospedagem mais adequada. Só tiveram o amparo do estábulo graças à benevolência do proprietário, um homem simples como eles.
Ele teve seu nascimento anunciado por uma estrela que brilhou forte nos céus. Seu brilho profetizava a chegada de uma mensagem de esperança e renascimento. Ela encantou próceres espirituais de terras distantes, que levaram honrarias ao recém-nascido.
Ele passou décadas – toda a infância e a juventude – aprendendo com sábios eremitas, retirados da civilização. Eram homens bondosos, que tinham se espantado com os desvairados rumos que o povo estava seguindo. Pensavam que talvez desterrados, solitários, pudessem reconquistar e fortalecer princípios e valores em si mesmos, e ensiná-los a um jovem de firmeza, lucidez e santidade inquebrantáveis.
Ele retornou ao convívio na sociedade quando julgou que já estava preparado. E então foi submetido à prova. Procurou ensinar a solidariedade, a simplicidade, a justiça, a esperança, o respeito. Fez seus companheiros compreenderem que os sonhos começam a realizar-se quando são sonhados. E assim fizeram milagres.
Ele não conseguiu encantar os de seu tempo, salvo um pequeno grupo de seguidores. Perseguidos, ainda portadores de dúvidas e temores. Suas ideias atraíram muitos inimigos, uns poucos adeptos. Isso obrigou-o a afastar-se do convívio familiar e dos confortos do lar. Sua vida foi um exemplo de luta, de generoso sacrifício, de despojamento, de dedicação.
Ele logo foi acusado de heresias, difamação e sublevação. Não só as autoridades de seu tempo, mas também o povo simples, sentia-se ameaçado por aquele homem que dizia verdades que afrontavam o senso comum. Foi injuriado, perseguido, aprisionado.
Os governantes temeram julgá-lo. Não sabiam como o povo reagiria à condenação de um possível santo. Lavaram as mãos, deixaram que a multidão o julgasse. Então ele confirmou o que já sabia: um notório e aproveitador ladrão era o mais estimado, com quem se identificava a grande maioria.
Ele foi inculpado, o outro foi absolvido. Condenado, foi humilhado, torturado, morto com a mais extrema crueldade. À morte, ainda pronunciou-se perdoando seus algozes.
Não conseguiu mostrar o milagre do amor à maioria dos de seu tempo. Mais de dois mil anos depois, seu nascimento é celebrado, sua mensagem ainda é uma esperança viva. Um dia seu sonho ainda há de se realizar.
Feliz Natal!