Contos No Japão 4
O Eco das Cerejeiras em Flor
O parque Maruyama estava deslumbrante sob o céu azul-claro. As cerejeiras floresciam em toda a sua glória, formando um dossel rosa e branco que parecia sair de um sonho. Pétalas flutuavam suavemente no vento, caindo sobre os visitantes que se reuniam para o festival de hanami. Aiko caminhava entre as árvores, ajustando o yukata azul-claro que ela escolhera para a ocasião. A estampa delicada de flores de ameixeira combinava com a leveza de seu sorriso, embora seus olhos revelassem uma sombra de incerteza.
Ela segurava um pequeno embrulho em suas mãos, um presente que preparara para os dois amigos, Hiroshi e Kazuo. Era uma tentativa de resgatar o que parecia estar se desfazendo entre eles, como pétalas arrancadas de galhos ao vento.
Kazuo estava esperando perto de uma árvore solitária, os braços cruzados enquanto olhava o movimento das pessoas. Ele usava um haori escuro que contrastava com a suavidade ao seu redor, mas havia algo em sua postura que parecia vulnerável.
Hiroshi chegou em silêncio, o olhar sério e fixo em Kazuo. Ele trajava um yukata verde-escuro, o tecido simples, mas elegante, destacando seu porte firme. Quando viu Aiko se aproximar, algo em seu rosto se suavizou, mas apenas por um momento.
O Encontro Sob as Cerejeiras
— Você chegou cedo — disse Aiko a Kazuo, tentando aliviar a tensão no ar.
— Achei que seria bom garantir um lugar tranquilo para nós — respondeu ele, o tom calmo, mas os olhos desviando para Hiroshi, que estava parado alguns passos atrás.
Aiko olhou para Hiroshi, que parecia hesitante em se aproximar.
— Hiroshi, venha. Temos muito o que conversar.
Ele deu um passo à frente, mas a distância entre ele e Kazuo parecia maior do que nunca.
— Acho que não é tanto sobre conversar — disse Hiroshi, sua voz firme. — Mas sobre esclarecer algumas coisas.
Kazuo ergueu uma sobrancelha, os braços ainda cruzados.
— Se há algo a dizer, então diga.
O Confronto
O som alegre das pessoas ao redor parecia desaparecer enquanto os dois se enfrentavam sob as árvores. Aiko sentiu o peso da situação e tentou intervir.
— Não precisamos fazer isso agora, não aqui...
— Precisamos, Aiko — interrompeu Hiroshi, sem tirar os olhos de Kazuo. — Estou cansado de fingir que está tudo bem quando claramente não está.
Kazuo suspirou, finalmente descruzando os braços.
— O que exatamente você quer dizer com isso?
— Você sabe muito bem — respondeu Hiroshi, a voz carregada de emoção. — Desde que éramos crianças, você sempre teve o que queria. Não importa o quanto eu tentasse, você sempre parecia estar um passo à frente.
Kazuo deu um passo em direção a ele, o tom sério.
— E isso é culpa minha? Você acha que fiz algo para te deixar para trás?
— Não se trata de culpa, Kazuo! — gritou Hiroshi, os olhos brilhando de frustração. — Se trata de Aiko.
O nome dela pairou no ar como um trovão, quebrando qualquer tentativa de contenção. Aiko ficou imóvel, as palavras a atingindo como uma rajada de vento frio.
Os Sentimentos Reprimidos
Kazuo olhou para Aiko, então de volta para Hiroshi.
— Você acha que está competindo comigo por ela? Acha que isso é um jogo?
Hiroshi balançou a cabeça, tentando encontrar as palavras certas.
— Não é um jogo. É... é diferente. Eu a amo, Kazuo. Sempre amei.
Aiko deixou escapar um pequeno suspiro, surpresa com a intensidade da confissão. Kazuo, no entanto, permaneceu calmo, embora houvesse algo sombrio em seu olhar.
— E acha que ser o primeiro a dizer isso muda alguma coisa? — perguntou Kazuo, com a voz baixa, mas firme. — O que importa não é o que você sente, Hiroshi. É o que ela sente.
Aiko interveio, sua voz trêmula, mas determinada.
— Parem com isso. Vocês dois... Isso não é sobre quem "ganha" ou "perde". Eu não sou um prêmio.
Hiroshi deu um passo para trás, as palavras dela atingindo-o com força. Kazuo abaixou a cabeça, parecendo envergonhado.
— Aiko... — começou Hiroshi, mas ela levantou a mão, pedindo silêncio.
— Não agora. Não assim — disse ela, olhando para ambos. — Vocês são importantes para mim, mas eu não posso carregar o peso das escolhas de vocês. Preciso de tempo para entender o que quero.
O Silêncio das Pétalas
Eles ficaram em silêncio, as pétalas de cerejeira caindo suavemente ao redor. O festival continuava ao fundo, mas para eles, o mundo parecia suspenso.
— Vamos aproveitar o festival — sugeriu Aiko, com a voz suave. — Só por hoje, vamos esquecer isso.
Kazuo assentiu, embora a tensão em seus ombros fosse visível. Hiroshi olhou para o chão, incapaz de esconder a decepção, mas concordou com um aceno breve.
Enquanto caminhavam juntos sob as cerejeiras, a distância emocional entre eles era palpável. As promessas não ditas e os sentimentos reprimidos ecoavam no ar, tão inescapáveis quanto o perfume das flores.
Continua...