Promessas e Conflitos
O ar fresco da manhã envolvia Quioto, carregando o perfume sutil das hortênsias que começavam a florescer pelas encostas do templo Kiyomizu-dera. Os pássaros cantavam suavemente, suas melodias misturando-se ao som distante da água corrente nos riachos que serpenteavam pelas colinas. Aiko e Kazuo caminhavam lado a lado, os passos sincronizados em um ritmo tranquilo.
— É incrível como este lugar sempre parece tão calmo, mesmo com tantas pessoas ao redor — disse Aiko, a voz baixa, como se temesse perturbar a serenidade do ambiente.
Kazuo assentiu, as mãos enfiadas nos bolsos.
— O templo tem algo especial. Acho que é por isso que muitos vêm aqui para refletir.
Eles pararam na beira do terraço principal, onde a vista se abria para o vale coberto de verde. Aiko encostou-se ao corrimão de madeira, os olhos fixos no horizonte.
— Kazuo... Você acha que as coisas podem mudar entre amigos? Quero dizer, mudar de forma que nunca mais voltem a ser as mesmas?
Ele hesitou antes de responder, olhando para ela de lado.
— Às vezes, sim. Mas nem todas as mudanças são ruins.
Ela virou-se para ele, os olhos grandes e cheios de uma mistura de curiosidade e algo mais, algo que ele não conseguia identificar completamente.
— E se a mudança assustar?
Kazuo respirou fundo, desviando o olhar para o vale.
— Talvez isso signifique que é importante.
Um Momento de Confissão
Aiko deu um passo em direção a ele, a proximidade súbita fazendo o coração de Kazuo acelerar.
— Você é diferente, Kazuo. Sempre foi. Com você, sinto que posso ser eu mesma, sem medo de ser julgada.
Ele ficou em silêncio, mas seu rosto corou. O vento brincou com os cabelos de Aiko, e ela sorriu suavemente, como se a confissão a tivesse aliviado de um peso.
— Eu... — começou Kazuo, mas as palavras pareciam escapar-lhe. Finalmente, ele se forçou a continuar. — Eu também me sinto assim com você.
Por um momento, o mundo pareceu parar. Apenas o som distante dos sinos do templo os ancorava na realidade.
— Então, o que fazemos com isso? — Aiko perguntou, a voz um sussurro.
Kazuo não teve tempo de responder. O som de passos se aproximando os fez se afastar ligeiramente.
Hiroshi à Distância
Hiroshi estava ali, parado a alguns metros de distância. Ele havia seguido os dois, sem saber exatamente por quê. Agora, observando a cena diante dele, sentiu uma pontada no peito que era ao mesmo tempo dor e raiva.
A maneira como Aiko olhava para Kazuo era diferente, carregada de algo que Hiroshi nunca havia visto antes. Ele apertou os punhos, lutando contra o impulso de interromper o momento.
“Por que Kazuo?” ele pensou, sua mente girando. “Por que sempre ele?”
O dilema era claro: confrontar Kazuo e Aiko, arriscando destruir a amizade que construíram, ou reprimir seus sentimentos, sacrificando o que seu coração desejava em nome do que era certo.
O Confronto Interno
Hiroshi recuou para a sombra de uma árvore, observando enquanto Aiko e Kazuo retomavam a caminhada. Seus risos suaves chegaram até ele, como agulhas perfurando seu orgulho.
“Eles nem sequer perceberam que eu estava aqui,” ele pensou, mordendo o lábio. Uma voz em sua mente o desafiava: Você vai ficar parado e deixar isso acontecer?
Mas outra voz, mais calma, respondia: Se você agir por ciúme, poderá perder os dois.
Hiroshi passou o resto do dia vagando pelas ruas, tentando clarear a mente. Ele precisava decidir, e rápido, antes que a situação fugisse de seu controle.
Uma Promessa Não Dita
De volta ao templo, Kazuo e Aiko pararam sob um portal vermelho. O sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa.
— Prometa que, aconteça o que acontecer, sempre seremos honestos um com o outro, Kazuo — disse Aiko, estendendo a mão.
Kazuo hesitou, mas segurou a mão dela.
— Eu prometo.
Os dedos de Aiko apertaram os dele por um breve momento antes de soltarem, mas o gesto foi suficiente para solidificar algo entre eles, mesmo que nenhum dos dois estivesse pronto para dar nome àquilo.
Enquanto se afastavam, a sombra de Hiroshi ainda pairava sobre eles, invisível, mas impossível de ignorar. O ciúme, como uma semente, havia sido plantado, e ninguém sabia como ele cresceria.
Continua...