ESTÉFANE
ESTÉFANE
POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE
A praia do Abaís no estado de Sergipe é de rara beleza. O Abaís é muito frequentado por pessoas de todas as partes do estado. A orla do Abaís é repleta de pousadas, bares e restaurantes. O turista tem muitas opções de diversão. Foi em um pôr do sol no Abaís que Douglas conheceu Estéfane. Era um sábado do mês de outubro. Douglas estava de folga do trabalho na exatoria de Campos. O rapaz sempre apreciou a natureza. Naquele sábado, ele tomou algumas cervejas e foi para as jangadas que ficam à beira mar ver o pôr do Sol. Douglas estava a refletir sobre sua solitária existência. Charlene sua ex noiva o deixou no altar e desde então o rapaz tem crises de depressão e solidão. Ele gostava muito da moça, mas, sem explicações ela o trocou por outro. Uma moça muito bonita chamada Estéfane despreocupada tomava banho nas águas do Abaís. Perto dela estava uma moça morena que atendia pelo nome de Marta. Ela a aguardava para voltarem para o restaurante onde estavam seus amigos. Uma onda forte empurrou Estéfane e ela foi rolando até próximo a Douglas que viu o ocorrido e foi prestar socorro:
- Respire! Está tudo bem com você? A onda era alta e forte; você devia ter a deixado passar.
- Eu pensei que podia pegar uma onda, mas, vejo que a natureza foi mais forte do que eu. Estéfane passa as mãos nos cabelos longos e mostra a face bela para o moço que a admira de imediato. Estéfane era uma filha de Campos que estava, também, passando o final de semana no Abaís. A moça era de uma beleza ímpar como são as filhas do povoado Capitoa.
- Machucou? Quer ajuda para andar? Disse Douglas com um tom de timidez.
- Não, eu estou bem. Foi só um susto. Estéfane chama sua amiga Marta para irem embora.
- Espera! Você está hospedada onde? Perguntou o rapaz engolindo a saliva.
- Ah, eu estou no Village. Disse a menina naturalmente.
- Eu também estou lá. Que coincidência! Exclamou o moço. Douglas convidou Estéfane para se encontrarem a noite às sete horas na recepção da pousada. Estéfane, também, viu a beleza do rapaz. Douglas era um autêntico filho de Campos cor de jambo. Ele era um rapaz atlético de um metro e setenta e dois, cabelos lisos e feições gregas. Estéfane aceita o convite de Douglas e sai com sua amiga Marta na direção do restaurante.
A noite de sábado no Abaís estava glamurosa. A lua cheia às sete horas convidava todos os cupidos para trabalharem. Estéfane vestia um short de linho branco bem composto e uma camiseta de algodão de cor azul marinho. Sobre a camiseta um casaco jeans. Douglas estava de calça jeans e camisa pool vermelha. Os dois se encontram na recepção. Douglas a convida para irem para o restaurante da pousada que tinha uma área de frente para o mar:
- Quando eu vi você na praia, pensei que você era uma colega de infância. Nos primeiros anos da vida éramos muito unidos. Disse Douglas com um sorriso acanhado.
- E foi. Eu estou aqui com alguns amigos da igreja Cristo Vencedor. Somos um grupo de jovens que veio passar três dias na praia e testemunhar do amor de Cristo. Estéfane responde sem prestar a atenção.
- Você quer beber alguma coisa? Perguntou Douglas.
- Ah, sim. Água mineral. Douglas chama o garçom e pede uma cerveja e uma água mineral.
- Quer dizer que você está aqui a trabalho? Perguntou o rapaz curioso.
- Bem, não é um trabalho. Estamos curtindo a praia, mas, também temos o objetivo de dar o testemunho do amor de Deus. Você sabia que Deus te ama? Douglas pensa um pouco e responde:
- Deus ama todo mundo. Todo mundo sabe disso. Você não acha? Estéfane corta o assunto e conversa sobre outras coisas. O casal passa a falar sobre suas vidas em Campos. Douglas conta do noivado. Estéfane fica com muita pena do rapaz, mas, hora ou outra ela entrava em assuntos religiosos. As horas passaram e Estéfane avisa que vai se deitar. Neste momento Douglas aproveita e diz: “Desde a primeira vez que te vi que fiquei interessado em você”. Estéfane baixa a cabeça e diz: “Eu sonho com um homem de Deus. Quero um homem de Deus para mim”. Estéfane deixa Douglas a pensar na vida. “Afinal o que ela quer dizer com um homem de Deus?” Pensou o moço de Campos.
Douglas foi se deitar pensando em Estéfane. A menina mexeu com seus sentimentos que andavam muito sensíveis em virtude da experiência negativa que teve no noivado. A noite passou rápido. O rapaz acordou de manhã com um sonho que teve. Ele sonhou que estava com Estéfane em um grande auditório e ela no púlpito o chamava a frente. Ele se levanta, mas quando começa a andar o piso se abre e labaredas de fogo saem para queimá-lo. Ele se assusta e acorda. No domingo de dia, Douglas procura a moça pelo Abaís, mas, não a encontra. Ele queria pegar o endereço dela, no entanto, a hora de partir havia chegado e os dois não mais se viram. O retorno para Campos foi tranquilo. Dirigir era uma das coisas que o rapaz mais gostava de fazer. Douglas ao longo da estrada pensava em Estéfane, sua imagem ficou gravada em sua mente. Ele estava realmente interessado. Era a primeira moça que lhe chama a atenção depois do fiasco do casamento. A segunda-feira chegou, o rapaz foi para a exatoria, era tempo de tudo voltar ao normal. Passou o dia trabalhando e de noitinha voltou para sua casa no conjunto centenário. Douglas morava só. Seus pais moravam nas Candeias. De quinze em quinze ele ia vê-los e comer uma buchada que sua mãe fazia especialmente para ele.
Todos os dias Douglas prestava atenção para ver se via a moça Estéfane pela cidade de Campos. “O centro de Campos não é tão grande, as pessoas podem se ver com facilidade”. Pensava o rapaz. No entanto, isso não aconteceu até o dia em que Douglas em um final de semana passa defronte a igreja Vencedor. A porta estava aberta e estava ocorrendo um culto. Estéfane estava na direção do louvor. “Mas, rapaz, olha ela onde está!” Disse o rapaz consigo que logo entra na igreja. O culto durou hora e meia. Durante a pregação Douglas foi convidado a aceitar Jesus, mas, o rapaz dizia que Jesus ele aceita todo dia. No final, o casal conversa um pouco na frente da igreja:
- Eh, eu não sabia que você era tão ativa na igreja. Parabéns!
- Estou pensando em ir fazer seminário no Recife. Disse Estéfane apertando a Bíblia no coração.
- E eu estou pensando em namorar você. Será que tenho alguma chance. Disse Douglas incivamente. Estéfane ajeitou os cabelos e responde com o coração cheio de convicção:
- Se for a vontade de Deus a gente vai namorar.
- Não, veja, eu quero saber se você sente por mim o que eu sinto por você. Continuou Douglas.
- Não importa o que eu sinto. Para mim o que conta é se é a vontade de Deus. Você não é evangélico e isso dificulta nossa vida. Abriu o jogo Estéfane.
- Quer dizer que é isso que dificulta nossas vidas. Eu não ser evangélico?
- Sim. Evangélico só namora evangélico. Você entende? Aceite a Jesus e eu sou sua. Douglas pediu licença e deixou a moça na porta da igreja pegou o seu carro e foi para as Candeias aliviar um pouco a mente com a paisagem local. O rapaz se sentiu ofendido com a conversa de Estéfane. Ele não era nenhum bicho. A condição imposta por ela parecia um tanto impossível: “Como eu vou me tornar evangélico assim de uma hora para outra sem sentir nada?”
Quatro meses passaram. Era carnaval. A igreja de Estéfane foi passar o carnaval na fazenda São José que ficava nas Candeias próximo a casa dos pais de Douglas. O rapaz soube do evento e resolveu fazer uma visita. Havia em torno de quarenta pessoas acampadas na fazenda. O pastor Irineu ministrava o estudo sobre técnicas de evangelização: “É preciso fazer a pessoa sentir a necessidade do evangelho”. Dizia o pastor aos seus fiéis. Isto deixou Douglas um tanto revoltado porque parecia que eles estavam manipulando a mente das pessoas. Estéfane viu Douglas chegar e sentou-se ao seu lado, mas, durante o estudo não conversaram. No final, o pastor pede a Estéfane para apresentar o amigo: “Ah, esse é Douglas. Nos conhecemos no Abaís e tornamos amigos”. A congregação saúda a Douglas. “Seja bem-vindo Douglas!” Douglas decide se entrosar com os crentes, mas, sem se converter. Ele decidiu ver o que realmente era ser evangélico. Frequentou os quatro dias de retiro, as três reuniões diárias e os grupos de oração. No entanto na hora do apelo: “Você quer aceitar a Jesus?” Douglas dizia: “Eu tenho Jesus”. O acampamento acabou. Douglas voltou para Campos sem namorar a Estéfane, todavia, algo dentro dele dizia que ele ainda ia conseguir a moça. Era só uma questão de tempo.
Douglas passou a frequentar os cultos da igreja Vencedor. Às terças e quintas e o domingo o culto da noite. Quando ele ia para Candeias ele faltava o domingo. Estéfane não saía de perto dele, contudo, a moça não se decidia. Isso chamou a atenção das outras moças da igreja que vendo Douglas sem compromisso resolveram atacar. Primeiro foi Artemis que numa noite de sexta feira foi a casa de Douglas a título de esclarecimento sobre o imposto da loja do pai. Douglas mesmo gostando de Estéfane passou a noite com ela. “Essas crentes são fogo”. Disse o rapaz consigo mesmo. Depois foi Helenira, depois Paula, depois, Antônia e assim foram as outras que Douglas sem esforço algum arrebanhou. “O que é ter Jesus?” Pensou o rapaz no que sua pretendente diz. “Essas garotas são iguais a qualquer mulher da face da terra. Querem se divertir, ser feliz. Só Estéfane que queria levar as coisas muito sério”. Estéfane descobre que as meninas da igreja estavam frequentando a casa de Douglas. Estéfane chama o rapaz para uma conversa:
- Pensei que você estava frequentando a igreja porque estavas procurando a Cristo. Disse a moça com tristeza.
- Eu tenho Cristo em minha vida Estéfane. Eu sou católico, sou batizado e cumpro os mandamentos. Mas, não sou de ferro. Sou um homem. Ademais eu queria conhecer melhor como é a vida de crente.
- Você precisa conhecer o amor de Deus. Aceite a Jesus Douglas! Estéfane faz o apelo.
- Eu o aceito sempre. Disse Douglas zangado.
- Pare com isso Estéfane. Todo mundo tem Jesus! Disse o rapaz das Candeias.
- Eu gosto de você, mas, você não é um homem de Deus. Um homem de Deus não faz o que você faz! Um homem de Deus é fiel aos sentimentos assim como eu sou. Douglas ao ouvir as palavras de sua amada se irritou com ela.
- Veja bem! Nós não temos compromisso. Até agora você não se decidiu. Se decida e eu sou só seu. Disse Douglas sem arrependimentos. Estéfane pede licença e se retira. Douglas continua na igreja Cristo Vencedor. Contudo, o rapaz não achava necessário aceitar a Jesus uma vez que ele cria em Jesus como todo mundo. Estéfane decide ir para o seminário. Quando março chegou, o pastor faz o anúncio a igreja: “Irmãos, Estéfane vai atender ao chamado do Senhor. Ela vai para o seminário”. Isto abalou as estruturas de Douglas que agora via um fim para as suas esperanças.
Estéfane viaja para Recife com o coração apertado. Um lado dela queria fazer apaixonadamente a vontade de Deus. O outro lado queria ficar e se jogar de vez nos braços de Douglas. Foi com essa alma que a moça inicia seus estudos no Seminário Pentecostal do Recife. O capelão pastor Ambrósio muito alertou os novatos sobre um coração dividido. Estéfane tomava a palavra do capelão para si e depois se trancava no quarto de oração para chorar e suplicar a Deus um milagre. Os meses passaram e a menina da capitoa teve uma melhora. O seminário foi fazer uma ação missionária no interior do estado. Estéfane foi convidada. Foi nesta época que ela conheceu o jovem Antão. Este era viciado em crack. Estéfane passou duas semanas discipulando o rapaz. Os dois conversavam sobre tudo, principalmente sobre Jesus. Em um momento de fraqueza Estéfane experimenta o crack e se deita com o moço que precisava tanto de sua fé. A queda da moça desencadeou um processo de muitas dúvidas sobre a autenticidade de sua fé. Estéfane abandona o seminário e vai morar nas ruas com Antão. A notícia logo chegou à igreja em Campos. O pastor Irineu reúne a igreja para pedir oração por Estéfane: “Meus irmãos, a coisa é séria. Nossa irmã Estéfane está desviada dos caminhos do Senhor. Está morando nas ruas da cidade de Garanhuns. Ela está no mundo das drogas”. As palavras do pastor foram como uma bomba dentro do coração de Douglas. O rapaz caiu em prantos na presença dos irmãos. Alguns se portaram com indiferença, outros vieram confortá-lo: “Deus vai acudir sua serva irmão”. A igreja viu de perto o quanto Douglas amava Estéfane. Ele pediu licença ao pastor e criou um grupo de intercessão. Todos os dias às 18 horas na igreja. A princípio o movimento foi pouco, mas, com o tempo, o movimento cresceu e passou a influenciar as demais pessoas da congregação Vencedor. Irineu viu em Douglas um servo intercessor e o ajudou. Douglas em oração viu em sua vidência que Estéfane ia se livrar das drogas e mudar de vida: “Irmãos, eu vi quando um anjo de Deus visita Estéfane e toca no seu coração”. Disse Douglas no grupo de oração. O pastor Irineu convida Douglas a ir a Garanhuns ver Estéfane.
Não foi fácil achar o casal Estéfane e Antão entre os drogados da praça dos craqueiros em Garanhuns. O casal morava numa barraca bem no final da rua Abílio Camilo Valença. O casal estava numa situação deplorável. Magros, atordoados, totalmente dominados pela droga. A princípio o pastor Irineu falou do amor de Cristo e disse que a igreja estava pronta para acolhê-los. Depois Douglas chama Estéfane para conversar:
- Por que você não volta a ser aquela moça que eu conheci no Abaís? Tão cheia de fé e esperanças em Cristo. Eu dizia a você que eu acreditava Nele. Você não acreditava em mim.
- Eu sonhava demais. Minha fé se acabou quando cheguei a Garanhuns. Deixem-me em paz!
- Você não está em paz. É a droga que prende você aqui. Vamos comigo para Campos! Depois de muita luta Estéfane concordou em voltar a Campos, mas, com a condição de levar Antão. Isso foi uma facada no coração de Douglas, mas, o desejo de vê-la livre das drogas foi mais forte. Estéfane e Antão vão morar na casa do pastor Irineu. A família de Estéfane achou melhor ela fazer a desintoxicação com o pessoal da igreja. Douglas ia todas as noites visitar o casal e dar apoio. Um ano passou rápido. Estéfane e Antão ficaram livres das drogas. Seu Ananias, o pai de Estéfane deu uma pequena loja de confecções para o casal cuidar. Estéfane e Antão prosperaram no comercio. Douglas voltou para a exatoria. Nunca mais foi a Igreja Vencedor. Sua vida era lembrar daquela tarde no Abaís...