Paixões de aula e problemas de rua
Na periferia de Luanda, todo mundo conhecia a Julinha. Miúda atrevida, de 19 anos, que adorava estar no centro das atenções. Ela estudava num colégio técnico do bairro e, entre as amigas, vivia a se gabar que nenhum homem resistia ao seu jeito de “mandar no jogo”. Quando o professor Alex, de 28 anos, começou a dar aulas de matemática, Julinha já traçou o plano.
— Esse aí vai ser meu — confidenciou às amigas no intervalo, enquanto mastigava chiclete e ajeitava o cabelo com um espelho pequeno.
Alex era daqueles professores novos que todo mundo respeitava. Sempre na dele, um pouco tímido, mas carismático. Ele dava as aulas com paixão e até ajudava os alunos fora do horário quando podiam. Nunca tinha imaginado que, ao aceitar o emprego naquele colégio, ia se meter numa confusão capaz de mudar a vida dele para sempre.
Julinha começou a colocar o plano em prática. Mandava bilhetes durante a aula com desculpas para tirar dúvidas, chamava ele para conversar nos corredores e, de vez em quando, até aparecia com vestidos mais curtos só para chamar atenção.
— Ô professora, ajuda aí com essa matéria… Não tô a apanhar bem! — dizia ela, se inclinando na carteira.
Alex, no início, ignorava. Ele sabia que tinha uma linha que não podia cruzar. Mas Julinha era persistente. Chegou a segui-lo até a paragem de táxi um dia, inventando que precisava de ajuda extra com a matéria.
— Professor, o senhor tá sempre a fugir. Não vê que eu gosto mesmo de si?
Alex riu, sem graça, e tentou cortar a conversa.
— Julinha, vai focar nos teus estudos. Essas brincadeiras não têm graça.
Mas ela não desistiu. Um dia, apareceu no colégio com um presente: um perfume caro, que ela sabia que ele gostava.
— Só um miminho, professor. Pra mostrar que eu me importo.
Alex começou a ceder, mesmo contra o bom senso. Ele nunca tinha se envolvido com aluna nenhuma, mas Julinha era sedutora e sabia usar as palavras. Eles começaram a se encontrar escondidos, primeiro em cafés longe do bairro e depois em motéis baratos.
Meses depois, Julinha apareceu com a notícia que mudaria tudo:
— Professor, tô grávida.
Alex ficou em choque. Ele sabia que, mesmo ela sendo maior de idade, a relação entre professor e aluna não seria bem vista. Mas Julinha não parecia preocupada.
— Relaxa, amor. Ninguém precisa saber que começou na escola. A gente casa e fica tudo bem.
Apesar do medo, Alex decidiu assumir. Pediu demissão do colégio e começou a fazer bicos para sustentar Julinha e o bebê que vinha a caminho. Eles se casaram em um pequeno cartório, com poucas testemunhas. Parecia que, apesar de tudo, as coisas iam se ajeitar.
Mas o segredo não ficou guardado por muito tempo. Algum colega de trabalho, desconfiado, começou a espalhar a história. A notícia chegou às autoridades, e logo Alex estava sendo investigado. Apesar de Julinha ser maior de idade, a lei do país era clara: relações entre professores e alunos, mesmo consensuais, eram vistas como abuso de poder.
Um dia, a polícia apareceu na porta de casa.
— Senhor Alex, o senhor está detido por conduta imprópria com uma aluna.
Julinha tentou argumentar, gritou, chorou.
— Deixem ele! Eu que quis! Eu que provoquei!
Mas não adiantava. A sociedade julgava Alex como um predador, enquanto Julinha era vista como vítima. Mesmo ela tentando contar sua versão, as leis eram rígidas. Alex foi condenado a três anos de prisão.
Na cadeia, Alex refletia sobre tudo. Ele amava Julinha e o filho deles, mas sentia que tinha sido arrastado para um erro que poderia ter evitado. Já Julinha, do lado de fora, começou a perceber que o plano que parecia perfeito acabou prejudicando o homem que ela amava.
Quando Alex finalmente saiu da prisão, encontrou Julinha e o filho esperando por ele na porta.
— Desculpa, meu amor. Se eu soubesse que ia dar nisso, nunca teria te pressionado.
Alex, cansado e magoado, apenas abraçou o filho.
— A vida nos deu um castigo, Julinha. Agora, temos que viver com ele.
E assim, eles tentaram reconstruir a vida juntos, sabendo que o preço do amor pode ser mais alto do que se espera.