O BADALO DA CONSCIÊNCIA (BVIW)

 

Toda vez que Zizinha passava em frente à igreja matriz da pequena cidade, sentia a face ruborizar. Corria do padre e das beatas como gato foge da água fria. Zé conhecia bem as razões da moça bonita do andar provocativo evitar cruzar o caminho com religiosos ou assíduos fiéis da paróquia.

 

Um dia de pouco juízo, Zizinha, quando ainda participava das missas, com ideia de arrumar bom partido, esperou a distração do frei Salastieu, que auxiliava padre Cesário, e adentrou na sacristia para sequestrar o santo casamenteiro. Na pressa, e com pouco conhecimento para diferenciar as imagens sacras, passou a mão no que pretendia e saiu ligeira como quem está com vontade de ir ao banheiro. Com alguma dificuldade, enfiou a grande escultura dentro da mochila e correu para fora do templo sagrado.

 

Era noite. Havia pouca iluminação. A menina abriu a mochila e reparou que o santo parecia um pouco diferente, talvez fosse a fuligem das velas que tivesse lhe manchado. Zizinha pegou o celular, ligou para o amigo:

 

- Zé, tem Santo Antônio preto? Estou achando o da paróquia muito escuro...

 

- Iiiiiih, sua doida! Você pegou santo errado, esse aí é São Benedito! Já era! Vai ficar para titia mesmo!!!  – Disse Zé quase se engasgando de tanto rir.

 

A jovem se confundiu com as imagens. O pior é que não teve coragem de devolvê-la. Para agravar sua culpa, no dia seguinte seria a festa do padroeiro, justo o que havia levado por engano. Foi uma confusão na catedral à busca do ladrão do Benedito. A jovem não quis assumir o delito e jogou o pobre do santo no poço da praça. Por esse seu pecado não confessado, toda vez que ouvia os sinos tocando, era como se lamentassem lhe acusando: "Jesus está aqui e viu bem o que você fez!"  A consciência pesada era quem mais lhe condenava. Zizinha rezava três Ave-Marias e apertava o passo. Fugia dali. 

 

 

 

 

Tema proposto pelo BVIW   - "Sinos do lamento"

 

(BVIW - BECOMING VERY IMPORTANTE WRITER/ "Tornando-se um escritor muito importante").