CATÁSTROFES INTERNAS - BVIW
Batem algumas horas no sino da igreja. Um Papai Noel inflável, enorme, está sentadinho na praça. Em meus canteiros sem flores alguns lamentos jazem em forma de suspiros. Me levanto para ligar o ventilador que não sente dor nenhuma. Deve ser bom ser máquina, bastando só funcionar como programada. Ser humano pede muito mais habilidades; físicas, emocionais e também terapêuticas.
Olho as paredes. Tempos anteriores, qualquer um dos quadros me faria embarcar em viagens tranquilizantes. Seja com flores, pontes metropolitanas ou com céu azul de estrada campestre.
- Não sei se estou pronta para falar das minhas aflições. Se transformaram em resiliência.
- Ninguém está. A resiliência ajuda em curas.
-Sabe o que é passar a vida inteira sendo boa e saber que errou só poucas vezes?
- Este é o fardo da humanidade. Ninguém é perfeito ou estável o tempo todo.
- Mas pago um preço alto demais por um deslize, quase um equívoco e agora sou alvo de uma morte lenta, manipulada por mentes tortas.
Sem esperar comentários, o barulho do ventilador vence a música natalina. Não há divã que conforte as estrias da alma. Uma amiga disse outro dia, que existem muito mais pessoas boas que más, neste mundo. O fato é que as más estão sendo contratadas com mais frequências enquanto as boas começam a aposentar.
Suspiros e mais suspiros.
- Acho que o melhor a fazer é viver melhor os dias. E deixar que cada um veja por si mesmo suas quase invisíveis catástrofes, sejam elas provocadas por terceiros ou não.
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Para o tema: Sinos do lamento
27/11/24