Os Passos na Estrada
O vento soprava frio naquela tarde cinzenta. Aurora caminhava pela estrada de terra que cortava os campos, sentindo o peso dos dias nas costas. A vida, pensava ela, parecia uma sequência de portas fechadas. Não sabia para onde ir. O horizonte parecia tão distante quanto os sonhos que abandonara.
Os sapatos já estavam gastos, a poeira impregnada na barra do vestido. O silêncio da caminhada era perturbado apenas pelo som dos próprios passos, que ecoavam frágeis na vastidão. E, ainda assim, no fundo de sua alma, ela sabia que não estava completamente só.
Foi quando algo incomum aconteceu. Entre um passo e outro, Aurora percebeu um ritmo que não era o dela. Passos firmes, cadenciados, ressoavam em harmonia com os seus. Assustada, olhou para trás. Não havia ninguém.
Continuou a andar, agora com o coração acelerado. A presença parecia próxima, mas não ameaçadora. Ao contrário, era como se aquele som trouxesse uma paz inexplicável. Sentiu-se protegida.
Os passos continuaram, acompanhando-a em seu ritmo. Aurora fechou os olhos por um instante, e, sem perceber, começou a sussurrar:
— Seu Amor me faz seguir... quando nem sei por onde ir.
As palavras escaparam como uma oração involuntária, e ela sentiu algo diferente. Não era apenas o som dos passos; era uma presença que preenchia tudo. O vento que antes cortava agora acariciava, a poeira parecia menos incômoda, e até o céu parecia abrir um pequeno rasgo de luz entre as nuvens.
Ela se lembrou das vezes em que sentiu que não suportaria mais. Das noites em que chorou até dormir, acreditando que ninguém ouvia. Mas agora, ali, no meio de uma estrada vazia, ouvia claramente: passos que não eram dela, mas que caminhavam ao seu lado.
Aurora parou. O silêncio se fez por um instante, mas logo, como um sussurro no coração, ela ouviu:
— Nunca estive longe de você.
Sem precisar olhar para trás, Aurora sabia. A presença do Mestre estava ali, nas entrelinhas de sua vida, nos momentos em que se achava mais só. Ele era o ritmo que a fazia seguir, o som que a acompanhava na solidão, a força que não a deixava desistir.
A partir daquele dia, Aurora aprendeu a ouvir mais. Não apenas os passos, mas o eco do Amor que preenchia seus dias. E, mesmo quando a estrada se tornava difícil, sabia que nunca mais andaria sozinha.