A lição do João
João era um ajudante de pedreiro desempregado.
Na véspera do Natal ele corria o mundo procurando um bico.
Precisava de dinheiro para garantir a ceia da família.
Já tarde da noite e sem um tostão furado no bolso.
O João se aproximou de uma encruzilhada.
E, no chão, sob a luz do luar e das velas, havia uma oferenda.
João pensou na família. Dava pra levar e fazer a festa com os meninos.
Pego? Não pego?
Se não tem ninguém olhando, que mal faz?
O João colocou a oferenda na sacola e saiu sorrateiro.
Chegando a casa debulhou tudo sobre a toalha da mesa.
Tinha um frango assado com batatinhas.
Dezenas de frutas fresquinhas e milho de pipoca.
Também, doces, geleias e pequenas iguarias.
Alimentos que ele nunca havia provado.
Depois vieram brinquedos, roupas, sapatos, perfumes...
Até um lindo colar que ele colocou no pescoço da Margarete.
O curioso é que o João não se lembrava de ter visto aquilo tudo na oferenda.
Embora a família estivesse feliz ele ficou envergonhado.
Afinal, a oferenda era para os deuses.
Assim, depois que todos foram dormir o João saiu lá fora.
Viu um homem se aproximar e lhe pedir comida.
João pensou nas sobras da geladeira, um farto almoço do dia seguinte.
Sentindo-se mal pelo que havia feito decidiu compartilhar.
“Entre, meu amigo, vamos ver o que te posso dar”.
Ao abrir a geladeira o João caiu de joelhos e quase não acreditou.
Havia tanta comida lá dentro, que ele começou a chorar.
Então, o homem pedinte sussurrou-lhe ao ouvido.
“Tua bondade de agora supera o mal feito anterior”.
“Aprendeste uma lição demonstrando amor ao próximo”.
“Quê os orixás te protejam e de tudo estás perdoado”.
Dizem que, daquele dia em diante, a vida do João mudou.
Enricar não enricou, porém, sendo um bom homem, feliz da vida ficou.