Do metrô | conto de formação.
Eu tinha 29 anos e estava na parada do metrô, pronto para voltar para casa depois de um longo dia de trabalho. Estava cansado, mas essas sensações já faziam parte da minha rotina. Saí de casa aos vinte anos, por decisão quase própria. Na verdade, as circunstâncias me empurraram para isso. Na época, eu não morava com os meus pais juntos, mas apenas com o meu pai, vendo minha mãe ocasionalmente ao longo das semanas. Meu pai é um político conhecido, embora nunca tenha sido eleito para nenhum cargo na cidade. No entanto, em regiões vizinhas, ele possui uma certa influência. Nossa convivência era mais uma questão de morar sob o mesmo teto do que de proximidade. Nossa relação sempre foi conturbada. Ele teve várias mulheres após minha mãe e outros filhos também. Minha mãe, por outro lado, nunca pareceu se importar com isso. Mas eu, talvez por ser o "idiota" da história, sempre senti demais. Essas coisas me apertam o peito, me deixam desolado, como se eu fosse o único fraco em meio a tanta indiferença. Eu sentia que meu pai não se importava muito comigo, embora ele insistisse em dizer o contrário.
Continuando: eu estava no metrô, sozinho e cansado. O transporte parou, entrei e me sentei no banco; o dia estava anoitecendo. A minha mente insistia em relembrar o passado naquele dia; estava sentado ao lado de um estudante, parecia muito inteligente, ele usava óculos, moletom e fones de ouvido. Lembrei da minha adolescência e do fato de eu nunca gostar muito de estudar; geralmente, estudava para passar de ano com muita dificuldade no colégio. O que eu gostava mesmo era de curtir com os meus amigos: jogar futebol, beber e garotas. Eu completei o ensino médio, mas não tive nenhuma força de vontade de fazer um vestibular e entrar em uma faculdade, afinal, eu já trabalhava no ensino médio em um estabelecimento e só pensava em ganhar dinheiro, e nenhum futuro brilhante enchia os meus olhos. Eu estava acostumado com a minha natureza medíocre; tudo me abatia muito e, no fundo, sempre estive cansado de tudo, até da vida.
Depois de ver aquele estudante ao lado, olhei mais para frente e notei uma menina muito bonita: ela era baixa, de cabelos longos, escuros e com olhos de jabuticaba, pernas bem torneadas, um corpo de violão. Lembrei-me da época do ensino médio, quando me apaixonei por uma garota assim como ela, muito bela. Ela fazia parte do meu círculo de amigos, nós nos aproximávamos, mas logo em seguida nos afastávamos. Eu era o culpado por essa oscilação, provavelmente. Eu era encantado por sua beleza, por seu cheiro e gestos, mãos, unhas, por seu estilo provocante. Eu sempre permaneci numa dúvida cruel se ela de fato gostava de mim ou de como ela realmente me enxergava. Acredito que ela gostava da minha aparência, e não do meu jeito em si. Se ela por acaso aparentou gostar do meu jeito, foi devido a uma maldita penumbra de paixão. Depois de um tempo, pareceu que ela começou a sentir repulsa por mim e passou a se aproximar de outra pessoa. Enfim, devo acostumar-me a ser rejeitado.
Depois desse devaneio, fechei os olhos e encostei a minha cabeça na janela, respirei fundo; a minha garganta parecia querer inflamar e sentia uma solidão imensa. Virei a cabeça para o outro lado e avistei uma garota em pé com óculos, com o celular na mão, cabelos curtos, cacheados e castanhos, e olhos um pouco puxados. Ela me fez recordar de uma amiga próxima do passado, se é que de fato tive amigos. Naquele tempo, conversávamos e ríamos bastante, ouvíamos músicas juntos e tínhamos quase o mesmo gosto musical. Ela era bem agitada e inteligente também. Conseguia perceber quando eu não estava bem e puxava assunto para que eu pudesse desabafar. Eu falava algumas coisas, principalmente sobre o meu pai, mas nunca conseguia me expressar por completo. Sempre me faltava clareza e, depois, me isolava, voltando como se nada tivesse acontecido. Eu evitava demonstrar a tristeza a qualquer custo.
Depois disso, notei, ainda no metrô, um garoto com camisa de futebol concentrado no celular, sem pestanejar. Isso me lembrou o meu melhor amigo da adolescência; de alguma forma, nossas personalidades eram compatíveis. Ele era sério, mas sempre me fazia rir, e eu sabia que podia contar mais com ele do que com qualquer outra pessoa. Ele geralmente sabia das garotas por quem eu me interessava, mas eu nunca fui muito de falar da minha vida pessoal ou dos meus problemas com ele, tinha um bloqueio quanto a isso. Nós tínhamos uma característica em comum, que, quando se manifestava, era quase igual: o tédio. Esse era um sentimento muito predominante na minha juventude, que eu fazia de tudo para evitar, mas falhava miseravelmente.
Após essa lembrança, percebi uma garota entrando no metrô e sentando no banco de frente a mim. Nossos olhos se cruzaram e ela sorriu gentilmente. Em seguida, colocou a bolsa no colo, cruzou as pernas e retirou um livro da mochila com graça, começando a lê-lo. Encarei-a por um tempo, o que me fez recordar outra garota da minha juventude, com quem eu nem tinha muito contato, mas que estava presente no meu cotidiano. Ela fazia parte, de forma adjacente, do meu grupo de amigos, sempre muito gentil com todos e, aparentemente, racional. Nós conversávamos às vezes, mas algo sempre impedia que as conversas continuassem — fosse por mim, por ela ou pelo estado das coisas. Éramos muito diferentes: ela sempre foi muito dedicada a tudo, enquanto eu nunca me importava com nada e nem via sentido em nada. Mas parecia haver um sentido nela, como se ela guardasse esse sentido dentro de si. Ficava curioso em conhecê-la melhor e sentia o ímpeto de conversar com ela, como se meu coração se deslocasse do peito.
Reconheci, mais tarde, que eu sentia uma espécie de admiração por ela. Eu não conseguia fazer outra pergunta sem ser: "Como você consegue ser assim, hein?" E ela respondia, olhando diretamente nos meus olhos, sorrindo timidamente: "Assim como?" Eu sorria de volta, olhando para ela, sem saber “como” mesmo. Eu geralmente gostava de cumprimentá-la com um aperto de mão, apreciava sua firmeza e genuinidade, e me sentia bem com o toque dela. Às vezes sentia vontade de beijar as costas da sua mão, delicadamente, mas me continha. Quando conversávamos, os seus olhos eram uma arma contra mim e eu me hipnotizava no mar negro deles. Não sei se ela percebia, mas pouco me importava também.
Uma certa vez, senti um impulso, uma vontade de agarrá-la, olhar dentro dos seus olhos e beijá-la da forma mais macia, doce e demorada; afundar o meu rosto na curva do seu pescoço quente e sentir o aroma da sua essência, do seu epitélio, beijá-lo; abraçá-la. De súbito, estranhei esse pensamento repentino; meu coração bateu forte, mas depois expeli esse desejo. Ela era boa demais para mim, e eu me sentia um miserável e fracassado. No fundo, eu queria que ela se apaixonasse por mim, mas sabia que despedaçaria o seu amor depois.
Voltei à realidade, olhei para a garota do metrô, que me fez lembrar daquela, e a vi franzir o cenho em concentração com a leitura. Isso me fez recordar novamente daquela garota da minha adolescência: um certo dia, questionei-a sobre como ela me enxergava, e ela disse: "Eu não sei. Desculpe, mas acho você instável." Uma tristeza e decepção caíram sobre mim; olhei para ela, e ela me disse: "Desculpe, mas é isso que você me transmite na maioria das vezes." De fato, talvez ela não estivesse tão errada assim. Acredito que ela tenha percebido o meu desagrado, apertou minha mão e disse: "Você está chateado, não é?" Eu disse, esquivando o olhar: "Não, não, imagina." Eu sei que ela ficou mal depois, mas não pude evitar.
Depois de um tempo, esqueci daquele episódio e ficou tudo bem. A menina do metrô levantou-se, acenou para mim em despedida e saiu. A saída dela me fez recordar um dos meus últimos momentos com aquela garota: eu estava mal naquela semana e havia me isolado de grande parte dos meus amigos, eu só queria ficar sozinho. Uma tristeza pesava fundo em meu âmago; eu não achava que alguém tivesse realmente percebido essa minha mudança; provavelmente tenham percebido, mas achavam que não fosse nada, sempre achavam que era nada. Porém, ela veio até mim e conversou comigo perguntando se estava tudo bem, com um ar tão preocupado que me assustei. Eu, obviamente, jurei a ela que estava; ela tentou perscrutar os meus olhos, respirou fundo e não perguntou mais, soltando a minha mão.
A partir daquele momento, eu a desejei para sempre comigo. De todas as garotas que tive ou que desejei, ela foi a que me marcou. Mas eu a perdi. Arrependi-me de não a ter puxado para mim, de não a ter beijado com todo o vigor que eu tinha naquele momento, de sentir todas as sensações dentro da sua pele e cheiro. Ela foi a única que enxergou beleza em minha tristeza. Hoje, estou só, perdi não somente ela, mas tudo o que cheguei a amar um dia. Tudo tornou-se apático.
O metrô parou: cheguei ao meu destino. Cheguei em casa, tomei um banho, tomei um remédio para a garganta e dormi, e dormi, apenas, pois nada me permitia idealizar amores ou sonhar.