Desafio 18 Seria o Último Café? 

 

 

A cada cliente que entrava ou saia deixava atrás  de si gotas de chuva ou o aconchego de uma xícara de café 

O Café Refúgio dos  Sussurros estava tranquilo naquela tarde chuvosa. O aroma de café fresco permeava o ar, e a luz suave que entrava pelas janelas criava um ambiente aconchegante. Alex estava sentado em uma mesa no canto, mexendo nervosamente na xícara de café. Jaime entrou, com o olhar baixo, e se dirigiu até ele.

— Alex — começou Jaime, puxando uma cadeira e se sentando. — Desculpe por ter demorado.

Alex não levantou o olhar. O silêncio entre eles era pesado, como uma nuvem prestes a despejar chuva.

— Você não precisava vir — respondeu Alex, sua voz tensa. — Eu já tinha me acostumado à sua ausência.

Jaime respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu sei que errei. Não pensei que você ficaria tão… afetado.

— "Afetado"? — Alex riu secamente, finalmente olhando nos olhos de Jaime. — Isso é tudo que você tem a dizer? Eu pensei que éramos amigos.

Jaime hesitou, as palavras parecendo dançar na ponta da língua.

— Eu não queria que fosse assim. Aquele dia foi… complicado. Você sabe como as coisas podem sair do controle.

— Complicado? — Alex repetiu, com um tom de incredulidade. — Você arruinou tudo! E agora está aqui, como se nada tivesse acontecido.

O barista trouxe mais café para a mesa, mas o clima entre os dois era denso demais para qualquer conforto.

— Olha, eu me arrependo — Jaime disse finalmente, a voz mais suave. — Se eu pudesse voltar atrás…

— Se você pudesse voltar atrás? — Alex interrompeu, os olhos brilhando de frustração. — Você não pode simplesmente apagar o que aconteceu! As palavras ditas não voltam mais!

Jaime olhou para a mesa, visivelmente abalado.

— Eu só queria proteger você… E a mim mesmo. Às vezes eu sinto que você é tão impulsivo, como se estivesse correndo para algo que nem sabe se existe.

Alex franziu a testa, o olhar fixo em Jaime.

— Impulsivo? Eu sempre busquei algo maior do que essa cidade pequena e suas limitações! E você… você sempre ficou preso no mesmo lugar!

Jaime se inclinou para frente, seu tom de voz mais intenso.

— E quem disse que ficar aqui é um erro? Eu tenho meus sonhos também! Apenas não sou tão egoísta em relação a eles!

Um momento de silêncio se instalou entre eles enquanto a tensão aumentava. O som da chuva batia no vidro e parecia ecoar os sentimentos não ditos.

— Você sabe o quanto eu valorizo nossa amizade — Jaime disse com sinceridade nos olhos. — Mas às vezes… às vezes eu sinto que estamos em mundos diferentes.

— Mundos diferentes? — Alex questionou, a voz agora mais baixa. — Desde quando você começou a pensar assim?

Jaime hesitou novamente, lutando contra as emoções que surgiam à superfície.

— Desde aquele dia… Quando você decidiu seguir seu sonho sem me incluir. Você acha que eu não queria estar ao seu lado? Que eu não sonhei com isso também?

Alex fechou os olhos por um instante, permitindo que as lembranças o invadissem. Ele sempre soube que sua decisão de mudar de cidade havia criado um abismo entre eles, mas nunca imaginou que isso poderia levar à traição.

— Eu precisava fazer isso por mim — ele respondeu finalmente, a voz trêmula. — Mas eu não sabia que isso ia machucar tanto você.

Jaime levantou os olhos e encontrou os de Alex, e por um momento houve uma conexão silenciosa entre eles; um entendimento profundo das dores compartilhadas e das escolhas feitas.

— E agora? O que fazemos com isso? — perguntou Jaime, quase em um sussurro.

Alex olhou pela janela, observando as gotas de chuva escorregarem pelo vidro. O futuro parecia incerto e nebuloso como o tempo lá fora. Ele sabia que precisava responder, mas as palavras pareciam fugir dele.

— Eu… não sei ainda — disse finalmente, sem olhar para Jaime. 

Jaime balançou a cabeça levemente, quase resignado.

— Às vezes eu me pergunto se somos realmente amigos ou apenas duas pessoas que têm medo de seguir em frente sozinhas.

As palavras de Jaime cortaram o ar entre eles como uma lâmina afiada. Alex sentiu seu coração apertar ao ouvir aquela verdade crua; era uma pergunta que ele mesmo havia evitado fazer nos últimos meses.

O silêncio voltou a reinar entre eles enquanto o café continuava a esquentar suas xícaras ao lado da dor e do arrependimento. O final da conversa estava  como as nuvens escuras no céu; ainda havia muito a ser decidido sobre o futuro daquela amizade frágil.

E assim permaneceram sentados no Café, cada um perdido em seus próprios pensamentos tumultuados, sem saber se conseguiriam encontrar um caminho de volta um para o outro.

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 15/11/2024
Código do texto: T8197504
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