Remedinho
Sinto muitas saudades de um armarinho antigo que tinha na casa da minha avó. Um dia a vi em seu quarto retirando tudo de dentro dele para doá-lo, disse para mim que só estava acumulando coisas velhas que não tinham mais utilidade. “Sem o armário, não haveria mais espaço para acumular coisas inúteis.” Eu notei que ela estava triste, ela gostava muito daquele armário, mas lá dentro só tinha coisas que a entristecia e incomodava. Chamei minhas primas e resolvemos convencê-la a ficar com o armário e guardar nele apenas coisas boas! Mas que coisas boas? Pensamos e resolvemos guardar poemas, frases que gostávamos, mas não em papéis, e sim no próprio armário. Passaram alguns anos, o armário já estava repleto de poemas. Certa manhã minha vó passou mal, o vizinho chamou uma ambulância. A equipe de paramédicos chegou, e antes de saírem de casa, ela pediu que a levassem até o quarto pois havia esquecido um “remedinho”. Chegando lá, pegou uma caneta vermelha e no centro do armário escreveu: "Queridas netas, acreditem no amor, cultivem o amor e o expressem, seja no momento que for. Ele é o remedinho da alma! Sejam felizes, vovó." Ao chegar na ambulância, a enfermeira perguntou "Pegou o remedinho?" e ela respondeu ”É…um remedinho para a alma!”E aquele foi o último recadinho dela. Que saudade daquelas expressões de amor… Saudade da vovó, saudade daquele armário!
Segundo lugar - Concurso Móvel de Madeira. Dia da saudade. 08/2015.