A Jornada Invisível

A travessia do bosque era um ritual, onde cada passo pesado carregava o silêncio ancestral que ecoava na alma. As mãos calejadas pela batalha travada com o próprio destino eram marcas do esforço, mas também do caminho que já não era só físico. Franco direito do clube, a pequena ponte, a Pedra do Espelho refletindo lá no alto como um portal escondido, reservado apenas para aqueles que ousavam sonhar. Eu era um desses poucos, um dos que subiam até o topo e, de lá, contemplavam o infinito da baía.

Ao lado, o fiel amigo Juca sempre presente, companheiro de trilhas, de noites estreladas na costeira, quando o bagre beliscava a linha e a lua cheia banhava o mar com seu brilho prateado. Mas havia algo mais, algo além de Juca, além do simples. Era a presença daquele índio, sempre ali, quase invisível, entre as sombras das árvores, nas batidas do vento. Suas pegadas eram leves, seus olhos atentos. Eu sentia sua companhia, embora por muito tempo não compreendesse.

Cada jornada que enfrentávamos era uma prova, não só da resistência do corpo, mas do crescimento da alma. A batalha, que parecia travada contra o mundo exterior, revelava-se um espelho da batalha interior: vencer o medo, a dúvida, o ego. A cada passo, a mente se expandia, o espírito se elevava. O bosque não era apenas um lugar físico, era um território de transformação, onde o presente se dissolvia no eterno.

A cabana nas árvores, erguida com esforço e persistência, tornava-se um templo, um espaço sagrado entre o rio e o mar. No centro desse cenário, o índio observava. Não falava, mas suas ações guiavam, mostrando caminhos ocultos e segredos da mata. Seu silêncio era um ensinamento: para evoluir, era preciso ouvir a voz da natureza, a sabedoria do silêncio, a verdade que se esconde nas pequenas coisas. Eu, mesmo sem saber, aprendia.

E assim, o desenvolvimento mental e espiritual florescia em meio ao caos e à paz, como uma semente que rompe a terra árida em busca de luz. Anos depois, num terreiro de macumba, descobri seu nome: Caboclo Tupinambá, o guia que sempre estivera ao meu lado, invisível, mas presente em cada passo, em cada desafio.

Não era apenas um espírito da mata, era parte de mim, da minha jornada de evolução. Ele me mostrara que a verdadeira batalha era interna, que o caminho para a luz exigia paciência, entrega e, acima de tudo, fé no invisível. Ele estava comigo desde o início, guardião do caminho, mestre silencioso, e eu finalmente compreendia: cada trilha percorrida não era apenas uma aventura externa, mas um passo em direção ao meu próprio despertar.

Arthur Marchesini
Enviado por Arthur Marchesini em 12/11/2024
Código do texto: T8195519
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