O Beijo que Nunca Aconteceu
Ali estava ele, sentado na beira do banco de madeira sob a luz suave do entardecer. O ar carregava o perfume de flores de magnólia, e a brisa que soprava parecia sussurrar promessas ao seu redor. Diante dele, sentada de maneira graciosa, estava ela, a mulher que ocupava seus pensamentos há semanas. Seus olhos, profundos e insondáveis, encontraram os dele mais uma vez. Nenhuma palavra foi trocada, apenas o silêncio denso de dois corações que batiam em descompasso.
Ele queria beijá-la. Não um beijo comum, desses que se esquecem com o passar do tempo, mas algo além disso — um beijo que os transportaria para além da Terra, dos céus, e até mesmo do sistema solar. Sentia, em seu íntimo, que aquele simples gesto poderia conectá-los ao cosmos, como duas estrelas que se encontram em uma dança eterna de luz e energia. Era esse o poder daquele momento, a força invisível que os envolvia, cada segundo se tornando mais intenso que o anterior.
Ela não disse nada, mas seu olhar parecia partilhar o mesmo desejo. Ele podia ver em seus olhos a mesma ânsia, a mesma tensão contida, como se esperasse por algo que nunca tinha sido dito em palavras. Mas havia algo dentro dele que o impedia de se mover. Algo mais forte que a atração, algo mais pesado que o desejo. O medo.
O medo de se machucar, de ver aquela conexão única ruir. Quantas vezes, em sua vida, não havia ele se deixado levar por um impulso, apenas para se perder na dor do arrependimento? Tinha medo de se jogar de novo, medo do vazio que poderia vir depois do beijo. E assim, diante da oportunidade de tocar o infinito, ele nada fez.
O tempo parecia se dilatar, enquanto eles continuavam se olhando. O sol, lá longe, já começava a desaparecer no horizonte, tingindo o céu de laranja e dourado. A sombra do que poderia ter sido pairava entre eles. Por um instante, ele sentiu seus lábios tremerem, o corpo se inclinar na direção dela, mas parou. Seu coração acelerava, e ainda assim, não era o suficiente.
Ela então sorriu — um sorriso triste, como se compreendesse o que ele não conseguia expressar. Levantou-se suavemente, sem pressa, e, sem dizer uma única palavra, se afastou. Ele ficou parado, imóvel, enquanto o som de seus passos se perdia no crepúsculo.
Sozinho, o homem sentiu o peso daquilo que não aconteceu. O beijo que não deu, o amor que não ousou viver. Havia deixado escapar o momento em que poderia ter voado para além das estrelas, mas escolheu permanecer enraizado no solo firme do medo. E ali, sob o céu que agora se vestia de um azul profundo, ele entendeu que, às vezes, o maior risco não é o que se toma, mas o que se evita.
E assim, enquanto a noite caía, ele ficou ali, na companhia do silêncio e do arrependimento, sabendo que aquele beijo jamais seria dado.