Um conto de Pai Arruda e o Caminho das Almas!

O terreiro estava em silêncio, um silêncio carregado de respeito e reverência. Os filhos e filhas de santo esperavam ansiosos a chegada de Pai Arruda, o preto velho que todos conheciam pelo seu sorriso sereno e sua voz repleta de sabedoria. As velas tremulavam, lançando sombras dançantes nas paredes, e o cheiro de arruda e defumação tomava o ar, como se anunciando a chegada de um espírito de luz.

De repente, o atabaque soou com suavidade. Um vento leve soprou pela sala, e ali, no centro, materializou-se Pai Arruda. Seu corpo curvado carregava o peso de muitas eras, mas seus olhos brilhavam como o sol da manhã, refletindo a paz de quem carrega em si o conhecimento das eras.

Ele veio de longe, como sempre fazia, para trabalhar. Seu caminhar era calmo, apoiado no cajado de madeira que ele segurava com mãos marcadas pelo tempo. Aos pés do altar, sentou-se com uma leveza que contradizia sua aparência frágil. Os filhos se aproximaram, de cabeça baixa, sabendo que aquele momento não era apenas um encontro entre humanos, mas uma conexão direta com o divino.

"Salve, meus filhos," disse Pai Arruda com sua voz rouca, mas cheia de doçura. "Hoje, vamos falar de amor e fé. Vamos falar de compaixão."

Seu olhar percorreu a sala, como se cada filho ali tivesse uma história para contar, e ele já conhecesse todas elas. "Eu venho de longe, lá da Aruanda, para trabalhar. Eu não sou mais que ninguém, sou apenas um velho preto que aprendeu com o tempo que a força está na humildade e no amor."

Os filhos sabiam que, por trás de suas palavras simples, havia um poder inabalável. Pai Arruda tinha o dom de quebrar demandas, de afastar os males que rondavam seus filhos, mas sempre dizia que o poder maior estava na fé que eles próprios carregavam.

Ele começou a preparar uma defumação, com folhas de arruda e outras ervas que trazia de Aruanda. O cheiro envolveu o terreiro, como um abraço espiritual, e um por um, os filhos foram se sentindo mais leves, como se o peso das demandas fosse se dissipando no ar.

"Vocês têm que entender," disse ele enquanto soprava a fumaça em volta de um dos filhos, "que a fé não é só uma palavra. Ela é a luz que guia os passos, que clareia o caminho quando tudo parece escuro."

Os filhos sentiram essa verdade na pele. Sabiam que Pai Arruda não falava da fé apenas como um conceito, mas como algo vivo, uma força que pulsava no coração de cada um. Ele cuidava deles com amor e humildade, como um pai que sabia das dores e desafios do mundo, mas também conhecia os caminhos para superá-los.

"Jesus Cristo, Oxum, Oxalá," murmurou Pai Arruda, invocando as forças maiores. "São esses que caminham ao nosso lado, mostrando o caminho da compaixão."

Ao fim da sessão, as demandas foram quebradas. O peso das dificuldades ficou no chão, dissolvido pela sabedoria e pelo amor daquele preto velho, que trabalhava incansavelmente pelos seus filhos. Cada um saiu dali mais forte, com a certeza de que, enquanto Pai Arruda estivesse por perto, não haveria mal que pudesse resistir à fé, ao amor e à compaixão.

Arthur Marchesini
Enviado por Arthur Marchesini em 11/11/2024
Código do texto: T8194625
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