"O HOMEM QUE CONTAVA AS ESTRELAS" Conto de: Flávio Cavalcante

O HOMEM QUE CONTAVA AS ESTRELAS

Conto de:

Flávio Cavalcante

Havia, numa cidadezinha pacata, um homem chamado Agenor que, todas as noites, subia ao topo de um morro e ficava lá, contando estrelas. O povo do lugar achava aquilo um tanto curioso e sempre tinha alguém espiando Agenor, tentando entender o motivo. Diziam que ele estava juntando as estrelas para fazer um pedido ao céu, outros falavam que ele era um ex-astrônomo de algum país distante. Mas, a verdade é que ninguém sabia o porquê dessa contagem.

Agenor tinha sua própria explicação. Segundo ele, cada estrela que via, era como uma moeda depositada no banco da sua esperança. A cada noite que passava, ele contava mais e mais, convencido de que, um dia, somaria tantas estrelas que o universo teria de lhe conceder algo muito especial.

Mas o velho Agenor era atrapalhado demais. Certa vez, quando estava quase nos milhares, uma nuvem cobriu o céu, e ele teve que recomeçar a contagem. Da outra vez, perdeu as contas porque esqueceu o número ao se distrair com uma estrela cadente. E em outra noite, caiu de sono e só acordou ao ser mordido por um escorpião que passava por ali, deixando-o se contorcendo de tanta dor e espantando-o para longe das estrelas.

A cidadezinha, no entanto, começou a notar algo curioso: as crianças estavam aprendendo a contar estrelas com ele. Toda noite, uma turma de pequenos escalava o morro e sentava-se ao redor de Agenor, escutando suas histórias de como cada estrela guardava um segredo. Diziam que algumas eram estrelas de sorte, outras de desejos que alguém do passado fez.

Foi então que, um dia, Agenor desapareceu. O povoado ficou curioso, e as crianças, ficaram tristes. Até que, numa noite, um recado apareceu escrito na praça: “Quando somarem tantas estrelas que já nem couberem no pensamento, lembrem-se de pedir um desejo ao universo, porque até mesmo as estrelas precisam ser ouvidas.”

E assim, o povoado passou a contar estrelas toda noite, rindo ao pensar em Agenor, o contador atrapalhado, que acreditava que no final das contas, tudo era uma questão de paciência, esperança e uma boa dose de risada, para, um dia, quem sabe, alcançar seu próprio desejo nas alturas. Esta estória remete a uma boa reflexão sobre o nosso equilíbrio emocional.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 03/11/2024
Código do texto: T8188839
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