O Casal da Fachada
Marina e Bruno eram o casal perfeito. Ao menos, era assim que todos os viam. Os Migos suspiravam com a elegância dos dois, e o brilho que exalavam nas redes sociais era um espetáculo para qualquer um admirar.
Estavam sempre bem vestidos, em lugares sifisticados, com sorrisos meticulosamente calculados. Mas, como nas vitrines que enfeitam a cidade, tudo era cuidadosamente montado para impressionar - e esconder o que estava por trás do vidro.
Bruno era um advogado em ascensão, movido pela ambição e pela vontade de ser visto como um homem de sucesso. Desde que conheceu Marina, percebeu nela a parceira perfeita para completar sua imagem. Ela tinha a sofistificação exata para andar ao lado dele, uma mulher que sabia ser discreta, sempre bem-apresentada, alguém que valorizava os mesmos valores que ele: status, apar^ncia, e uma vida de luxo. Marina, por sua vez, enxergava em Bruno um trampolim. Ele era a chave para uma vida de estabildade e glamour. Com ele, poderia ter a vida que sempre sonhara, com viagens exclusivas, jantares caros e uma casa que causaria inveja a qualquer um.
Era uma relação de conveniência, um pacto silencioso onde o amor - aquele sentimento bruto, que mexe com o fundo da alma -
ficava de fora. No fundo, ambos sabiam que não era o afeto que os mantinha juntos, mas a utilidade mútua. Ele se admiravam como quem contempla um quadro caro na parede: intocável, sempre no lugar certo, mas sem vínculo reala, sem intimidade.
O tempo foi passando e pequenos gestos de indiferença começaram a se tornar frequentes.
Bruno, muitas vezes, preferia prolongar as reuniões de trabalho a voltar para casa. Marina, por sua vez, gastava longos minutos ajustando selfies, editando fotos, mostrando uma vida perfeita para quem a seguisse. Cada vez mais distantes, ambos sabiam que a ausência de amor não era problema - afinal, amor, com suas demandas, não cabia no contrato silencioso que ambos haviam estabelecido.
Para os amigos, no entanto, eram o exemplo da felicidade. Ninguém imaginava o que realmente sustentava aquele relacionamento:uma fachada cuidadosamente mantida, onde o amor, se é que um dia teve espaço, estava guardado em uma gaveta, esquecido sob as camadas de aparência e interesses.
Uma noite, porém, Marina teve uma sensação estranha. Enquanto olhava para as fotos de suas viagens e jantares, uma tristeza densa a invadiu. Ali estava tudo o que sempre quis, mas sentia-se vazia. Bruno, ao lado dela, mexia no celulat sem perceber seu silêncio, sem notar seu desconforto. Ela o observou por um instante e viu que, na verdade, eram completos estranhos. Parceiros, sim, mas unidos por algo tão frágil que qualquer vento poderia dissipar.
Marina se levantou e foi até o espelho. Viu seu próprio reflexo, impecável, tão bem montado quanto uma fachada de loja, mas percebeu a falta de brilho em seus olhos. Viu, de forma nua e crua, a verdade que sempre escondera de si mesma: todo o luxo e a aparência eram apenas uma casca, e por dentro estava vazia.
Ao olhar novamente para Bruno, entendeu que o contrato entre eles nunca fora sobre amor. Era sobre aquilo que poderiam proporcionar um ao outro, uma troca calculada e mútua que jamais alcançaria a profundidade de um verdadeiro afeto. E naquela noite, pela primeira vez, ela sentiu o peso de ter deixado o amor guardado, escondido, enquanto o interesse reinava.
Marina voltou para o sofá, ajeitou o vestido, e sorriu pra Bruno quando ele levantou os olhos. A fachada estava ali, intacta, mas a verdade, ela agora sabia, não se escondia mais dela mesma.