Resquício de Insônia.
Onde estou? Me pergunto sem nunca ter uma resposta que preste, só uma espécie de eco vazio que bate de volta no meu peito. O que busco? Nada, o silêncio toma conta da minha mente e me leva embora, distante dos dias em que o sorriso dominava meu rosto e a alegria pulsava forte no coração, a vida era uma estrada cheia de cor, mas agora... estou só, morto por dentro, sem companhia, sem alma. O que fiz de mim? Essas palavras voltam sempre quando o dia amanhece e eu me lanço na cama, depois de uma noite longa, sem descanso, só insônia e lamento, mil pensamentos errantes. Minha vida, que ventos me carregam agora, nesses dias de cólera, me pergunto. Que direção esses ventos seguem? Que neblina me envolve e me cega, perdida, sem saber o que fazer de mim. Quem serei daqui a trinta anos, aos cinquenta e sete? Um vazio... Deus se foi, e com ele o diabo também, só restaram os homens, causando dor, espalhando aflição, cegos. Malditos sejam todos os filósofos, maldita seja a fé, maldita a razão. Minha mente, crítica e indecisa, amaldiçoada...
Olho para o velho, ele me ouve, mas só me despreza com aquele olhar vazio, volta a assistir a tela, imóvel, preso na caixa que fala por ele. A tela, a grande mentirosa dos tempos modernos.
E então, do canto do meu olho, ela aparece. Pequena, com um brilho estranho nos olhos. A garota me encara e diz, num sussurro cortante: “Aprenda com os hipócritas, seja como os pastores e padres, minta como os governantes e viva como os loucos, porque a esperança é para os miseráveis. Ninguém se importa com quem você realmente é, só com o que você parece ser. Não discuta, apenas concorde. Tenha um carrão, uma casa grande, roupas finas, diga que acredita em Deus e pronto, você estará no meio dessa multidão perdida que vagueia por aí sem rumo. Mas, por favor, nunca, nunca seja um escravo da tela, como esse velho bastardo que acredita em tudo o que ela diz. E, o mais importante, nunca esqueça de onde você veio. Apenas finja.”
E com isso, ela se levantou, cambaleando como um bêbado, tomou um gole de soma, saiu pela porta lateral, e eu fiquei ali, sozinho novamente, perdido na estrada sem fim da minha própria cabeça.