A DECISÃO DE HELENA - Conto LGBT

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— O almoço está pronto. Vem almoçar. – disse a mãe da porta do quarto.

— Não estou com fome. – respondeu Helena. Ela estava sentada em cima da cama, olhando algumas fotos num álbum. Tereza se sentou ao lado dela.

— Eu fiz bolinho de aipim que você gosta, salada de maionese, galinha frita, arroz à grega e feijão mexido.

Tereza fez uma pausa, olhando as fotos da filha com a namorada. Celina morreu num acidente de carro. Moraram juntas por dois anos. Helena ficou arrasada, tanto que pediu demissão na empresa em que trabalhava. Não aguentou o vazio que Celina deixou em sua vida. Agora morava com os pais.

— Você deveria apagar essas fotos e seguir a sua vida, minha filha.

— Não vou apagar as fotos, mãe! São lembranças de Celina, dos momentos que passamos juntas.

— Você precisa superar isso. Já faz um ano. Você tem que seguir a sua vida. Vá sair com os amigos, fazer novas amizades. Você vai encontrar um novo amor. Tenho certeza de que Celina quer que você seja feliz. Ninguém deve ficar sozinho para sempre.

Helena encostou a cabeça no ombro da mãe. Seus pais foram compreensivos quando souberam que ela gostava de mulher. Não fizeram nenhum escândalo. A apoiaram como bons pais que eram.

Tereza abraçou a filha com carinho.

— Vamos almoçar. Teu pai está chegando.

Quando Otávio se sentou à mesa, Tereza notou algo diferente na expressão dele. Eles tinham um vínculo telepático, algo comum quando os casais se combinam e estão ligados pelo fio espiritual que une “almas gêmeas”.

— Aconteceu. Estou de férias.

— E você nem avisou a gente.

— Decidi há poucos dias. Sabem o que vamos fazer?

— Reformar o jardim. – disse Helena.

Otávio pegou uma coxa de galinha e começou a comer com as mãos. Quando mãe e filha reclamavam que ele não obedecia às regras da boa etiqueta, ele dizia em tom de brincadeira que era selvagem, um neandertal. Seus traços físicos eram rudes, não era nenhum Adônis, mas era um homem honrado. Tereza apaixonou-se por ele não pelos seus traços físicos, mas pela sua personalidade, sua sabedoria e bondade, as coisas belas que ele tinha por dentro.

— Nós vamos viajar para a Itália. Ficaremos alguns dias na casa do meu irmão Paolo que não vejo há muitos anos. Já podem começar a fazer as malas.

Tereza hesitou.

— Helena tem que procurar emprego. Eu preciso de uma máquina de costura nova...

Otávio acabou de mastigar, limpou a gordura do bigode na toalha de papel.

— Aconteceu o seguinte, dois pontos: Paolo vendeu as terras do nosso avô e eu tenho que ir lá assinar os documentos para receber a minha parte da herança.

Tereza olhou para a filha de olhos arregalados. Voltou a encarar o marido.

— Nós vamos ficar ricos? Não que eu esteja interessada no dinheiro.

—Acredito. –retrucou o marido, com fingido cinismo. — A quantia não sei ao certo. Paolo não deu muitos detalhes, mas adiantou o dinheiro para as passagens. Vai ser ótimo para Helena mudar de ambiente, conhecer a Itália, os parentes. O que acham?

Helena pensou em Celina. Na viagem que poderiam ter feito juntas. Uma coisa que tinham planejado fazer um dia e esse dia nunca chegou.

— Já podem arrumar as malas pra viagem. - avisou o pai, lambendo os dedos engordurados. Definitivamente, ele odiava regras da boa educação à mesa.

***

Chegando em Roma, a família se hospedou em um hotel. O único lugar que visitaram foi a basílica de São Lourenzo e o cemitério ao lado, onde os avós de Otávio estavam sepultados. Ele não tinha muito tempo para fazer turismo, precisava estar com o advogado na segunda-feira. À tarde pegaram o ônibus para ir à casa de Paolo. Eles foram recebidos com alegria e muitas gentilezas.

Paolo apresentou Giovanna, filha de um primo dele. Uma jovem sorridente, simpática e um tanto tímida. Tereza conhecia Claudia, esposa de Paolo, por fotos e quase não a reconheceu, pois era uma foto antiga. Claudia havia passado do peso ideal e seus cabelos começaram a branquear.

— Vocês devem estar cansados. Querem tomar um banho e descansar um pouco? Giovanna, mostre a eles os quartos.

— Desfaz as malas e vamos conversar depois. – sugeriu Paolo.

A jovem os conduziu para o piso superior. Indicou o quarto para Tereza e Otávio e depois o de Helena, ao lado. Depois de se instalarem e mudarem de roupa, eles desceram para a sala, onde Cláudia os recebeu com acepipes.

Helena notou que Paolo era parecido com Otávio, tinha o mesmo queixo ossudo. Eles tinham uma certa semelhança com Burt Lancaster. Claudia era roliça, de rosto redondo, os cabelos começavam a branquear. Giovanna devia ter vinte e poucos anos, possuía um perfil atlético, de alguém que se exercitava regularmente. Era bonita e atraente. Paolo começou a falar do avô.

— Nosso avô decidiu criar uma vincula e produzir vinho de qualidade. Comprou algumas terras, maquinário, construiu galpões. Mas ele morreu de repente e o projeto parou. Nosso pai não tinha o tino dele, sempre trabalhou na indústria, como operário e não possuía experiência. Além disso, naquela época houve uma queda no padrão de vida. Aconteceram greves e motins em várias cidades. As terras ficaram lá, paradas desde então. Quando nosso avô morreu, ele deixou algumas dívidas com os bancos. Eles queriam tomar as terras e nosso pai teve que abrir processo na Justiça e fazer acordos para não perder tudo. Deu entrada no inventário, já que era o único herdeiro. Como vocês sabem, ele morreu e a mãe continuou com o processo e só agora a justiça julgou o caso. As terras foram vendidas, uma parte do valor foi para pagar as custas do processo, outra parte para os bancos e prefeitura e o restante foi dividido entre nós dois, Otávio. Um pouco mais de oitocentos mil para cada um. Não dá para ficar milionário, mas já dá para comprar um carro novo.

— A Tereza já pode abrir o ateliê de costura que ela tanto sonha. – disse Otávio. — A Helena vai comprar um carro, com certeza.

— O dinheiro é seu, pai. Eu vou arranjar um emprego logo que voltar.

— Então? Vai precisar de um carro só seu.

Tereza sabia que o casal tinha um filho e deu por falta dele.

— E Enzo? –indagou ela – Ele não mora com vocês?

Helena já havia tentado encontrar o rapaz pelas redes sociais e não conseguiu. Estava com vontade de conhecer seu único primo. Ela notou que a pergunta da mãe criou uma certa tensão. Hesitante, Cláudia olhou para o marido, mas Paolo permaneceu calado, carrancudo. Helena percebeu que o assunto sobre o filho não era bem-vindo.

— Ele decidiu morar na cidade -- disse Claudia.

Giovana tocou no braço de Helena.

— Vamos lá fora? Quero te mostrar o lugar.

Helena pediu licença e saiu. Elas andaram pelo pátio, onde havia um galpão comprido, cheio de prateleiras com vasos, potes, tigelas para serem cosidas num grande forno ao lado da construção. A chaminé tinha 40 metros de altura.

— Acho que eles estão mentindo -- disse Giovanna. — Acho que eles expulsaram Enzo de casa.

— O que ele fez de tão grave?

— Não pelo que ele fez, mas pelo que ele é. Enzo é gay e os pais dele ficaram horrorizados quando descobriram. Paolo e Cláudia são pessoas boas, tolerantes para certas coisas, mas são ignorantes e radicais. Eu não estava em casa quando Enzo saiu. Me disseram que ele discutiu porque Paolo se negou a emprestar dinheiro para ele comprar um carro e decidiu ir embora.

— Paolo e Claudia tem preconceito contra os homossexuais? - indagou Helena, com apreensão.

Com pesar, Giovana sacudiu a cabeça.

— Tem. Já notei isso.

Helena procurou se expressar da melhor maneira.

— E você, Giovana, também ficou contra o Enzo? Não deu apoio a ele?

— Não tenho nada contra. E é por isso que eu estou preocupada. Não encontrei Enzo em lugar nenhum. Falei com os amigos dele e ninguém o viu desde que saiu de casa.

Helena segurou Giovana pelo braço.

— Eu pergunto se você tem algum preconceito contra os homossexuais, porque eu gosto de mulheres, Giovana, entende?

A jovem olhou para ela com curiosidade

— Você é gay? É claro que não sou homofóbica!

— Ainda bem. Eu tive um relacionamento com uma mulher. Papai e mamãe aceitaram sem problemas e até a amaram como uma segunda filha. Fiquei preocupada agora, porque se eles falam para Paolo e Cláudia que namorei, não um homem, mas uma mulher, vai ser um desastre...

**

Helena aproveitou que a mãe estava no quarto, para abordar o assunto que a afligia.

— Mãe, Paolo e Cláudia têm preconceito contra homossexuais. Giovana acha que eles expulsaram Enzo de casa quando descobriram que ele é gay. Então, não comente nada sobre meu relacionamento com Celina. Com certeza eles ficarão incomodados, principalmente comigo nessa casa.

— Cláudia justamente perguntou se você tinha se casado – respondeu Tereza com toda a tranquilidade que lhe era peculiar.

— Respondi que ainda não e mudei logo de assunto. Não entrei em detalhes. Sei que existem pessoas preconceituosas. Consideram a homossexualidade, uma coisa antinatural. Muitos estão apegados a questões religiosas, a um raciocínio antigo e ultrapassado.

Helena abraçou a mãe e beijou-a na face.

— A senhora é maravilhosa.

— Que nada! Estou repetindo o que teu pai me ensinou. Logo que ele receber a herança, nós vamos embora. Aproveite nossa estadia para passear.

No dia seguinte, Helena estava ajudando Giovana a lavar a louça, quando ela perguntou;

— O que quer ver em Roma? – ela referia-se ao passeio na cidade. — Visitar o Coliseu? A Fontana di Trevi? Você disse que não viram quase nada quando chegaram...

— Quero conhecer a Via Áppia. – respondeu Helena.

— A rua dos mortos?! –surpreendeu-se Cláudia. — Tem lugares mais bonitos e agradáveis para vocês irem. Lá só tem túmulos e restos de construções sem atrativo algum.

— Me estarrece a tua total ignorância dos fatos! – exclamou Paolo. — Não diga bobagens, mulher. O lugar é histórico, vale a pena conhecer, pelo menos, uma parte dela.

Alguém tocou a campainha.

— Deve ser a Andréia. – disse Giovana e foi atender. Logo em seguida retornou com a visita.

Andréia era uma bela jovem de cabelos avermelhados e olhos verdes. Usava um vestido de tecido leve, bege, estampado com pequenas e diáfanas flores cor-de-rosa. O sorriso encantador subjugou Helena. Não só o sorriso, mas toda a sua figura era como um raio de sol, tépido e inebriante. Helena imaginou estar diante da deusa etrusca, Uni. Após as apresentações, as três jovens subiram para a varanda. Paolo convidou Otávio para conhecer a olaria e Claudia e Tereza, iniciaram uma conversa sobre costura e moda

**.

— Descobri que Paolo pagou uma fatura em nome da clínica São Camilo, em Colle Verde. Fica a 25 minutos de carro. -disse Giovana em tom baixo, para os outros não ouvirem lá embaixo.

Andreia não entendeu o sigilo da coisa.

— Tem alguém da família doente?

Giovana ignorou a pergunta dela e encarou Helena.

— A clínica é um sanatório para doentes mentais. Desconfio que meus tios tenham internado Enzo lá.

Andreia ia fazer outra pergunta, mas Helena tocou na mão dela como que por acaso e perguntou a Giovana se podia contar a história. Giovana assentiu com um movimento de cabeça e Helena explicou em poucas palavras as desconfianças de Giovana. Andreia ficou indignada e ao mesmo tempo preocupada com Enzo, por quem tinha uma grande amizade.

— O que acham de irmos ao sanatório investigar?

— Vou dizer aos tios que iremos dar uma volta de carro. – disse Giovana.

**

— Viemos visitar o nosso primo, Enzo. – disse Giovana à recepcionista da Clínica São Camilo. O prédio era antigo e fora reformado. Ficava próximo à estrada da Fonte, na direção da Reserva Natural di Nomentum, no final de uma estradinha de cascalho.

A mulher consultou a ficha no computador.

— A visita só pode ser autorizada pelo doutor Salvatore.

As três garotas esperaram que ela se decidisse. Então, contrariada, pegou o telefone e fez uma ligação. Escutou por alguns segundos, desligou e encarou Giovana.

— O doutor Salvatore disse que o paciente não pode receber visitas por causa do seu estado nervoso. Ele fica agitado.

— Diga que queremos vê-lo, mesmo de longe - pediu Helena. A mulher hesitou, incomodada. Andreia adiantou-se e debruçou-se sobre o balcão.

— Faça o favor de dizer ao doutor Salvatore, que Andreia Valentino, filha da condessa Nicoleta Valentino, deseja visitar o paciente Enzo Di Solano.

A mulher remexeu-se na cadeira e a contragosto voltou a telefonar para o diretor. Voltou a desligar, engoliu em seco.

— Um enfermeiro vai acompanhar vocês. – disse e bateu com a mão aberta numa campainha.

Andreia inclinou-se sobre o ombro de Helena e falou em voz baixa.

— Minha mãe faz doações substanciais para a clínica.

Helena arrepiou-se com o sussurro em seu ouvido.

Surgiu um enfermeiro com um molho de chaves. Fez um sinal para as garotas e dirigiu-se para um corredor mal iluminado. Foi abrindo portas gradeadas até chegar ao quarto de Enzo. Quando abriu a porta, encontraram Enzo desacordado sobre a cama, os lençóis manchados de sangue.

***

— É inacreditável o que vocês fizeram! – exclamou Otávio, ao saber o que havia ocorrido. Paolo e Claudia estavam sentados diante dele, abalados com a notícia sobre a tentativa de suicídio de Enzo. Otávio pensou que estava sendo cruel, mas decidiu falar. — Só porque Enzo é gay, vocês o colocaram num asilo para doentes mentais? Como se a homossexualidade fosse uma doença!

Otávio não gritava, mas falava firme e duro. Era o irmão dele e ele tinha que colocar juízo naquela cabeça.

— Agora o filho de vocês está lá no hospital em coma. Cortou os pulsos porque não aguentou a rejeição dos pais. Preferiu morrer. Isso é certo? Vão ficar aí sentados, ignorar o que está acontecendo ou vão ficar ao lado do filho no hospital? Mostrar a ele que o amam? Olha, me dá vontade de pegar Helena, Tereza e ir embora. Mandar a herança às favas. Quando é que temos que ir ao tabelionato?

— Era amanhã, mas já telefonei pro advogado pedindo pra mudar a data.

Paolo passou as mãos pela cabeça, num gesto nervoso. Cláudia permanecia calada, fitando o vazio, e lutando contra seus monstros internos.

— Foi uma decisão errada, confesso. – disse Paolo em tom ameno. Se fosse outra pessoa estaria brigando, mas ele respeitava o irmão mais velho. — Dou-me conta agora que, se Enzo morrer, a culpa é minha.

Cláudia se virou para o lado e explodiu num pranto convulsivo. Otávio decidiu falar sobre Helena, dar um exemplo de amor e racionalidade.

— Quando ficamos sabendo que Helena gostava de mulher, não fizemos nenhum escândalo. Aceitamos com naturalidade. Ela é assim, nasceu assim e ponto final. Helena sempre foi discreta, nunca ficou se agarrando com Celina na nossa frente. Era uma opção dela. Quando Celina morreu, fomos os primeiros a consolar Helena. É o nosso dever dar apoio espiritual aos filhos seja em que situação for. A vida íntima dela fica entre quatro paredes e não temos nada com isso. É natural. Desde que o mundo é mundo, existem homossexuais. A Vida, como organismo, criou mecanismos para a preservação da espécie. O orgasmo é um engodo para garantir que o ato sexual seja feito e gerar um novo ser vivo. Mas nem todos os mecanismos de preservação da espécie funcionam corretamente e aí entra outro mecanismo que é o Amor.

Otávio calou-se, dando-se conta que não estava na Universidade. Percebeu que estava dando uma aula de biologia a dois seres de mentalidade atrasada que não entendiam tais conceitos científicos. Estava divagando, quando deveria se ater à realidade dos fatos.

— Cláudia, pare de chorar. Vamos para o hospital. Vá ficar junto do seu filho e pedir perdão antes que seja tarde.

***

— Ele está corado e me parece mais animado – disse Giovana a Helena e Andreia. Elas permaneciam diante da janela envidraçada do quarto de Enzo, no hospital. O rapaz estava na cama, recostado nos travesseiros com a mãe e o pai, sentados em cada lado. Ele mantinha os braços debaixo do lençol, para que os outros não vissem as ataduras. Não estava arrependido com o que fez, só não queria dar a impressão de que estava expondo as feridas para magoar Paolo e Cláudia. Sem liberdade, a vida para ele não tinha sentido.

Os pais haviam conversado com ele. Pediram perdão, disseram que estavam arrependidos.

— Se você não quiser mais morar conosco, nós vamos entender –disse Cláudia.

— Só nos visite regularmente – pediu Otávio. — Estamos dispostos a te ajudar no que for preciso.

— Vou repousar alguns dias. – respondeu Enzo. — Vocês sabem que eu já estava com vontade de me mudar para a cidade. Mas isso decidirei depois que recuperar minhas forças.

— Parece que a relação deles vai melhorar. - comentou Helena.

Giovana falou num tom duro. — Estou pensando em processar aquela clínica. Talvez tenha outros pacientes internados lá, em situações semelhantes à de Enzo.

— Conte comigo, amiga. – respondeu Andreia.

— Vou fazer isso outro dia. Essa semana tenho que estudar para o mestrado. Vou ter que me encerrar no quarto junto com os livros. – Giovana se virou para Andreia. — Helena quer dar um passeio na Via Ápia e você poderia acompanhá-la. O que acha?

Andreia sorriu para Helena.

— É claro! Será um prazer. Serei o seu cicerone. Iremos de carro até ao largo de São Sebastião e ali podemos alugar bicicletas para ir até onde o cansaço nos derrubar.

— Ótima ideia. – concordou Helena, animada — Adoro andar de bicicleta.

***

— Aquele é o mausoléu de Rômulo, o primeiro rei de Roma. – apontou Andreia para um prédio praticamente inteiro, mas cercado por restos de paredes e pilastras que formavam um conjunto maior e que foi destruído em tempos de guerra e distúrbios sociais

Logo em seguida elas passaram pelo mausoléu de Cecilia Metella, uma construção de forma cilíndrica, em frente às ruínas da igreja de São Nicola. Meia hora depois pararam em um café. Helena não estava acostumada a andar de bicicleta. Embora tenha feito exercícios para aquecer e alongar os músculos, sentia dores nas pernas.

— Quer que eu faça massagens em tuas pernas? - perguntou Andreia.

— Não precisa. Só vamos descansar um pouco.

O edifício era numa construção antiga, simples, o telhado com as conhecidas telhas romanas. Na frente havia uma carranca esculpida numa pedra, provavelmente representando um ser mítico da natureza. Após tomar café e comer um sanduíche, as duas amigas descansaram um pouco e seguiram adiante. A parada serviu para que elas se conhecessem um pouco mais. Helena contou sobre seu relacionamento com Celina, o período de luto e os seus planos para o futuro, voltar a trabalhar como jornalista. Andreia revelou que descobriu que também gostava de mulher, depois que terminou o noivado. Ela foi consolada por uma amiga comum, e as duas acabaram vivendo um romance passageiro. Não deu certo porque a outra era muito ciumenta. Andreia preferiu terminar antes que acabassem arrancando os cabelos numa luta livre.

Saindo do café, Andreia mostrou o antigo portão de ferro de uma das entradas da mansão onde morou Sophia Loren e Carlo Ponti.

Alguns minutos depois, Andreia parou em frente a uma torre em ruínas. Permanecia em pé apenas três das grossas paredes de pedras. Da altura de 30 metros, tinha duas entradas na frente, uma abertura quase no topo, a parte de trás havia sido destruída há muitos anos. Andreia não disse que aquele era o mausoléu do general romano, Pompeo Magno. Mandou Helena largar a bicicleta, pegou a mão dela e entrou pela parte de trás das ruínas.

Empurrou Helena contra a grossa parede de pedra, cascalho e argamassa e a beijou, enquanto procurava desabotoar a calça jeans dela.

Por dentro da calcinha, a mão espalmada de Andreia pressionava e esfregava suavemente. Helena abriu a blusa de Andreia e sugou o mamilo, fazendo um estalo. Voltaram a se beijar e acariciar seus clitóris. O gozo explodiu em cima dos restos mortais do general romano, cujo espírito, há anos, estava em outras esferas.

***

— Mãe, pai! Eu vou ficar. - disse Helena, entrando no quarto. Otávio e Tereza estavam preparando as malas para ir embora. Eles sabiam que um dia, a filha voltaria a morar longe deles. Era o destino dos filhos.

— Por que essa decisão tão de repente? – reclamou Tereza.

— Andreia vai abrir uma cafeteria na Piazza Navona e me convidou para ser sua sócia.

Tereza deixou o que estava fazendo, aproximou-se e segurou as mãos de Helena.

— Tem certeza de que é isso que você quer? Não é uma animação passageira?

— Tenho certeza, sim. Usarei o dinheiro que o pai me deu e vou investir no negócio. Tenho certeza de que vamos ter sucesso. A gente combina, temos os mesmos gostos e ideias. Rolou uma química perfeita e estamos com fé no futuro.

— Tomara que dê tudo certo, minha filha – disse Otávio. — Nós vamos visitar vocês quando voltar de Toledo, na Espanha.

— Como assim, Espanha?

— Resolvemos prolongar nosso passeio – explicou Tereza. – Eu sempre quis conhecer a cidade de Toledo, onde meu avô nasceu. Vamos aproveitar o dinheiro da herança, né.

— Aproveitem.

Helena e Andreia, levaram Otávio e Tereza ao aeroporto Internazionale Leonardo da Vinci. No caminho passaram na casa de Enzo, para se despedir dele. O rapaz começava uma nova fase em sua vida. Estava confiante no futuro

***

— Cuide bem de minha filha. – pediu Tereza, ao se despedir de Andreia com um forte abraço.

— Cuidarei e amarei com todas as minhas forças

Otávio também se despediu e os dois seguiram para o check-in.

Helena e Andreia voltaram ao carro. Andreia abaixou o teto da sua Maserati vermelha e dirigiu pela rodovia A 91. Alegres, as duas sorriam com os cabelos agitados pelo vento. Andreia começou a cantar uma canção de Laura Pausini, Il Viaggio Com Te.

Fim

Antônio Stegues
Enviado por Antônio Stegues em 20/10/2024
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