Assim nasceu o Círio de Nazaré

Na clara manhã de sol, daquela Belém do Grão Pará, no ano de 1700, após uma madrugada sangrenta de tempestade avulsa, entre as sombras das centenas  árvores características da região e dos diversos e exóticos pássaros,  a margem  do igarapé Murutucu, em baixo de um taperebazeiro, encoberta com trapadeiras, sobre pedras, descansava serena a imagem esculpida em madeira,  de nossa senhora, carregando o menino Jesus no colo,  quando o pescador, Plácido, em sua peregrinação rotineira para recolher peixes da  tapagem do igarapé ou ir em busca de  caça para alimentar a sua família deparou-se com aquela obra.

Ensandecido de ver ali no incomum do momento e do lugar aquela imagem, e sem ter qualquer resposta da origem.Como um garoto perdido de emoção, só encontrar algo fora do comum,  imediatamente a levou pra sua casa no pequeno vilarejo, a fazer-lhe um oratório.

Dizendo a sua companheira:

- Mulher,  fui buscar peixe na rede da tapagem do igarapé Murutucu e veja o que encontrei.

Ainda mais admirada ela perguntou:

- Meu Deus, Plácido, o que vais fazer?

E ele respondeu:

- Vou fazer um local para oração e a colocar aqui ao lado da nossa casa.

E ela respondeu:

- Enquanto você faz o altar vou avisar aos vizinhos.

E saiu para contar a novidade.

Em meio ao fuzue das pessoas humildes do local,  para quererem ver, a construção foi finalizada. E as primeiras adorações, através dos ribeirinhos, negros e índios começaram a se fazer.

Todavia,  noutro dia a imagem havia desaparecido do oratório feito por Plácido.

Todos ficaram preocupados e sem ter respostas para o ocorrido,  puseram-se a procurar pela mata nativa em vão.

Então Plácido, aquele humilde pescador desolado,  comentou:

- Poxa,  quando encontrei algo de valor desaparece.

Porém o povo do vilarejo o consolou dizendo:

- Não te preocupes,  vamos procurar até encontrar.

A notícia correu vilarejo a fora chegando ao Palácio do Governo, causando ali um novo  alvoroço.

No outro dia, como lhe era comum, ele  foi buscar peixe na tapagem do mesmo rio, que encontrou a imagem e lá,  para sua surpresa,  entre as folhagens e o orvalho da noite, no mesmo local anterior estava a imagem serena.

Plácido,  então estarrecido de alegria,  carregou-a no colo, como a encontrar algo perdido e a levou de volta ao oratório do vilarejo, onde já se encontrava, os políticos locais e as autoridades episcopais, que vendo a imagem a confiscaram dizendo:

- Pra o bem da comunidade,  vamos levar a imagem a um lugar seguro.

Assim , sob o subterfúgio de  evitar comentários, no mesmo dia construíram uma catedral pra imagem,  da qual ela também desapareceu, tornando o alarido mais significativo.

Plácido e a comunidade do vilarejo, quando souberam do fato seguiram pro local,  onde a imagem certamente estaria.

E lá como nas últimas vezes,  serena se encontrava.

Plácido  a carregou e disse:

- É desejo dela ficar aqui.

Quando as autoridades episcopais e políticas chegaram, querendo impor, o povo clamou:

- Acreditamos, pelos vários sumiços e retornos a esse ambiente,  que é desejo dela ficar aqui.

Sob os olhos do verdadeiro poder, o Estado e o Clero se renderam ao exposto.  Assim unindo forças construíram ali uma ermida.Ponto que deu início a romaria  e a adoração frívola de toda uma geração a ultrapassar os séculos.