Noite quente
É uma noite quente de domingo. O último cliente acabou de sair pela porta do apartamento no centro. Posso ouvir o barulho do velho elevador parando no andar.
Tiro meus óculos e com um lenço de papel eu limpo a lente pensando. Como todos os desavisados, os olhos da senhorita Raquel brilharam de medo quando saiu a carta da morte. Sempre há esse medo natural. A morte pedia o fim de algo. Algo precisava ser deixado para trás, enquanto ela andasse com aquilo sua vida não seguiria o curso. O que era ela não quis me falar, mas o arcano dos enamorados mostrava que ela estava confusa e insegura diante das escolhas. Foi o que imaginei e parecia que tinha acertado quando lhe falei.
Coloco os óculos e caminho até a janela. Ela pega um táxi e se afasta. Insegura, eu espero que ela consiga se libertar do que lhe aflige. Pego o maço de cigarro e o olho em minhas mãos. Pela sexta vez, hoje venci a tentação de fumar. Meu estômago dói. Fome.
Venci o cigarro. Mas perdi pra pizza. Saio para a pizzaria da esquina.
Maldita noite quente. Maldita vontade de fumar.