Mulher de barriga (Atualizada)
Aqui, parece que cai do céu, como se fossem pingos de chuva. Para todo lado que se olha, tem uma.
Tem filho como se fosse um cacho de banana: é às pencas, um atrás do outro. Reclama da dor do parto e da situação financeira, mas, no ano seguinte, lá estão elas de barriga de novo, esperando outro filho.
A vizinhança já nem se surpreende mais. "Lá vem a fulana de barriga de novo!", comenta entre cochichos, enquanto as barrigudas desfilam pela rua com aquele andar lento e desajeitado, típico de quem carregando outra criança em seu ventre.
Mesmo assim, por mais que reclamem, há sempre um brilho nos olhos deles quando seguram o recém-nascido. A dor do parto, que antes parecia insuportável, logo se transforma em esquecimento, pelo cheiro de pele nova.
"É o último, viu?", repete a cada nova gravidez. Mas a promessa nunca dura muito tempo. Um ano, talvez dois, e lá está a mulher novamente, barriga crescendo, sorrisos tímidos, como se já informam que a rotina se renova.
E lá seguem as barrigudas, cada uma com suas histórias, sonhos e dificuldades. Porque, no fundo, o que cai do céu não são só filhos, mas a esperança de que, no próximo ano, a vida vai melhorar. E, de alguma forma, mesmo com todas as dificuldades, essa é a única coisa que podemos acreditar.
E a esperança se espalha, como as barrigudas pela cidade. Cada uma carrega não só um filho, mas a promessa de um futuro, ainda que incerto.
Os vizinhos, que antes cochichavam, agora ajudam. Emprestam roupas de bebê, trocam dicas sobre cólicas e noites mal dormidas, enquanto riem das semelhanças entre suas vidas. A mulher de barriga, afinal, não é só um símbolo de reprodução, mas de comunidade, de união na adversidade.
O tempo passa. As crianças crescendo, aquela que um dia recuperava da dor do parto se vê ensinando a primeira lição de casa, levando o filho para a escola, enxugando as lágrimas da queda de bicicleta. A vida não é fácil, mas tem seus momentos doces, aqueles em que o choro do bebê se transforma nas primeiras palavras, nos primeiros passos.
No entanto, a rotina sempre insiste. Passa um ano, dois. E, um dia, lá está a mulher de barriga outra vez. O ciclo parece se repetir, mas, dessa vez, algo mudou. O marido, que antes se preocupava com as contas, segura a mão dela com um sorriso de felicidade. “A gente dá um jeito”.
Porque a vida segue, como chuva que cai do céu, regando a terra, enchendo de filhos as casas apertadas, mas também de histórias e memórias. Cada barriga, cada criança, é um pedaço de um futuro que ainda está se formando. E, enquanto houver esperança, mesmo que pequena, haverá sempre espaço para uma mulher de barriga.